Kelly? Que bom que a apanho. - Era Tanner quem falava, mas era a voz de Diane Stevens que eles ouviam.
- Diane! Apanhou-me mesmo a tempo. Estou prestes a sair daqui para fora.
Flint e Carballo ouviam, maravilhados.
- Kelly, para onde vai?
- Vou para Chicago. Vou apanhar um avião para casa, de O'Hare.
- Kelly, não pode ir embora.
Houve um silêncio e em seguida:
- Porquê?
- Porque eu finalmente descobri o que se estava a passar. Já sei quem matou os nossos maridos e porquê.
- Oh, meu Deus! Mas como foi... Tem a certeza?
- Absoluta. Tenho todas as provas de que possamos precisar.
- Diane, isso é maravilhoso.
- Tenho as provas comigo. Estou no Delmont Hotel, na Penthouse A. Daqui vou ao FBI. E queria que viesse comigo, mas se tem mesmo que voltar para casa, compreendo.
- Não! De forma nenhuma. Eu quero terminar aquilo que Mark estava a tentar fazer.
Flint e Carballo ouviam cada palavra, fascinados. Ao fundo, ouvia-se o anúncio do autocarro para Chicago.
- Eu vou consigo, Diane. Disse que era o Delmont Hotel?
- Sim. Fica na Eighty-sixth Street. Penthouse A.
- Vou a caminho. Encontramo-nos daqui a pouco.
A ligação foi cortada. Tanner virou-se para Flint e Carballo.
- Metade do problema está resolvido. Agora vamos tratar da outra parte.
E Flint e Carballo observavam enquanto Tanner inseria um CD com o nome de Kelly Harris no sintetizador. Tanner moveu um interruptor no telefone e marcou uns números.
A voz de Diane surgiu quase imediatamente.
- Alô?
Tanner falou no telefone, mas era a voz de Kelly que se ouvia.
- Diane...
- Kelly! Está tudo bem?
- Está tudo muito bem. Tenho excitantes notícias. Descobri quem matou os nossos maridos e porquê.
- O quê? Mas quem... Quem...?
- Não podemos falar disto ao telefone, Diane. Estou instalada no Delmont Hotel, na Eighty-sixth Street. Penthouse A. Pode vir cá ter comigo?
- Mas é claro. Vou já.
- Excelente, Diane. Fico à espera.
E Tanner desligou e virou-se para Flint:
- Tu é que vais estar à espera! - Deu uma chave a Flint. - Esta é a chave da Penthouse A. É uma suite da empresa. Vai imediatamente para lá e espera por elas. Quero que as mates assim que entrarem a porta. Eu depois trato dos corpos.
Carballo e Tanner viram Flint sair apressadamente pela porta.
- E eu, o que quer que eu faça, senhor Tanner? - perguntou Carballo.
- Tu encarregas-te de Saida Hernandez.
Dentro da suite, à espera, Flint estava determinado a não deixar que, daquela vez, alguma coisa corresse mal. Ouvira falar sobre o que Tanner fazia aos que lhe atrapalhavam a vida. Comigo não, pensou. Pegou na arma, verificou o carregador e aplicou o silenciador. Agora só lhe restava esperar.
Num táxi, a seis quarteirões do hotel, Kelly pensava excitadamente no que Diane lhe dissera. Descobri finalmente o que se estava a passar. Já sei quem matou os nossos maridos e porquê. Tenho todas as provas de que possamos precisar. Mark, finalmente vou fazer com que paguem por aquilo que te fizeram.
Diane estava febril de impaciência. O pesadelo chegava ao fim. Kelly descobrira de alguma forma quem estava por detrás de toda aquela trama para as matar e tinha provas. Richard, vou fazer com que te sintas orgulhoso de mim. Sinto-te perto e...
Os seus pensamentos foram interrompidos pelo motorista do táxi.
- Chegámos, minha senhora. Delmont Hotel.
CAPÍTULO 30
Enquanto Diane atravessava o átrio do Delmont Hotel em direcção aos elevadores, o seu coração começou a bater aceleradamente. Estava ansiosa por ouvir o que Kelly tinha para lhe contar.
A porta de um dos elevadores abriu-se e várias pessoas saíram.
- Sobe?
- Sim. - Diane entrou. - Para a Penthouse, por favor.
