- Eu não...
Viraram-se as duas a olhar para a Penthouse A. Diane respirou fundo.
- Vamos...
- Isso.
Desceram a correr um lanço de escadas, entraram no elevador e saíram do hotel, tudo em menos de três minutos.
Dentro da Penthouse, Flint olhava para o relógio. Mas porque é que as cabras estão a demorar tanto tempo?
Diane e Kelly sentaram-se no metropolitano numa carruagem apinhada de gente.
- Não sei como eles fizeram isto - começou Diane. - Mas era a sua voz.
- E eu ouvi a sua. Eles não vão descansar enquanto não nos matarem. São como polvos com milhares de tentáculos sangrentos que querem colocar em redor dos nossos pescoços.
- Para nos matarem, precisam primeiro de nos encontra ripostou Diane.
- Como é que nos encontraram desta vez? Já nos desfizemos dos cartões do Kingsley e não temos mais nada com que possam... Olharam uma para a outra e em seguida para os celulares.
- Mas como foi que eles conseguiram os nossos números? - interrogou-se Kelly.
- Lembre-se de com quem estamos a lidar. De qualquer das maneiras, este é, talvez, o lugar mais seguro em toda Nova Iorque. Pod mos ficar no metropolitano até que... - Diane olhou para o outro lado da coxia e ficou pálida.
- Vamos sair na próxima paragem - pediu com urgência na voz. - Na próxima.
- O quê? Mas você disse...
E Kelly seguiu o olhar de Diane. Na placa de anúncios que corria por cima das janelas estava uma fotografia de uma sorridente Kelly que anunciava um lindíssimo relógio de senhora. - Oh, meu Deus!
Levantaram-se e dirigiram-se apressadamente para a porta, à espera da próxima paragem. Dois marines sentados junto à porta olhavam de boca aberta para elas.
Kelly sorriu-lhes, tirou o celular a Diane, pegou no seu e deu um a cada um dos militares. - Nós depois ligamo-vos.
E desapareceram.
Na Penthouse, o telefone tocou. Flint atendeu-o.
- Já passou uma hora. O que se passa, senhor Flint? - perguntou Tanner.
- Elas não apareceram.
- O quê?
- Tenho estado aqui à espera.
- Volta já para o escritório.-Tanner desligou o telefone com força.
No início começara como um assunto de trabalho sem importância de que Tanner tinha de tratar. Agora passara a ser um assunto pessoal. Tanner pegou no seu celular e marcou o número do celular de Diane.
Um dos marines a quem Kelly dera os telefones atendeu: - finalmente, querida! Então, o que fazemos hoje à noite?
As cabras desfizeram-se dos telefones.
Era uma pensão de aspecto rasca, numa rua lateral do West Side. Quando o táxi ia a passar em frente, Diane e Kelly repararam no anúncio que dizia "TEMOS QUARTOS" e Diane pediu ao motorista:
- Pare aqui, por favor.
As duas saíram e bateram à porta da frente do prédio. A dona da pensão, que lhes abriu a porta, era uma simpática mulher de meia idade chamada Alexandra Upshaw.
- Posso arranjar-vos um excelente quarto a quarenta dólares por noite, com pequeno almoço.
- Isso é óptimo - respondeu Diane, mas viu a expressão no rosto de Kelly. - O que se passa?
- Nada! - Kelly fechou por instantes os olhos. Não, aquela não se parecia nada com a pensão em que fora criada, a limpar retretes, a ter de cozinhar para gente desconhecida e a ouvir os sons do padrasto bêbado a bater na mãe. Conseguiu esboçar um sorriso. - Serve perfeitamente.
Na manhã seguinte, Tanner estava reunido com Flint e Carballo.
- Elas deitaram fora os meus cartões e despacharam também os celulares - disse.
- Então, quer dizer que as perdemos - comentou Flint.
- Nada disso, senhor Flint - respondeu Tanner. - Só por cima do meu cadáver. Nós não vamos atrás delas. Elas é que virão ter connosco.
Os dois homens olharam um para o outro e em seguida de volta para Tanner.
- Como assim?
- Diane Stevens e Kelly Harris vão estar aqui, no KIG, na próxima segunda-feira, às onze e um quarto da manhã.
