Permanecemos calados. O homem de vigia aos registradores entoava a sua monótona litania: «Sikan, snik. Tsénan, snik. Ojan; snik….
De repente vimo-lo debruçar-se, perscrutar um registador:
«Asénan mislik: sen, tsi, séron, stell, sidon…».
O registo das irradiações Milsliks acabava de passar de O a 5. Para os Hiss o perigo começava a 7 e para os hr'ben a 6! Havia Milsliks na vizinhança, longe de qualquer planeta E isto era, em si mesmo, um perigo e uma ameaça.
No entanto, desta vez nada se passou — nada para nós. A irradiação decresceu.
Alguns minutos depois fomos alcançados pela onda luminosa. O kilsim tinha funcionado uma vez mais.
Passando para o ahun, pousamos no planeta dos kaïens, que nos servia de quartel-general. Um outro ksill gigante, que era comandado por Akéion, já lá estava.
De um dos lados do imenso campo de aterragem tinha nascido uma pequena cidade cosmopolita, que abrigava as equipes encarregadas da conservação dos ksills. Os kaïens mostravam-se amistosos, mas reservados.
Esperamos. Dois outros ksills e os meus comandantes vieram fazer os relatórios.
Tudo era normal. Cerca de cinquenta sóis já tinham sido reacendidos, mas, como observou Beichit, isso era apenas um fraco brilho na noite, em relação aos milhares de estrelas mortas das Galáxias Malditas.
O tempo passou. A noite caiu, a noite de Sswft. Os seis outros ksills não regressavam. Não ficamos muito inquietos, visto que o limite de tempo ainda não fora atingido. Jantamos e fomos dormir. De manhã os quatro enormes corpos dos nossos ksills ainda estavam sozinhos no terreno.
Lá para o meio da manhã pousou um pequeno ksill proveniente de Ella. Conduzia Assza. A sua visita fez-nos parecer o tempo mais curto. Mas quando, da noite, nenhum dos engenhos tinha ainda regressado, a inquietação começou a nos atormentar. De comum acordo, decidimos que Souilik, Assza e eu velaríamos.até de madrugada.
Nos instalamos no penúltimo andar da torre de controle, onde os Hiss tinham instalado um posto de vigia. Por cima das nossas cabeças ouvíamos os pesados passos do kaïen que assegurava o tráfego das aeronaves do seu próprio mundo.
Assza sentou-se diante do posto emissor e tentou entrar em contacto com os ksills no momento de sua aproximação do planeta, Mas tantos aparelhos de ondas sness como os de ondas hertzianas continuavam silenciosos. Cerca da meia-noite Souilik tomou o seu lugar..Sentado num confortável divã, eu adormecia lentamente. Tudo estava obscuro, salvo a fraca claridade verde das lâmpadas de controle De repente apareceu no écran o rosto lívido de um Hiss, Brissan, o comandante do ksill n° 8. Pronunciou algumas palavras entrecortadas e ininteligíveis, após o que o écran se apagou.
Completamente desperto, me levantei e me coloquei atrás de Souilik, que manobrava febrilmente os botões de controle O écran iluminou-se mais uma vez, mas continuou branco.
— Que se passa, Souilik? — perguntei.
— Não sei. Nada de bom, certamente.
— Vamos — interrompeu Assza.
Corremos ao andar superior. Nos olhos pedunculados do kaïen surgiu um clarão de hostilidade quando nos viu entrar, mas que desapareceu quando reconheceu Souilik.
A pedido de Assza, pôs a funcionar o detetor espacial — de resto, um modelo sinzu aperfeiçoado — e sondou o céu. Este detetor é uma espécie de radar, utilizando as ondas sness. No écran surgiu uma mancha que se deslocava rapidamente — O n° 8 — exclamou Souilik. — Estará aqui dentro de alguns minutos. Deve estar já na atmosfera.
Voltamos a descer. Um a um, os potentes projetores acendiam-se nos quatro cantos do terreno, não para o ksill, que deles não precisava, mas para uma astronave kaïen que regressava de uma viagem interplanetária. Chegou pouco depois, enorme massa ovoide e deselegante. Mal se tinha imobilizado, surgiu o nosso ksill. Mas, em vez de descer verticalmente, caía obliquamente para o solo. Com o rosto tenso, Souilik olhava através do vidro.
