- Contaste.
- Pois. Eles também eram muito bons. Franz Verbrugge, em Berlim, Mark Harris em Paris, Gary Reynolds em Vancouver e Richard Stevens em Nova Iorque. Cada um deles estava encarregado de tentar resolver um determinado problema do controle do tempo, e pensei que, dado estarem a trabalhar em países diferentes, nunca seriam capazes de juntar todas as peças do puzzlee e concluir qual era o objectivo final de todo este projecto. Mas, de alguma forma, a verdade é que chegaram lá. Vieram ter comigo a "Viena, para me perguntarem quais eram os meus planos para o Prima. