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Os telefones no escritório de Leslie não paravam de tocar.

- Aqui é do Courier Journal, srta. Stewart. Poderia nos dar uma declaração sobre o casamento?

- Claro. A única coisa que me importa é a felicidade de Oliver Russell.

- Mas vocês dois iam...

- Nosso casamento teria sido um erro. A filha do senador Davis chegou na vida dele primeiro. Obviamente, ele nunca a esqueceu. Desejo o melhor possível para ambos.

- Aqui é do State Journal, de Frankfort...

Parecia interminável.

Leslie tinha a impressão de que metade de Lexington se compadecia de sua situação, enquanto a outra metade se regozijava pelo que lhe acontecera. Aonde quer que Leslie fosse, havia murmúrios e conversas interrompidas abruptamente. Ela estava determinada a não demonstrar seus sentimentos.

- Como pôde deixar que ele fizesse isso...?

- Quando você ama um homem de verdade, só quer a sua felicidade. Oliver Russell é o melhor ser humano que já conheci. Quero que ambos sejam felizes.

Ela enviou bilhetes de desculpas a todas as pessoas convidadas para o casamento e devolveu os presentes.

Leslie vinha esperando e ao mesmo tempo receando o telefonema de Oliver. Ainda assim, ela estava despreparada quando aconteceu. Ficou abalada pelo som familiar de sua voz.

- Leslie... não sei o que dizer.

- É verdade, não é?

- É, sim.

- Então não há nada a dizer.

- Eu só queria explicar como aconteceu. Antes de conhecer você, Jan e eu estávamos quase noivos. E quando tornei a vê-la, eu... eu compreendi que ainda a amava.

- Eu entendo, Oliver. Adeus.

Cinco minutos depois, a secretária de Leslie avisou pelo interfone:

- Há uma ligação na linha um, srta. Stewart.

- Não quero falar ...

- É o senador Davis.

O pai da noiva. O que ele quer comigo?, especulou Leslie. Ela pegou o telefone. Uma voz profunda, com sotaque sulista, disse:

- Srta. Stewart?

- Pois não?

- Acho que nós dois devemos ter uma conversinha.

Leslie hesitou.

- Senador, não sei o que...

- Estarei aí para pegá-la dentro de uma hora.

A linha ficou muda.

Exatamente uma hora depois, uma limusine parou na frente do prédio em que Leslie trabalhava. Um motorista abriu a porta do carro para ela. O senador Davis estava sentado no banco traseiro. Era um homem de aparência distinta, com cabelos brancos lisos, um bigode pequeno e impecável. Tinha o rosto de um patriarca. Mesmo no outono, vestia o terno branco que era a sua marca registrada, com um chapéu de palha de Livorno de aba larga. Era uma figura clássica de um século anterior, um antiquado cavalheiro sulista. Quando Leslie entrou no carro, o senador Davis disse:

- Você é uma jovem muito bonita.

- Obrigada - murmurou ela, tensa.

A limusine partiu.

- Não falei apenas no sentido físico, srta. Stewart. Venho acompanhando a maneira como tem enfrentado todo esse caso sórdido. Deve ter sido angustiante para você. Não pude acreditar na notícia quando a ouvi. - A voz estava impregnada de raiva. - O que aconteceu com a boa e velha moral? Para dizer a verdade, estou revoltado com Oliver por tê-la tratado de uma maneira tão vergonhosa. E estou furioso com Jan por ter casado com ele. De certa forma, sinto-me culpado, porque ela é minha filha. Os dois se merecem.

Ele tinha a voz embargada pela emoção. Rodaram em silêncio por algum tempo. Quando Leslie finalmente se manifestou, foi para dizer:

- Conheço Oliver. Tenho certeza de que ele não teve intenção de me magoar. O que aconteceu... simplesmente aconteceu. Só quero o melhor para ele. Oliver merece, e eu não faria coisa alguma para prejudicá-lo.

- É muita generosidade sua. Ele estudou-a por um momento.

- É mesmo uma jovem extraordinária.