— Em que pensa aquele Brissan? É doido, ou julga que está pilotando um réob? Por todos os Milsliks! Vem muito depressa, de qualquer maneira! Muito depressa! Ssiüh! O enorme engenho acabava de tocar no solo com uma velocidade ainda a mais de mil quilômetros por hora. A terra abria-se, saltava e a poeira rolava em vagas pesadas sob a luz dos projetores. Através desta bruma amarelada vimos o ksill saltar, cair, saltar de novo. Depois passou sobre a pista como uma gigantesca roda. Tocou ligeiramente no ksill n° 2 — o de Akéion —, passou entre o n° 1 e o n° 3 e esbarrou contra a astronave kaïen.
Corríamos já. Lentamente, a poeira caía. Do n° 3 acorriam os Hiss e os Sinzus.
Passamos diante do n° 1 e, sempre correndo, vi Essine na minha esquerda e Ulna, Beichit, Souilik e Assza na minha direita. A toda a velocidade acorriam os veículos kaïens com as equipes de socorro.
A astronave ardia. Contra ela, com o casco torcido, desfeito, jazia o n° 8, com três quartas partes destruídas. A portinhola esquerda de saída estava aberta, mas ninguém aparecia. Entramos no corredor, amolgado, subimos pelos tetos caídos, deslocamos alguns cadáveres de Hiss e de Sinzus e penetramos no séall. A luz brilhante perdurava e do fundo do ksill estripado subia ainda o zumbido dos motores.
Havia sete homens no séall; seis dentre eles estavam mortos. Brissan ainda vivia.
Reconheceu Souilik e Assza e murmurou: «Atenção, os Milsliks contra-atacam».
Depois expirou.
Entre a desordem das instalações demolidas e de aparelhos arrancados Souilik encontrou, numa banqueta, o livro de bordo.
Saímos de novo, deixando o lugar para a equipagem do n°3, que, metodicamente, procurou os sobreviventes. Finalmente encontraram um, uma rapariga Kren, com os quatro membros partidos. Foi imediatamente transportada ao hospital da base.
A astronave continuava a arder. Não sei que substâncias os kaïens empregam para aqueles engenhos, mas é eminentemente combustível e produz um enorme calor.
Pouco a pouco, o fogo foi extinto; voltamos pra torre de controle e reuniu-se imediatamente um conselho de guerra.
Resumidamente, eis o que nos disse a leitura do livro de bordo: o kilsim fora colocado na superfície de uma estrela morta. O ksill tinha aguardado a boa distância a explosão, que não se produziu. Brissan esperou ainda durante um espaço de tempo cinco vezes maior do que a duração normal. Nem sequer se sonhava em regressar para verificar o kilsim. No momento em que Brissan ia dar ordem para se passar para o ahun o ksill fora rodeado por Milsliks. Os raios térmicos varreram a ameaça, mas já três Hiss tinham sido gravemente atingidos.
Então Brissan, de acordo com o seu estado-maior, cometeu uma imprudência. Em vez de regressar para a base, aproximara-se do último planeta do sistema, que regurgitava de Milsliks. Pôde observar, na superfície, colunas de um tipo mais complicado do que aquelas que outrora destruíramos em Sete, de Kalvénault. O kilsim, na superfície da estrela, continuava a não funcionar e Brissan julgara que os Milsliks haviam encontrado o meio de impedir o seu funcionamento. Isso fazia supor que tinham sido advertidos dos seus efeitos, pois que os Milsliks mantinham, por meios desconhecidos, relações ultra-rápidas de sistema a sistema solar.
Brissan queria regressar. Afastou-se do planeta, a fim de passar para o ahun.
Então começaram a chover, através do Espaço, blocos de metal e Milsliks mortos, que principiaram a bater no casco do ksill, bem menos espesso que o de Ulna-ten-Sillon. Se bem que muito danificado, o ksill passou para o ahun, mas metade dos motores e da aparelhagem não funcionavam. As últimas palavras escritas no livro de bordo eram: «Base a vista. Descemos muito depressa».