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— Sim, senhor, e nós vamos até lá. Veremos se os diabos resistem aos balaços.

— Cuidado! Vocês vão fazer asneira. Isto é um caso para policia. E, além disso, os tais diabos não fizeram mal a ninguém.

— Então porque é que se esconderam? Talvez sejam espiões russos disfarçados.

— Ou americanos — afirmou uma voz que eu reconheci como sendo a do contramestre das pedreiras de caulino.

— Então muito menos o caso diz respeito a vocês. É com a Segurança Territorial!

— Pois é! E enquanto eles não vêm nós vamos verificar! Não, nós vamos lá!

Tomei rapidamente uma decisão. Não podia pensar em explicar-lhes a verdade.

Mais urgente do que isso era prevenir os Hiss.

— Bem, então também eu vou. Irei na frente!

Antes que pudessem dizer fosse o que fosse, corri. A chuva começou a cair abundantemente. Ouvi gritos atrás de mim, mas não me detive; antes, pelo contrário, acelerei.

Finalmente, cheguei na clareira. Dela dimanava uma claridade esverdeada, proveniente de uma cúpula opalescente que se erguia no local onde estava o disco.

Que se passara? Afastei violentamente os arbustos e penetrei no espaço descoberto, onde a chuva caía com redobrada violência. Consegui tocar na base da cúpula e então compreendi: era a chuva a escorrer por uma superfície invisível de repulsão!

Os meus «amigos» Hiss tinham arranjado um guarda-chuva pouco vulgar!

Chamei, sem ousar elevar muito a voz, com receio de atrair a atenção dos «caçadores de diabos», que, então, já deviam estar no bosque. Ao cabo de alguns minutos surgiu uma abertura em seco, perante Souilik.

— Que há de novo? — transmitiu-me.

— Vocês vão ser atacados. Os meus compatriotas julgam-nos entes malfazejos. É necessário partirem imediatamente!

— Não poderemos partir antes de raiar o dia. Mas com o nosso essom. nada temos a temer.

Compreendi que essom era a barreira repulsiva.

— Na realidade, não podem partir? — perguntei, aborrecido com todas as complicações que previa avizinharem-se.

— Não. Os motores não estão completamente reparados e é muito perigoso passar para o ahun sem estarmos afastados do planeta. como em todas as ocasiões em que percebia que a transmissão de ideias não era possível, ele pronunciara a palavra. — o que é o ahun?

Não respondeu.

Essine, a «mulher», apareceu nesse momento e transmitiu-me:

— Entre no ksill.

Seguimo-la. Encontrei-me novamente na presença de Aass, o Hiss de alta estatura que já vira no laboratório. Pediu-me que repetisse o que já dissera e, depois, perguntou-me: — Quais são os meios de ataque no vosso planeta?

— São muito variados e alguns potentes (pensava na bomba atômica); mas os que vos ameaçam não são perigosos…

Fiz uma descrição mental da espingarda de caça. Aass exclamou:

— Nesse caso o perigo não é grande nem para eles nem para nós!

Lá fora ouviram-se alguns tiros e, a seguir, exclamações de desapontamento. Aass rodou um comutador. Com a luz extinta, toda uma parede da divisão pareceu desaparecer. Vi a clareira como se nela estivesse e como se fosse dia alto. A chuva tinha parado e na orla do bosque, no final da vereda, duas silhuetas humanas apontavam as espingardas. Quatro Hiss contemplavam-nos placidamente Os tiros foram disparados e ouviu-se o mesmo côro de desapontamento: as balas tinham mais uma vez esbarrado no círculo invisível. Podiam-se ver, suspensos no ar, imóveis, formando pequenos círculos negros.

Aass sussurrou algumas palavras a Essine. Ela saiu, e pouco depois todos os Hiss estavam dentro do aparelho.

Durante toda a noite trabalharam, agindo como se eu não estivesse presente.

Aliás, não procuraram esconder-me fosse o que fosse, e vi montarem alguns complicados aparelhos, dos quais não pude adivinhar nem o princípio, nem a utilidade.