A limusine parara. Leslie olhou pela janela. Haviam chegado a Paris Pike, no Kentucky Horse Center. Havia mais de uma centena de haras em Lexington e em seus arredores, e o maior de todos pertencia ao senador Davis. Até onde a vista podia alcançar, havia cercas de tábuas brancas, padoques brancos com frisos vermelhos e campos ondulantes do capim azulado do Kentucky.

Leslie e o senador Davis saíram do carro e foram até a cerca da pista de corridas. Ficaram parados ali, observando os lindos animais se exercitarem. O senador Davis virou-se para Leslie.

- Sou um homem simples - murmurou ele.

- Sei como isso deve lhe parecer, mas é a verdade. Nasci aqui, e poderia passar o resto da minha vida aqui. Não há lugar igual no mundo. Basta olhar ao redor, srta. Stewart. Isto é tão perto quanto jamais poderemos chegar do paraíso. Pode me culpar por não querer deixar tudo isso? Mark Twain disse que queria estar no Kentucky quando o fim do mundo chegasse, porque há sempre um atraso por aqui de uns vinte anos. Passei a metade da minha vida em Washington, e detesto aquela cidade.

- Então por que aceita ir para lá?

- Porque tenho um senso de obrigação. Nosso povo me elegeu para o Senado e, até que me tirem através do voto, continuarei por lá tentando fazer o melhor trabalho que puder - Ele fez uma pausa, depois mudou de assunto abruptamente.

- Quero que saiba o quanto admiro seus sentimentos e a maneira como se comportou. Se quisesse ser desagradável, creio que poderia ter provocado um escândalo e tanto. Mas como aconteceu... eu gostaria de demonstrar meu agradecimento.

Leslie virou-se para fitá-lo.

- Pensei que poderia gostar de escapar por algum tempo, fazer uma pequena viagem ao exterior. Claro que eu arcaria com toda...

- Por favor, não faça isso.

- Eu só estava...

- Eu sei. Não conheço sua filha, senador Davis, mas se Oliver a ama, ela deve ser muito especial. Espero que os dois sejam felizes.

Ele disse, contrafeito:

- Acho que deve saber que eles estão de volta para casar aqui de novo. Em Paris foi uma cerimônia civil, mas Jan quer agora um casamento na igreja.

Era uma pontada no coração.

- Entendo. Mas eles não têm nada com que se preocupar.

- Obrigado.

O casamento ocorreu duas semanas depois, na Capela do Calvário, o mesmo lugar em que Leslie e Oliver haviam planejado casar. A igreja ficou lotada.

Oliver Russell, Jan e o senador Todd Davis ficaram de pé diante do ministro, no altar. Jan Davis era uma morena atraente, com uma presença imponente e um ar aristocrático.

O ministro se aproximava do final da cerimônia:

- Deus destinou homem e mulher a se unirem no sagrado matrimônio, e à medida que vocês seguirem juntos pela vida...

A porta da igreja foi aberta, e Leslie Stewart entrou.

Permaneceu lá no fundo por um momento, escutando, depois foi até o último banco, onde ficou de pé. O ministro dizia:

- ...portanto, se alguém sabe de algum motivo para que este casal não deva ser unido no sagrado matrimônio, que fale agora ou se cale... - ele levantou os olhos e avistou Leslie. ...para sempre.

Quase que numa reação involuntária, cabeças se viraram na direção de Leslie. Sussurros se espalharam pela multidão. Muitas pessoas sentiram que estavam prestes a testemunhar uma cena dramática. Uma súbita tensão dominou a igreja. O ministro esperou mais um instante, depois limpou a garganta, nervoso.

- Sendo assim, pelo poder que me foi investido, eu os declaro agora marido e mulher.- Havia um tom de profundo alívio em sua voz.

- Pode beijar sua esposa.

Quando o ministro tornou a levantar os olhos, Leslie já havia desaparecido.

O registro final no diário de Leslie Stewart dizia o seguinte:

“Querido Diário: Foi um lindo casamento. A esposa de Oliver é muito bonita. Usava um adorável vestido de noiva branco, em renda e cetim, com uma blusa frente-única e um bolero. Oliver parecia mais bonito do que nunca. E dava a impressão de estar muito feliz. Eu me sinto satisfeita, porque antes de acabar com ele, vou fazê-lo desejar nunca ter nascido”.