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Leslie franziu o rosto.

- Querido, você não precisa disso. Nós não precisamos. E pode ser perigoso. - Ela hesitou. - Você usa com freqüência?

Oliver riu.

- Para ser franco, não. Tire essa expressão do rosto. Um amigo me deu isto e sugeriu que eu experimentasse. Esta seria a primeira vez.

- Não vamos ter a primeira vez - disse Leslie.

- Pretende jogar fora?

- Claro que sim.

Ele foi para o banheiro e, um instante depois, Leslie ouviu o barulho da descarga da latrina. Oliver voltou.

- Pronto. - Ele sorriu.

- Quem precisa de ecstasy num vidro? Tenho numa embalagem muito melhor.

E ele a abraçou.

Leslie lera histórias de amor e ouvira canções de amor, mas nada a preparara para essa realidade incrível. Sempre pensara que as letras românticas eram bobagens sentimentais. Sonhos irreais. Sabia melhor agora. O mundo parecia subitamente mais brilhante, mais belo. Tudo era impregnado de magia, e o mágico era Oliver Russell.

Numa manhã de sábado, Oliver e Leslie faziam uma excursão a pé pelo Breaks Interstate Park, apreciando a paisagem espetacular que os cercava.

- Nunca estive nesta trilha antes - comentou Leslie.

- Acho que você vai gostar.

Estavam se aproximando de uma curva fechada no caminho. Ao saírem da curva, Leslie parou, atordoada. No meio do caminho havia uma placa de madeira pintada a mão LESLIE, QUER CASAR COMIGO? O coração de Leslie disparou. Ela virou-se para Oliver incapaz de falar. Ele abraçou-a.

- Quer?

Como tive tanta sorte?, perguntou-se Leslie.

Ela apertou-o com força e sussurrou:

- Claro que quero, querido.

- Infelizmente, não posso prometer que vai casar com um governador, mas sou um bom advogado.

Ela se aninhou nos braços dele e murmurou:

- Isso é mais do que suficiente.

Poucas noites depois, Leslie se vestia para jantar com Oliver quando ele telefonou.

- Querida, sinto muito, mas acabo de receber uma notícia. Tenho de comparecer a uma reunião esta noite, e por isso serei obrigado a cancelar o nosso jantar. Você me perdoa?

Leslie sorriu.

- Está perdoado.

No dia seguinte, Leslie pegou o State Journal e leu a manchete: CORPO DE MULHER ENCONTRADO NO RIO KENTUCKY. A notícia dizia: "No início desta manhã, a polícia encontrou no rio Kentucky, quinze quilômetros a leste de Lexington, o corpo de uma mulher nua, que parecia ter vinte e poucos anos. Está sendo efetuada uma autópsia para determinar a causa da morte..."

Leslie estremeceu, enquanto lia o texto. Morrer tão jovem! Será que ela tinha um amante? Um marido? Como me sinto grata por estar viva, tão feliz e tão amada!

Parecia que todos em Lexington só falavam sobre o iminente casamento. Lexington era uma cidade pequena e Oliver Russell, uma figura popular. Formavam um casal de aparência espetacular, Oliver moreno e bonito, Leslie com rosto e corpo adoráveis, os cabelos cor de mel. A notícia se espalhara como fogo em mato seco.

- Espero que ele saiba como é afortunado - comentou Jim Bailey

para Leslie, que sorriu.

- Ambos somos afortunados.

- Vão procurar um juiz de paz para casar?

- Não. Oliver quer um casamento formal. Vamos casar na Capela do Calvário.

- E quando vai ocorrer o feliz evento?

- Daqui a seis semanas.

Poucos dias depois, uma notícia na primeira página do State Journal dizia o seguinte: "A autópsia revelou que a mulher encontrada no rio Kentucky, identificada como Lisa Burnette, uma secretária, morreu de overdose de uma droga ilegal e perigosa conhecida nas ruas como ecstasy líquido..."

Ecstasy líquido. Leslie recordou a noite com Oliver. E pensou: Ainda bem que ele jogou fora o que havia no vidro. As semanas subseqüentes foram preenchidas pelos frenéticos preparativos para o casamento. Havia muita coisa a fazer. Foram enviados convites para duzentas pessoas.

