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Ray Fowler estudava as duas mulheres.

- Que interessante - disse.

E ali ficou sentado, espantado, e por fim disse:

- Há uns tempos que isto não me sai da cabeça. Talvez devam, de facto, falar com Howard Miller. Era ele o controlador que estava de serviço no dia do acidente. Têm aqui a morada. Eu entretanto telefono-lhe e digo-lhe que vocês vão aparecer.

- Muito obrigada. É muito amável da sua parte - disse Diane.

Ray Fowler grunhiu:

- Eu só faço isto porque o relatório da FAA sobre o acidente é um perfeito disparate. Encontrámos os destroços do avião, mas, coincidência das coincidências, a caixa negra tinha desaparecido. Desaparecido, pura e simplesmente.

Howard Miller vivia numa pequena casa a cerca de dez quilômetros do aeroporto. Era um homem baixinho, cheio de energia, nos quarenta anos. Abriu a porta da frente a Diane e Kelly.

- Entrem. Ray Fowler telefonou-me e disse que vinham aí. Em que as posso ajudar?

- Gostaríamos de falar consigo, senhor Miller.

- Sentem-se. - E sentaram-se no sofá. - Querem um café?

- Não, muito obrigada. Nós estamos aqui para falar consigo sobre o acidente de aviação de Gary Reynolds...

- Sim, terá sido um acidente ou...?

Howard Miller encolheu os ombros.

- Honestamente, não sei. Nunca esperei que uma coisa daquela viesse a acontecer, em todos os anos que trabalho ali. Tudo estava a decorrer segundo o regulamento. Gary Reynolds chamou via rádio a pedir autorização para aterrar e nós concedemo-la. Quando voltou a falar, ele estava apenas a duas milhas de nós e reportava a existência de um furacão! Um furacão! Os nossos monitores não registavam nada. Não havia qualquer vento naquela altura. Para lhe dizer a verdade, pensei que ele ou tinha bebido ou estava drogado. Depois disso, só sei que ele foi embater contra um dos lados da montanha.

- Pelo que percebi, a caixa negra não apareceu, não é verdade? - perguntou Kelly.

- Pois. Isso é outra coisa - confirmou Howard Miller, pensativo. - Encontrámos tudo o resto. Mas o que foi que aconteceu à caixa negra? Os desgraçados dos FAA apareceram aí e diziam que tínhamos os registos todos errados. Não acreditaram em nós quando lhes contámos o que se passara. Sabe quando se tem a sensação de que há qualquer coisa que não está bem?

- Sim.

- Eu acho que há qualquer coisa errada, mas não sei dizer exactamente o quê. Lamento não poder ajudar mais.

Diane e Kelly levantaram-se, frustradas.

- De qualquer das maneiras, muito obrigada, senhor Miller. Agradecemos o tempo que nos dispensou.

-De nada.

Quando Miller acompanhava as duas mulheres até à porta, disse:

- Espero que a irmã dele fique boa.

- O quê? - perguntou Kelly, estacando.

- A irmã dele. Está no hospital. Coitada. A casa dela ardeu até ao chão, a meio da noite. Não sabem se ela vai conseguir sobreviver.

- O que aconteceu? - perguntou Diane, sentindo-se gelar.

- Os bombeiros pensam que foi provocado por um curto-circuito. Lois conseguiu arrastar-se até à porta de rua, para o jardim, mas quando os bombeiros chegaram estava em muito mau estado.

 Diane conseguiu manter a voz calma.

- E em que hospital está ela?

- Está no Hospital da Universidade do Colorado. No centro de queimados. Ala Três Norte.

A enfermeira na recepção na Três Norte disse:

- Lamento muito, mas a menina Reynolds não pode receber visitas.

- Pode dizer-nos em que quarto está? - pediu Kelly.

- Não. Lamento muito, mas não posso.

- É que isto é uma emergência - disse Diane. - Nós temos que a ver e...

- Ninguém a vê sem autorização escrita.

O tom da voz ela punha um ponto final à conversa.

Diane e Kelly olharam uma para a outra.

- Muito bem. Então muito obrigada.

As duas mulheres afastaram-se.

- O que vamos fazer agora? - perguntou Kelly. - Esta é a nossa última hipótese.

- Tenho um plano.

Um mensageiro fardado transportando um enorme embrulho atado com fitas abordou a recepção.