Pensava velozmente Mas em que projecto estavam os nossos maridos envolvidos que era tão secreto que acabaram por serem mortos? E como foi que Kelly o conseguiu descobrir?.
O elevador encheu. A porta foi fechada e começou a subir. Diane vira Kelly ainda há umas horas atrás, mas, para seu espanto, percebeu que estava com saudades dela.
Ao fim de uma meia dúzia de paragens, o rapaz do elevador abriu a porta e disse:
- Penthouses.
Na sala de estar da Penthouse A, Flint aguardava junto da porta, tentando ouvir os sons que vinham do corredor. O problema é que a porta era bastante grossa e Flint sabia porquê. Não era para evitar que o som de fora se ouvisse no interior. Era para evitar que o som do interior se ouvisse lá fora.
Era naquela Penthouse que tinham lugar as reuniões de administração, mas Flint costumava brincar e dizer que ali nunca ninguém se aborrecera. Três vezes por ano, Tanner convidava alguns directores do KIG de uma dúzia de países. Quando os assuntos agendados terminavam, era trazido um enxame de lindíssimas jovens para divertir os convidados. Flint várias vezes ficara de guarda nessas orgias e agora, ali de pé, relembrava o mar de corpos nus, de gemidos e de libertinagem que se desenrolava, pelas camas e sofás, e imediatamente sentiu uma erecção. Sorriu. Em breve as senhoras resolveriam a situação.
Quando Diane ia a sair do elevador, perguntou ao rapaz:
- Para que lado fica a Penthouse A?
- No lado esquerdo do elevador, mas não está lá ninguém
- Como? - Diane virou-se.
- Essa Penthouse só é usada para reuniões de administração e a próxima é apenas em Setembro.
- Eu não vou a nenhuma reunião de administração. - Diane sorriu. - Vou ter com uma amiga que está à minha espera.
O rapaz, que a ficou a ver enquanto ela virava à esquerda e se dirigia para a Penthouse A, encolheu os ombros, fechou a porta do elevador e começou a descida.
A medida que Diane se aproximava da porta da Penthouse, acelerou o passo, tal era a excitação que sentia a crescer dentro de si.
Lá dentro, Flint aguardava que batessem à porta. Qual delas será a primeira a chegar? A loura ou a negra ? Quero lá saber, não sou racista!
Pareceu-lhe ouvir o som de alguém a aproximar-se e segurou na arma com firmeza.
Kelly lutava para combater a impaciência. Chegar ao Delmont Hotel fora complicado, o trânsito... os sinais vermelhos... as obras nas ruas. Estava atrasada. Correu pelo átrio do hotel e entrou no elevador.
- Para a Penthouse, por favor.
No quinquagésimo andar, enquanto Diane se aproximava da Penthouse A, a porta da suítezinha abriu-se e um empregado apareceu, recuando para o corredor, enquanto puxava um enorme carrinho cheio de bagagens, bloqueando-lhe a passagem.
- Eu já tiro isto da frente - disse, em jeito de desculpa.
Voltou a entrar na suite e apareceu com mais duas malas. Diane tentou passar, mas não havia espaço. O empregado disse:
- Pronto, já está. Queira desculpar o incómodo - e afastou o carrinho para que Diane pudesse passar.
Ela caminhou até à Penthouse A e erguia a mão para bater à porta quando se ouviu uma voz a chamar, vinda do fundo do corredor:
- Diane!
Virou-se. Kelly acabava de sair do elevador.
- Kelly!
Diane voltou para trás ao seu encontro.
Dentro da Penthouse, Flint tentava ouvir o que se passava. Estaria ali alguém? Podia abrir a porta para espreitar, mas, se o fizesse, podia pôr o plano em risco. Mata-as assim que entrarem pela porta.
No corredor, Kelly e Diane abraçavam-se, encantadas por se reencontrarem.
- Desculpe estar atrasada, mas o trânsito estava uma desgraça.
Apanhou-me no momento em que ia apanhar o autocarro para Chicago - dizia Kelly.
Diane olhava intrigada para ela.
- Eu? Eu apanhei-a?
- Sim. Estava a entrar para o autocarro quando me ligou.
Fez-se um momento de silêncio.
- Mas, Kelly... Eu não lhe liguei. Foi você quem me ligou. Para me dizer que tinha as provas de que precisamos... - E viu o olhar de horror a aparecer no rosto de Kelly.