Leslie escolheu a dama de honra e selecionou o vestido dela, com o comprimento de um traje de bailarina, sapatos combinando e luvas para complementar a extensão das mangas. Para si mesma, ela foi até a Fayette Mall, na Nicholasville Road, e escolheu um vestido longo, com saia rodada e uma ampla cauda, sapatos para combinar com vestido e luvas compridas.

Oliver encomendou uma casaca preta, com calça listrada, colete cinza, camisa branca de colarinho de ponta virada e uma gravata Ascot listrada. O padrinho era um advogado de sua firma.

- Está tudo preparado - informou Oliver a Leslie. Já tomei as providências necessárias para a recepção. Quase todos aceitaram o convite.

Leslie sentiu um pequeno calafrio percorrer seu corpo.

- Mal posso esperar, meu querido.

Numa noite de quinta-feira, uma semana antes do casamento Oliver foi ao apartamento de Leslie.

- Infelizmente, Leslie, surgiu uma emergência. Um amigo meu está com um problema. Terei de voar até Paris para resolver tudo.

- Paris? Por quanto tempo ficará ausente?

- Não deve levar mais que dois ou três dias, quatro no máximo. Voltarei com tempo de sobra.

- Diga ao piloto para voar com todo cuidado.

- Prometo.

Depois que Oliver se retirou, Leslie pegou o jornal na mesa. Sem pensar, abriu na página do horóscopo de Zoltaire onde leu:

PARA LEÃO (23 DE JULHO A 22 DE AGOSTO). ESTE NÃO É UM BOM DIA PARA MUDAR DE PLANOS. ASSUMIR RISCOS PODE LEVAR A GRAVES PROBLEMAS. Ela tornou a ler o horóscopo, perturbada. Quase que se sentiu tentada a telefonar para Oliver e lhe pedir que não viajasse. Mas isso seria ridículo, pensou ela. Afinal, é apenas um horóscopo idiota.

Na segunda-feira, Leslie não teve qualquer notícia de Oliver. Telefonou para o escritório dele, mas o pessoal de lá também não sabia de nada. Também não houve notícia na terça-feira. Leslie começou a entrar em pânico. Às quatro horas da madrugada de quarta-feira ela foi acordada pela insistente campainha do telefone. Sentou-se na cama e pensou: É Oliver! Graças a Deus! Sabia que deveria se mostrar zangada com ele por não ter lhe telefonado antes, mas isso não tinha importância agora.

Ela atendeu.

- Oliver...

Uma voz de outro homem indagou:

- É Leslie Stewart quem está falando? Ela sentiu um súbito calafrio.

- Quem... quem é você?

- Al Towers, da Associated Press. Acabamos de receber uma informação, srta. Stewart, e queríamos saber sua reação.

Alguma coisa terrível acontecera. Oliver morrera.

- Srta. Stewart?

- Pois não?

A voz de Leslie era um sussurro estrangulado.

- Podemos divulgar uma declaração sua?

- Uma declaração sobre o quê?

- Sobre Oliver Russell casar com a filha do senador Todd Davis, em Paris.

Por um instante, o quarto pareceu girar.

- Era noiva do sr. Russell, não é mesmo? Se pudermos divulgar uma declaração...

Leslie estava imóvel, congelada.

- Srta. Stewart? Ela recuperou a voz.

- Pois não... eu... desejo felicidade a ambos.

Leslie desligou, atordoada. Era um pesadelo. Despertaria dentro de poucos minutos e descobriria que não passava de um sonho.

Mas não era um sonho. Ela fora abandonada de novo. Seu pai não voltará. Leslie foi para o banheiro e contemplou sua imagem pálida no espelho. Acabamos de receber uma informação. Oliver casara com outra. Por quê? O que eu fiz errado? Em que lhe falhei? Mas, lá no fundo, ela sabia que fora Oliver quem lhe falhara. Ele se fora.

Como ela poderia encarar o futuro?

Quando Leslie entrou na agência, naquela manhã, todos fizeram o maior esforço para não fitá-la. Ela foi para a sala de Jim Bailey. Um único olhar para seu rosto pálido e ele disse:

- Não deveria ter vindo hoje, Leslie. Por que não vai para casa e...

Ela respirou fundo.

- Não, obrigada. Estarei bem.

Os noticiários de rádio e televisão e os jornais da tarde relataram com detalhes o casamento em Paris. O senador Todd Davis era sem dúvida o cidadão mais influente do Kentucky e a história do casamento de sua filha, com o noivo rompendo de repente com Leslie, era uma grande notícia.