- A sua conta já foi fechada, senhora Stevens.
Diane sacudiu a cabeça.
- Não. Deve haver algum engano. Eu tenho...
O caixa colocou o cartão na frente dela. Dizia: "Conta fechada. Razão: falecimento."
Diane ficou a olhar para o cartão sem querer acreditar e em seguida olhou para o caixa:
- Estou com cara de quem faleceu?
- É claro que não. Lamento muito. Se pretender falar com o gerente, eu...
- Não! - Diane de repente percebeu o que acontecera e sentiu um arrepio. - Não, obrigada.
Correu para a entrada, onde Kelly esperava por ela. - Já tem o passaporte e o dinheiro?
- O passaporte sim, o dinheiro é que não. Os filhos da mãe fecharam a minha conta.
- Mas como é que eles...?
- É muito simples, eles são o KIG e nós não. - Diane ficou pensativa. - Oh, meu Deus!
- O que foi agora?
- Tenho de fazer já uma chamada.
Diane apressou-se em direcção a uma cabina, marcou um número e tirou para fora o cartão de crédito. Uns segundos mais tarde falava com um funcionário:
- A conta está em nome de Diane Stevens. É uma conta...
- Lamento muito, senhora Stevens. Os nossos registos mostram que o seu cartão foi dado como roubado. Se quer apresentar uma reclamação, nós podemos mandar-lhe outro cartão dentro de um ou dois dias e...
- Não faz mal - respondeu.
Desligou o telefone e voltou para junto de Kelly.
- Eles cancelaram todos os meus cartões de crédito.
Kelly respirou fundo.
- É melhor eu fazer um ou dois telefonemas.
E Kelly esteve ao telefone durante quase meia hora. Quando voltou para junto de Diane, fumegava de raiva.
- O polvo atacou de novo. Mas eu ainda tenho uma conta em Paris, por isso...
- Kelly, não temos tempo para isso. Temos de sair daqui agora.
Quanto dinheiro tem ainda consigo?
- O suficiente para voltarmos para Brooklyn. E você?
- Para chegar a New Jersey.
- Então estamos tramadas. Sabe porque é que eles estão a fazer isto, não sabe? Para nos impedir de chegar à Europa e descobrir a verdade.
- Parece que conseguiram.
Kelly ficou pensativa.
- Não, não conseguiram. Nós vamos na mesma.
- Como? Na minha nave espacial? - perguntou, céptica, Diane.
- Não. Na minha.
Joseph Beny, o gerente da joalharia da Quinta Avenida, viu Kelly e Diane aproximarem-se e deu-lhes o seu melhor sorriso profissional - Posso ser útil?
- Sim - respondeu Kelly. - Pretendo vender o meu anel.
O sorriso desapareceu.
- Lamento muito, mas nós não compramos jóias.
- Oh! Mas que pena.
Joseph Berry começou a virar-se. Kelly abriu a mão. Nela tinha um enorme anel de esmeralda.
- Esta é uma esmeralda de sete quilates rodeada por diamantes de três quilates, montados em platina.
Joseph Berry olhou para o anel, impressionado. Pegou numa lupa de joalheiro e colocou-a no olho.
- É, de facto, lindíssimo, mas nós temos uma firme regra de não...
- Pretendo vinte mil dólares por ele.
- A senhora disse vinte mil dólares?
- Exactamente. Em dinheiro.
Diane olhava para Kelly.
- Kelly...
Berry analisou de novo o anel e acenou:
- Eu... eu penso que podemos resolver este assunto. É só um momento. - E desapareceu no seu escritório das traseiras.
- Você enlouqueceu? - perguntou Diane. - Está a ser roubada.
- Estou? Se ficarmos aqui vamos acabar por ser mortas. Diga-me, por favor, quanto valem as nossas vidas.
Diane ficou sem resposta. Joseph Berry regressou do escritório com um sorriso.
- Vou imediatamente mandar alguém ao banco do outro lado da rua para arranjar o dinheiro.
Diane virou-se para Kelly: - Ficaria mais feliz se não fizesse isto.
Kelly encolheu os ombros.
- Não passa de uma jóia... - respondeu, e fechou os olhos.
Não passa de uma jóia...
Era o seu dia de anos. O telefone tocou.
- Bom dia, minha querida.
Era Mark.
- Bom dia.
Ficou a aguardar que ele dissesse "Parabéns"
Em vez disso, ele disse: - Hoje não trabalhas, pois não? Gostas de fazer caminhadas?
Não era nada daquilo que Kelly estava à espera de ouvir. Sentiu um pequeno tremor de desapontamento. Na semana anterior tinham falado sobre os anos dela. Pelos vistos, Mark esquecera-se.
- Sim.
- Que tal irmos agora, de manhã?
- Está bem.
- Vou ter contigo daqui a meia hora.
- Estarei pronta.
- Onde vamos? - perguntou Kelly quando entraram no carro.
Estavam ambos vestidos para andar a pé.
- Há uns caminhos muito engraçados perto de Fontainebleau.
- Oh! Vais lá muitas vezes?
- Costumava ir até lá, quando queria fugir.
- Fugir do quê? - perguntou Kelly, olhando-o com ar intrigado.
Ele hesitou. - Da solidão. Ali sentia-me menos só.
Olhou para ela e sorriu...
- Nunca mais lá voltei desde que te conheci.
Fontainebleau era um magnífico palácio real rodeado por florestas silvestres a sudeste de Paris.
Quando o maravilhoso e imponente palácio se começou a ver à distância, Mark comentou:
- Muitos reis chamados Luís viveram aqui, e o primeiro foi Luís IV.
- Sim? - Kelly olhava para ele e pensava: Será que nessa época já havia cartões de aniversário? Gostava que ele me tivesse dado um. Estou a agir como uma idiota.
Chegaram aos jardins do palácio. Mark entrou num dos parques de estacionamento.
Quando saíram do carro e se dirigiam para os bosques, Mark perguntou: - Achas que agüentas um quilometro e meio?
- Faço muito mais do que isso por dia nas passarelas - deu ela a rir.
- Óptimo, então vamos - e Mark pegou-lhe na mão.
- Aí vou eu.
Passaram uma série de imponentes edifícios e entraram no bosque. Estavam completamente sozinhos, cercados pela verdura de campos antigos e velhas árvores carregadas de história. Era um maravilhoso dia de verão. O vento estava quente e suave e acima deles havia um céu azul sem nuvens.
- Não é maravilhoso? - perguntou Mark.
- É lindo, Mark.
- Estou feliz por não trabalhares hoje.
Kelly lembrou-se de uma coisa: - E tu, não devias estar a trabalhar?
- Tirei o dia.
- Oh!
Continuaram a caminhar, embrenhando-se cada Vez mais na misteriosa floresta.
Ao fim de quinze minutos, Kelly perguntou:
- Aonde vamos?
- Há lá em cima um lugar de que gosto muito. Estamos quase a chegar.
Uns minutos mais tarde, entraram numa clareira com um enorme carvalho no meio.
- Ora cá estamos - disse Mark.
- É tão calmo.
Pareceu-lhe ver algo gravado na árvore. Kelly avançou para ver melhor. Dizia: "PARABÉNS, KELLY". Ficou a olhar para Mark, sem fala.
- Oh, Mark, meu querido. Muito obrigada.
Afinal ele não se esquecera.
- Acho que há mais qualquer coisa nessa árvore.
- Na árvore? - Kelly aproximou-se. A altura dos olhos havia um buraco. Meteu a mão lá dentro, sentiu um pequeno embrulho e tirou-o para fora. Era um presente.
- Mas o que...?
- Abre.
Kelly abriu-o e os seus olhos aumentaram de espanto. Dentro da caixa estava um anel com uma esmeralda de sete quilates, rodeada por três quilates de diamantes, tudo encastoado em platina. Kelly olhava, sem conseguir acreditar. Virou-se e lançou os braços ao pescoço dele.
- Mas isto é muito generoso.
- Eu dava-te a Lua, se ma pedisses. Kelly, eu estou apaixonado por ti.
Ela apertou-o contra o peito, perdida numa alegria que nunca antes conhecera. E em seguida disse uma coisa que não pensara nunca, nunca vir a dizer:
- Também estou apaixonada por ti, meu amor.
Ele estava radiante.
- Então vamos casar já. Nós...
- Não! - Era como uma chicotada.
Mark olhava para ela, espantado.
- Porquê?
- Não podemos.
- Kelly, não acreditas que eu te amo?
- Acredito.
- E tu amas-me?