Kelly virou-se para Diane e ficou a olhar espantada, pois esta acenara alegremente primeiro a Flint e depois a Carballo.
- Ficou maluca? - perguntou baixinho.
Diane, sempre a sorrir, tirou o celular para fora a e começou a falar rapidamente.
- Neste momento, estamos mesmo em frente do hotel... Oh! Excelente. Já estão na esquina? - E sorriu e acenou vitoriosamente para Kelly e disse em voz alta. - Eles vão chegar dentro de um minuto.
Olhou para Flint e para Carballo e falou para o telefone:
- Não, são só dois. - E ficou a ouvir. Em seguida riu:
- Certo... Já aí estão? Óptimo.
Enquanto Kelly e os dois homens olhavam para ela, Diane desceu do passeio para a rua, a observar os carros que passavam. Começou a fazer sinais a um carro que se aproximava à distância e ia acenando cada vez mais agitada. Flint e Carballo tinham parado, intrigados com o que viam.
Diane apontou para os dois homens:
- Ali! - gritou para o trânsito que passava, continuando a acenar furiosamente. - Ali!
Flint e Carballo olharam um para o outro e tomaram uma decisão. Viraram-se na direcção de onde tinham vindo e desapareceram no meio da multidão.
Kelly olhava fixamente para Diane, o coração aos saltos dentro do peito.
- Eles foram-se embora - disse. - Com quem... com quem falava?
Diane respirou fundo para se recompor.
- Com ninguém. Estou sem bateria.
CAPÍTULO 28
Kelly olhava fixamente para Diane, sem palavras.
- Mas você foi espantosa. Quem me dera ter pensado nisso.
- Vai pensar - respondeu secamente Diane.
- E agora, o que é que vai fazer?
- Vou sair de Manhattan.
- Mas como? - perguntou Kelly. - Eles vão vigiar todas as estações de comboios, os aeroportos, as camionetas e as empresas de aluguel de automóveis...
- Podemos ir até Brooklyn - alvitrou Diane depois de pensar um pouco. - Aí, não nos vão procurar.
- Óptimo. Então, vá andando - respondeu Kelly.
- Como?
- Eu não vou consigo.
Por segundos, pareceu que Diane ia dizer qualquer coisa, mas em seguida mudou de idéias.
- Tem a certeza?
- Tenho sim, senhora Stevens.
- Muito bem - respondeu Diane. - Então adeus.
- Adeus.
Kelly ficou a ver enquanto Diane fazia sinal a um táxi e entrava nele. Kelly ali estava, hesitante, a tentar decidir-se. Estava sozinha, numa rua desconhecida, sem nenhum lugar para onde ir, nem ninguém à sua espera.
- Espere! - gritou. O táxi parou e Kelly correu para ele. :
Diane abriu a porta e Kelly entrou e sentou-se.
- O que a fez mudar de idéias?
- De repente lembrei-me que nunca fui a Brooklyn.
Diane olhou para Kelly e abanou a cabeça.
O motorista perguntou:
- Para onde?
- Leve-nos até Brooklyn, por favor - pediu Diane.
O táxi começou a andar.
- Algum lugar em especial?
- Vá andando.
Kelly olhava para Diane, incrédula.
- Não sabe para onde vamos?
- Não se preocupe. Quando lá chegarmos, eu saberei.
Mas porque é que eu voltei ?, interrogava-se Kelly.
Durante a viagem, as duas sentaram-se silenciosamente lado a lado. Ao fim de vinte minutos estavam a atravessar a ponte de Brooklyn.
- Andamos à procura de um hotel - disse Diane ao motorista. - Não sei qual...
- Minha senhora, quer um hotel simpático? Eu conheço um. Chama-se Adams. Tenho a certeza de que vão gostar.
O Adams Hotel era um edifício de cinco andares com um avançado na frente e um porteiro à entrada.
Quando o táxi chegou à curva, o motorista perguntou: - Que tal lhes parece?
- Parece-nos bem - respondeu Diane.
Kelly não fez comentários.
Saíram do táxi e o porteiro saudou-as.
- Bom dia, minhas senhoras. Vão-se hospedar?
- Sim - respondeu Diane.
- E têm bagagem?
- A companhia de aviação perdeu as nossas bagagens - respondeu Diane sem hesitar. - Conhece algum lugar aqui perto onde possamos comprar umas roupas?