CAPÍTULO II

A VIAGEM NO NADA

Quando uma aurora chuvosa rompeu a este, por cima do perfil negro das árvores, tudo estava pronto para a partida e os sitiantes mantinham-se no bosque. De vez em quando podiam ser vistos, se movendo entre os troncos umedecidos Deviam ter passado uma noite inconfortável, sob a chuva, ansiosos. Até eu estava inquieto, muito fatigado e perplexo: se não conseguisse sair do ksill sem ser visto, isso significaria para mim intermináveis semanas de interrogatórios, entrevistas, aborrecimentos de toda a ordem.

Pensava em tudo isso molemente, estirado numa poltrona, na divisão onde pela primeira vez tinha visto um Hiss vivo. Aass tocou-me no ombro:

— O que se passa? Você está emitindo há muito tempo ondas de inquietação.

Expliquei-lhe o que se passava em poucas palavras.

— Não é difícil. De um momento para o outro vamos partir. Deixaremos você um pouco mais longe, noutra clareira. Agradecemos ter vindo nos prevenir e, sobretudo, ter você tratado os nossos feridos.

Ficou uns instantes sem transmitir.

Não podemos pensar em lhe levar para Ella. A lei é formaclass="underline" nenhum contacto com planetas onde a guerra ainda exista. Lamento que assim seja. O seu mundo parece— me comportar, ao mesmo tempo, muito de selvageria e muito de civilização. Mais tarde, quando a humanidade de vocês se transformar, voltaremos. Talvez antes, se a ameaça dos Milsliks aumentar o suficiente para chegar a abolir a lei. A não ser que daqui até lá a humanidade daqui se tenha destruído a si própria, como as dos planetas Aour e Gen, do sol Ep-Han. Que nome dão vocês a este planeta?

— Terra — respondi —, pelo menos no meu país. Noutras paragens tem outros nomes, de acordo com a língua.

— Tserr — repetiu ele em voz alta. — É curioso. Na nossa língua essa palavra significa «violência», mas, também, «fôrça». Venha comigo.

Me conduziu até a secção dos aparelhos mais complicados. Nela estavam Souilik, Essine e uma outra «mulher».

— Vamos partir. Mas antes disso convém afastar os seus compatriotas. É muito perigoso estar próximo de um ksill que vai decolar.

Souilik manobrou algumas delicadas alavancas. Essine apagou a luz e a clareira surgiu desenhada na parede. Os camponeses continuavam teimosamente de sentinela atrás das árvores. Aass emitiu o curto assobio entrecortado que é o modo de rir dos Hiss.

— Repare bem — transmitiu-me ele.

Atrás de um nodoso tronco, tão nitidamente visível como se eu estivesse a três passos, apareciam uma aba de chapéu, um cano de espingarda e uns bigodes eriçados: o Tio Carrêre! Subitamente saltou de trás da árvore, com a cabeça para os pés, rolando entre o tojo e os arbustos, a espingarda pelo ar, gesticulando, vociferando maravilhosas pragas, em bom calão, que os aparelhos de escuta retransmitiram fielmente. Desapareceu atrás de uns castanheiros. A direita e a esquerda os seus companheiros tiveram a mesma sorte.

Aass deu uma ordem.

— Estão suficientemente longe. Vamos partir.

Não ouvi qualquer ruído, não senti a mínima vibração.

E, coisa que muito me surpreendeu, não notei a mínima sensação de aceleração.

O chão desapareceu rapidamente sob nós. Ainda vi a clareira com as marcas do ksill, assinaladas pelos arbustos partidos. Já estávamos longe.

— Há uma outra clareira a este, a pouca distância disse eu. — Poderão deixar-me lá.

Na ocasião em que os Hiss iam desaparecer da minha vida para sempre senti-me cheio de uma curiosidade intensa, devorado por um desejo de partir com eles, tremendo de raiva por um conjunto de circunstâncias estúpidas não me ter permitido saber mais coisas a seu respeito. Entretanto já se avistava a outra clareira, menor do que a do Magnou, mas bastante larga para uma aterragem. Descíamos com bastante velocidade.

Por acaso olhei nesse momento para o céu, através do écran, À nossa esquerda aproximavam-se, a grande velocidade, três pontos negros. Rapidamente compreendi o que se tratava: eram três dos novos caças a jato, da base de Périgueux, capazes de uma velocidade superior a 2.000 quilômetros por hora.