- Tenho aqui um embrulho para Lois Reynolds.

- Eu assino - disse a enfermeira.

O rapaz abanou a cabeça.

- Lamento muito. As minhas instruções são para o entregar pessoalmente . É muito valioso. A enfermeira hesitou.

- Então terei que o acompanhar.

- Tudo bem.

E ele seguiu a enfermeira até ao fim do corredor. Quando chegaram ao quarto 391, a enfermeira começou a abrir a porta e o mensageiro deu-lhe o embrulho.

- Pode entregar-lho - disse.

Num andar imediatamente abaixo, o mensageiro dirigiu-se ao banco onde Diane e Kelly se sentavam à espera.

 - É o quarto 391 - disse.

- Muito obrigada - respondeu Diane, grata. E deu-lhe algum dinheiro para a mão.

As duas mulheres subiram as escadas para o terceiro andar, entraram no corredor e esperaram até que a enfermeira fosse ao telefone. Estava de costas para elas. Então apressaram-se pelo corredor e entraram no quarto 391.

Lois Reynolds estava deitada na cama com uma cadeia de tubos e de fios ligados ao seu corpo. O seu corpo estava coberto de ligaduras. Tinha os olhos fechados, quando Kelly e Diane se aproximaram da cama.

Diane falou baixinho:

- Menina Reynolds. O meu nome é Diane Stevens e esta é a Kelly Harris. Os nossos maridos trabalhavam para o KIG.

Os olhos de Lois Reynolds abriram-se devagarinho e ela tentou focá-los. Quando falou, a sua voz era a sombra de um sussurro.

- O quê?

- Os nossos maridos trabalhavam para o KIG - disse Kelly. - Ambos foram mortos. Pensámos que, devido ao que aconteceu ao seu irmão, nos pudesse ajudar em alguma coisa.

Lois Reynolds tentou abanar a cabeça.

- Eu não posso ajudar... Gary está morto.

Os seus olhos encheram-se de lágrimas.

Diane inclinou-se sobre ela.

- O seu irmão disse-lhe alguma coisa antes do acidente?

- Gary era uma pessoa maravilhosa. - A voz dela era lenta e dolorosa. - Ele morreu num acidente de avião.

- Ele disse-lhe alguma coisa que nos possa ajudar a descobrir o que se passou? - insistiu Diane pacientemente.

Lois Reynolds fechou os olhos.

- Menina Reynolds, por favor, não adormeça já. Por favor. Isto é muito importante. O seu irmão disse-lhe alguma coisa que nos possa ajudar?

Lois Reynolds abriu de novo os olhos e olhou para Diane, intrigada.

- Mas quem são vocês?

- Nós estamos convencidas de que o seu irmão foi assassinado - respondeu Diane.

- Eu sei... - murmurou Lois.

As duas sentiram um arrepio gelado.

- Porquê? - perguntou Kelly.

- Prima... - Não era mais do que um murmúrio.

Kelly aproximou-se mais.

- Prima?

- Gary contou-me... falou sobre isso... uns dias antes de ser mor to. A máquina deles pode controlar... controlar o tempo. Pobre Gary. Ele... ele nunca conseguiu chegar a Washington.

- Washington? - perguntou Diane.

- Sim.. Eles iam todos... iam todos ter com uma senadora qualquer e falar... falar sobre Prima... Gary disse que Prima era muito mau...

- Lembra-se do nome da senadora? - perguntou Kelly.

- Não.

- Pense, por favor, pense.

Lois Reynolds murmurava qualquer coisa.

- Senadora não sei o quê...

- Qual senadora? - insistiu Kelly. .

- Levin... Luven... van Luven. Eles iam falar com ela. Iam encontrar-se com...

A porta abriu-se de repente e um médico com um casaco branco e um estetoscópio pendurado ao pescoço entrou pelo quarto. Olhou para Diane e Kelly e disse, furioso:

- Ninguém vos disse que não são permitidas visitas?

Kelly respondeu:

- Desculpe. Tínhamos que falar...

- Saiam, por favor.

As duas mulheres olharam para Lois Reynolds.

- Adeus. As suas melhoras.

O homem ficou a vê-las sair do quarto. Quando a porta se fechou, dirigiu-se à cama, ficou de pé junto de Lois Reynolds e pegou numa almofada.