CAPÍTULO 31
Kelly e Diane acordaram ao mesmo tempo. Kelly sentou-se na cama e olhou para Diane:
- Bom dia. Dormiu bem?
- Tive uns sonhos esquisitos.
- Também eu. - Diane hesitou. - Kelly, quando ontem saiu do elevador exactamente no momento em que eu ia bater à porta da suite, acha que foi pura coincidência?
- É claro que sim. E muita sorte tivemos nós.
- Kelly olhava para Diane. - O que quer dizer com isso?
- Até aqui temos tido muita sorte - respondeu ela com muito cuidado. - Mesmo muita sorte. É como se... Como se alguém, ou alguma coisa, nos estivesse a ajudar ou a guiar.
Os olhos de Kelly estavam presos nela.
- Quer dizer... Do tipo anjo da guarda?
- Isso. - Kelly respondeu, cheia de paciência. - Diane, sei que acredita nessas coisas, mas eu não. E eu sei que não tenho nenhum anjo da guarda sobre o meu ombro.
- Você tem, o problema é que não o vê - respondeu Diane.
- Como queira - retorquiu Kelly rolando os olhos.
- Vamos tomar o pequeno almoço - sugeriu Diane. - Aqui estamos em segurança. Acho que não corremos perigo.
Kelly grunhiu.
- Se acha que já não corremos perigo, então é porque não conhece os pequenos almoços das pensões. Vestimo-nos, sim, mas depois vamos comer fora. Parece-me que vi um café ali na esquina.
- Está bem. Preciso de fazer uma chamada. - Diane dirigiu-se ao telefone e pediu um número.
Uma telefonista apareceu na linha:
- KIG.
- Queria falar com Betty Barker.
- É só um momento, por favor.
Tanner vira a luz azul a brilhar e ouvia na linha de conferência.
- A menina Barker neste momento não se encontra no gabinete dela - Quer deixar mensagem?
- Oh! Não, muito obrigada.
Tanner franziu o sobrolho. Demasiado rápido para conseguir localizar.
Diane virou-se para Kelly: - Betty Barker continua a trabalhar no KIG, por isso só precisamos de encontrar uma maneira de chegarmos até ela.
- Talvez o número de casa venha na lista.
- É possível, mas também pode estar sob escuta - lembrou Diane. Pegou na lista telefônica junto do telefone e começou a procurar a letra que pretendia. - Está aqui.
Diane marcou o número, ficou a ouvir e em seguida desligou devagarinho.
Kelly aproximou-se.
- O que foi?
Diane demorou um bocado até conseguir responder:
- O telefone dela foi desligado.
Kelly respirou fundo.
- Acho que vou tomar uma ducha.
Quando Kelly acabou a ducha e ia a sair da casa de banho reparou que deixara as toalhas sujas espalhadas pelo meio do chão. Ia continuar a andar, mas hesitou, apanhou- as e colocou-as direitas na prateleira. Entrou no quarto.
- É toda sua.
Diane respondeu com ar distraído:
- Obrigada.
A primeira coisa que Diane reparou assim que entrou na casa de banho foi que todas as toalhas que tinham sido usadas estavam colocadas direitinhas na prateleira. Sorriu.
Entrou na ducha e deixou que a água quente a descontraísse. Lembrou-se de quando tomava ducha com o Richard e como era bom os seus corpos a tocarem-se... Nunca mais. Mas as recordações estariam lá para sempre. Para sempre....- E havia as flores.
- Elas são lindas, meu querido. O que é que estamos a comemorar?
- O Dia de São Swithin.
E mais flores.
- O Dia em que Washington atravessou o Delaware.
- O Dia Nacional do Periquito.
- O Dia dos Amantes do Aipo.
Quando o cartão com as flores tinha escrito "Dia dos Lagartos Saltadores", Diane rira e dissera:
- Amor, os lagartos não saltam.
E Richard levara as mãos à cabeça e respondera alarmado:
- Maldição! Enganaram-me!
E ele adorava escrever-lhe poemas de amor. Quando Diane se vestia, encontrava um poema num sapato, ou no meio dos sutiãs, ou no bolso do casaco...
E depois houvera aquela vez em que ele chegara a casa depois do trabalho e ela estava parada do lado de dentro da porta, completamente nua, tirando um par de sapatos de salto alto, e lhe perguntara: