A descolagem do vôo para Barcelona foi suave e sem percalços. Kelly olhava pela janela e via Nova Iorque lá em baixo, a desaparecer.
- Acha que nos conseguimos ver livres deles?
Diane abanou a cabeça.
- Não. Mais cedo ou mais tarde vão arranjar maneira de nos descobrir. Mas pelo menos estamos do outro lado. - Tirou da carteira a folha de computador e estudou-a. - Sonja Verbrugge morreu em Berlim e o marido desapareceu... Gary Reynolds, em Denver...
- Hesitou - Mark e Richard.
Kelly olhou para a folha impressa:
- Então nós vamos a Paris, Berlim, Denver e depois voltamos para Nova Iorque.
- Isso mesmo. Atravessamos a fronteira para França em San Sebastian.
Kelly estava ansiosa por voltar a Paris. Queria falar com Sam Meadows. Tinha a sensação de que seria útil. E a Angel estava à sua espera.
-Já esteve em Espanha?
- Mark levou-me lá uma vez. Foi a coisa mais... - E de repente Kelly calou-se, ficando calada durante um bom bocado. - Sabe qual é o problema que vou ter de enfrentar para o resto da minha vida Diane? É que não existe em todo o mundo ninguém como o Mark. Sabe como é, quando somos crianças e lemos sobre as pessoas que se apaixonam e de repente o mundo passa a ser maravilhoso? Era esse tipo de casamento que eu tinha com Mark. - Olhou para Diane. - Provavelmente passava-se o mesmo consigo e Richard.
- Sim - respondeu ela muito devagar. - Fale-me de Mark - pediu.
Kelly sorriu:
- Havia nele algo maravilhosamente infantil. Sempre achei que ele tinha o espírito de uma criança e o cérebro de um génio. - Deu uma pequena risada.
- O quê?
- A forma como ele se vestia. No nosso primeiro encontro levava um fato cinzento muito mal cortado, sapatos castanhos, camisa verde e uma gravata de um tom encarnado vivo. Depois de nos casarmos, passei a fazer com que ele se vestisse como deve ser. - E calou-se. Quando voltou a falar tinha a voz embargada: - Sabe uma coisa? Neste momento daria tudo para poder ver Mark uma vez mais com o seu fato cinzento, os sapatos castanhos, a camisa verde e a gravata encarnada. - Os olhos dela estavam húmidos. - Mark gostava imenso de me surpreender com pequenos presentes. Mas o maior de todos os presentes foi o ter-me ensinado a amar. - Enxugou os olhos com um lenço. - E Richard, como era? Diane sorriu.
- Era um romântico. Quando à noite íamos para a cama ele dizia: "Carrega no meu botão secreto", e eu ria e respondia: "Ainda bem que ninguém está a gravar esta conversa."
Olhou para Kelly e explicou: - O botão secreto dele era a tecla de "Não incomodar" do telefone. Richard dizia que estávamos num castelo, sozinhos, e que a tecla do telefone era o fosso que rodeava o castelo e que nos mantinha protegidos do resto do mundo.
Diane lembrou-se de qualquer coisa e riu. - Ele era um cientista brilhante e adorava reparar coisas em casa. Arranjava as torneiras que pingavam ou os curto-circuitos, e eu depois tinha que chamar os homens para arranjarem o que ele tinha arranjado, mas nunca lhe contei isso. Continuaram a falar quase até à meia-noite.
Diane apercebeu-se de que era a primeira vez que falavam dos maridos. Era como se uma barreira invisível entre elas tivesse caído.
Kelly bocejou.
.- Acho que devíamos dormir. Tenho a sensação de que o dia de amanhã vai ser muito excitante.
Não fazia idéia do excitante que viria a ser.
Harry Flint furava por entre a multidão no aeroporto de El Prat, em Barcelona, e dirigiu- se à enorme janela que dava para a pista. Virou a cabeça para olhar o quadro que anunciava as partidas e as chegadas. O avião vindo de Nova Iorque estava no horário, e devia aterrar dali a trinta minutos. Tudo estava a correr de acordo com os planos. Flint sentou-se e esperou.
Trinta minutos mais tarde, os passageiros do vôo de Nova Iorque começaram a desembarcar. Todos pareciam excitados, um grupo típico de turistas, vendedores, algumas crianças, casais em lua-de-mel. Flint teve o cuidado de se manter fora do campo de visão da porta de desembarque enquanto observava a corrente de passageiros que entrava no terminal e que, de seguida, parou. Franziu o sobrolho. Não havia sinais de Diane nem de Kelly. Flint aguardou mais cinco minutos e em seguida dirigiu-se à porta de embarque. - Senhor, não pode passar por aí.
- FAA! {2} - ladrou. - Temos informação da segurança nacional de, que um embrulho foi escondido na casa de banho deste avião.
Recebi ordens para o inspeccionar imediatamente.
Flint já estava na placa. Quando chegou ao avião, a tripulação começava a sair.
Uma assistente de bordo perguntou:
- Posso ajudar?
- FAA, inspecção - respondeu. E dirigiu-se às escadas do avião. Não se avistavam quaisquer passargeiros.
A assistente perguntou:
- Há algum problema?
- Sim. Uma possível bomba.
Ela ficou a olhar enquanto Flint percorria a cabina e abria as portas das casa de banho. Estavam todas vazias.
As mulheres tinham desaparecido.
- Senhor Kingsley, elas não estavam no avião.
A voz de Tanner Kingsley parecia perigosamente suave:
- Senhor Flint, não as viu embarcar?
- Vi, sim.
- E continuavam a bordo quando o avião descolou?
- Estavam, sim.
- Então parece-me que, se raciocinarmos, chegamos à conclusão de que ou saltaram no meio do Atlântico sem pára-quedas, ou então desembarcaram em Madrid. Concorda com o meu raciocínio?
- Claro que sim, senhor Kingsley. Mas...
- Muito obrigado. Portanto, isso significa que pretendem seguir de Madrid para França, via San Sebastian. - Fez uma pausa. - Têm quatro possibilidades, ou apanham um outro vôo para Barcelona, ou vão de comboio, de autocarro ou de carro. - Tanner ficou pensativo. - Provavelmente vão achar que autocarros, aviões e comboios são demasiado limitativos. A lógica diz-me que vão de carro até à fronteira de San Sebastian e que entram por aí em França.
- Se...
- Não me interrompa, senhor Flint. Devem levar cinco horas de Madrid a San Sebastian. O que quero que faça é o seguinte: apanhe um avião para Madrid. Verifique todas as empresas de aluguel de automóveis. Descubra que tipo de carro alugaram, cor, marca, tudo.
- Sim, senhor.
- Em seguida, quero que voe de volta para Barcelona e que alugue um carro. Um carro grande. E fique à espera delas na auto-estrada de San Sebastian. Não quero que consigam chegar à fronteira. E, senhor Flint...
- Diga, senhor?
- Não se esqueça: faça com que pareça um acidente.
CAPÍTULO 35
Diane e Kelly estavam em Barajas, o aeroporto de Madrid. Podiam escolher entre alugar um carro na Hertz, na Europe Car, na Avis, ou noutra empresa qualquer, mas optaram pela Aksa, uma agência de aluguel de automóveis menos conhecida.
- Qual é a maneira mais rápida para chegar a San Sebastian? - perguntou Diane.
- É muito simples, señora. Apanhe a N-l até à fronteira em Hondarribia e em seguida vá directa a San Sebastian. São cerca de quatro a cinco horas de viagem.
Kelly e Diane meteram-se a caminho. Quando, uma hora mais tarde, o jacto privado do KIG aterrou em Madrid, Harry Flint percorreu apressadamente as empresas de aluguel de automóveis.
- Fiquei de me encontrar com a minha irmã e uma amiga dela - a amiga é uma afro-americana lindíssima. Só que desencontrámo-nos.
Chegaram num vôo da Delta, nove dois um, vindo de Nova Iorque.
Alugaram um carro aqui?
- Não, señor.
- Não, señor.
- Não, señor.
Finalmente, no balcão da Alesa, Flint teve sorte.
- Oh, sim, señor. Lembro-me muito bem delas. Elas...
- Lembra-se qual foi o carro que alugaram?
- Sim. Foi um Peugeot.
- De que cor?
- Vermelho. Era o único...
- Lembra-se da matrícula?
- Claro. E só um segundo.
Flint ficou a olhar enquanto o empregado abria um livro de registo e verificava.