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Só segurar o vidro e a pedra relembrou Nicole vivamente da incrível visão que tivera no fundo do buraco em Rama II. Nicole abriu o vidro, respirou fundo duas vezes e engoliu precipitadamente o conteúdo. A princípio, pensou que nada estivesse acontecendo. O negror à sua volta não mudou. Mas, de repente, uma grande bola alaranjada formou-se no meio da cela. Ela explodiu e espalhou cor por toda a escuridão. Seguiu-se uma bola vermelha, depois uma púrpura. Quando Nicole recuou ante o brilho da explosão púrpura, ouviu um riso alto do lado de fora de sua janela. Olhou naquela direção.

A cela havia desaparecido. Nicole estava fora, em um campo.

Estava escuro, porém ela podia ver as silhuetas dos objetos. Bem distante, Nicole tornou a ouvir o mesmo riso. Amadou, chamou ela em sua mente. Nicole correu pelo campo em velocidade ofuscante. Ia apanhar o homem. Quando chegou perto, seu rosto mudou. Não era Amadou, era Omeh.

Ele tornou a rir e Nicole parou. Ronata, chamou ele. Seu rosto estava crescendo. Maior, maior, estava do tamanho de um carro, depois do tamanho de uma casa. Seu riso era ensurdecedor. O rosto de Omeh era um imenso balão que subia cada vez mais para dentro da noite. Ele riu mais uma vez e seu rosto de balão explodiu, jorrando água como um chuveiro sobre Nicole.

Ela estava encharcada, submersa, nadando debaixo da água. Quando emergiu, Nicole estava no lago do oásis na Costa do Ouro, onde, aos sete anos, ela enfrentara a leoa durante o Poro. A mesma leoa estava caminhando em volta do lago. Nicole era de novo uma menina. E estava muito assustada.

Eu quero minha mãe, pensou Nicole. Descansando, deitado, seja o sono abençoado, cantarolou. Nicole começou a sair da água. A leoa não a perturbou.

Ela lançou um olhar para o animal e o rosto da leoa passou a ser o de sua mãe.

Nicole correu e abraçou a mãe. Em lugar disso, Nicole virou a própria leoa, passeando na margem da lagoa no oásis no meio da savana africana.

Havia agora seis crianças nadando na lagoa. Enquanto a leoa Nicole continuava a cantar o Acalanto de Brahms, uma a uma as crianças foram saindo da água. Geneviève foi a primeira, depois Simone, Katie, Benjy, Patrick e Ellie. Um a um eles passaram por ela, a caminho da savana. Nicole saiu correndo atrás deles.

Ela estava correndo em uma pista em um estádio. Nicole era humana de novo, jovem e atlética. Seu pulo final foi anunciado. Quando se dirigiu à cabeceira da pista do salto triplo, um juiz japonês aproximou-se dela. Era Toshio Nakamura. Você vai queimar, disse ele com ar zangado.

Nicole pensou que estivesse voando ao se aproximar velozmente do ponto de salto. Pisou na marca com perfeição, alçou vôo no salto, deu uma pisada perfeita para o segundo e pulou velocíssima para a caixa de areia. Sabia que fora um bom salto. Nicole correu para onde deixara seu agasalho. Seu pai e Henry apareceram para abraçá-la. “Muito bom” disseram ambos em uníssono. “Muito bom, mesmo.”

Joana d’Arc levou-lhe a medalha de ouro no pódio e pendurou-a em torno do pescoço de Nicole. Eleonor da Aquitânia entregou-lhe uma dúzia de rosas.

Kenji Watanabe e o juiz Mishkin ficaram a seu lado e deram-lhe parabéns. O altofalante anunciou que seu salto era um novo recorde mundial. A multidão a aplaudia de pé. Nicole olhou para aquele mar de rostos e viu que não havia só humanos na multidão. A Águia estava lá, em um camarote especial, sentada ao lado de todo um grupo de octoaranhas. Todos a saudavam, até mesmo as aves e as criaturas esféricas com seus tentáculos parecendo teias de aranha, enquanto uma dúzia das enguias de capa se apertavam de encontro à janela de vasto aquário. Nicole acenou para todos. Seus braços transformaram-se em asas e ela começou a voar. Nicole era um falcão voando muito alto, acima das árvores de plantação do Novo Éden. Ela olhou lá embaixo para o prédio onde tinha ficado presa. Virando para oeste, Nicole localizou a fazenda de Max Puckett. Embora fosse noite, Max estava do lado de fora, trabalhando no que parecia ser uma ampliação de um de seus celeiros.

Nicole continuou a voar para oeste, na direção das brilhantes luzes de Vegas. Desceu quando chegou perto do complexo, voando atrás das grandes casas noturnas, uma a uma. Katie estava sentada do lado de fora, em uns degraus no fundo, sozinha. Tinha o rosto afundado entre as mãos, e todo o seu corpo sacudia. Nicole tentou consolá-la, porém o único som foi o grito de um falcão, e Katie olhou para o alto, perplexa.

Voou depois para Positano, perto da saída do habitat, e esperou que a porta externa se abrisse. Assustando o guarda, Nicole deixou o Novo Éden.

Chegou a Avalon em menos de um minuto. Robert, Ellie, até a pequena Nicole e uma auxiliar de enfermagem estavam todos na sala de visitas, com Benjy na enfermaria. Nicole não tinha idéia por que eles estariam acordados no meio da noite. Gritou para eles e Benjy chegou na janela e olhou para a escuridão.

Nicole ouviu uma voz que a chamava. Muito fraca, vinha de muito longe, ao sul. Voou rapidamente até o segundo habitat, entrando pelo buraco aberto que os humanos haviam cavado na parede externa. Depois de passar muito depressa pelo anel e descobrir uma porta, pairou acima da região verde no interior. Não ouvia mais a voz, mas conseguiu ver seu filho Patrick acampado com outros soldados perto da base do cilindro marrom.

Uma ave com quatro círculos azul-cobalto foi encontrar com ela no ar. Ele não está mais aqui, disse ela. Tente Nova York. Nicole saiu rapidamente do segundo módulo e voltou à Planície Central. Tornou a ouvir a voz. Subindo cada vez mais, o falcão Nicole já quase não conseguia respirar.

Voou para o sul por cima da parede perimetral que envolvia o Hemicilindro Norte. O Mar Cilíndrico estava embaixo dela. A voz ficou mais distinta. Era Richard. Seu coração de falcão bateu furiosamente.

Ele estava de pé na orla, na frente dos arranha-céus, acenando para ela.

Venha até mim, Nicole, dizia sua voz. Ela podia ver os olhos dele até mesmo no escuro. Nicole desceu e pousou no ombro de Richard.

Só havia negror à volta dela. Nicole estava de volta à sua cela. Seria um pássaro que ouvira voando logo fora de sua janela? Seu coração ainda trepidava.

Ela cruzou o pequeno quarto. Obrigada, Amadou, disse ela. Ou Omeh, sorriu. Ou Deus.

Nicole estendeu-se em sua cama. Alguns segundos mais tarde, já estava dormindo.

FIM