- Ali ao fundo do quarteirão há uma loja de roupa de senhora bastante boa. Talvez prefiram registar-se primeiro e nós depois mandamos as vossas coisas para cima.
- Óptimo. Acha que têm quarto?
- Nesta época do ano, não há problema.
O recepcionista deu-lhes as fichas para preencherem. Enquanto Kelly assinava a sua, disse alto "Emily Brontê".
Diane olhou rapidamente para o recepcionista para ver se ele reagia.
Nada. E Diane escreveu "Mary Cassat".
O empregado recebeu as duas fichas e perguntou:
- Como vão pagar? Com cartão de crédito?
- Sim. Nós...
- Não - interrompeu Diane rapidamente.
Kelly ficou a olhar para ela e com relutância concordou.
- Têm bagagem?
- Vai chegar. Nós já voltamos.
- Suite número 515.
O empregado ficou a olhar para elas, enquanto saíam a porta. Duas belezas. E sozinhas. Que desperdício.
A loja For Madame era um manancial. Havia roupas de senhora de todos os tipos e uma secção de couros com carteiras e malas.
- Parece que acertámos em cheio - comentou Kelly depois de olhar em volta.
Uma vendedora aproximou-se delas.
- Posso ajudar?
- Estamos só a ver - respondeu Diane.
A vendedora olhava enquanto cada uma delas tirava um carrinho de compras e partia pela loja.
- Olha! - exclamou Kelly. - Meias! - E agarrou numa meia dúzia de pares. Diane seguiu-lhe o exemplo.
- Collants...
- Sutiãs.
- Cuecas.
Depressa os seus carrinhos começaram a transbordar de lingerie. A vendedora trouxe solicitamente outros dois carrinhos.
- Eu ajudo.
- Muito obrigada. .
Diane e Kelly começaram a encher os novos carros. !
Kelly examinava um expositor com calças. Escolheu quatro pares e virou-se para Diane:
- Nunca se sabe quando teremos oportunidade de voltar a fazer compras.
Diane escolheu algumas calças e um vestido de verão de riscas.
- Não vai poder usar isso - disse Kelly. - As riscas vão fazer com que pareça gorda.
Diane ia a repor o vestido no expositor, depois olhou para Kelly e deu o vestido à vendedora:
- Vou levar este.
A empregada olhava espantada enquanto Diane e Kelly vasculhavam tudo, expositor por expositor. Quando deram a sua busca por terminada, o que tinham escolhido encheu quatro malas.
Kelly olhou para elas e sorriu.
- Acho que nos vai chegar por uns tempos.
Quando chegaram junto da caixa para pagar, a vendedora perguntou:
- Vão pagar em dinheiro ou com cartão de crédito?
- Cartão...
- Dinheiro - interrompeu Diane.
Kelly e Diane abriram as bolsas e dividiram a conta. Ambas tiveram o mesmo pensamento Estamos a ficar sem dinheiro.
- Nós estamos instaladas no Hotel Adams. Será que podiam...? - perguntou Kelly à caixa:
- Entregar as vossas coisas? Mas com certeza. Os vossos nomes, por favor?
Kelly hesitou uns segundos:
- Charlotte Brontè.
Diane olhou para ela e corrigiu rapidamente: - Emily. Emily Brontê.
- É isso - lembrou-se Kelly.
A caixa olhava para elas com um ar espantado. Em seguida virou-se para Diane:
- E o seu?
- Eu... bem, eu... - Diane pensava a toda a velocidade. Qual fora o nome que dera? Georgia O'Keeffe... Frida Kahlo... Joan Mitchell?
- O nome dela é Mary Cassatt - interveio Kelly.
- Com certeza - respondeu a empregada engolindo em seco.
Ao lado da For Madame havia uma drugstore.
- Hoje é o nosso dia de sorte - comentou Diane sorrindo.
Entraram apressadamente e deram início a uma segunda voragem de compras.
- Rímel.
- Blush.
- Escovas de dentes.
- Pasta de dentes.
- Tampões e pensos diários.
- Batons.
- Ganchos para o cabelo.
- Pó.
Quando Diane e Kelly regressaram ao hotel, as quatro malas já tinham sido entregues no quarto. Kelly ficou a olhar para elas.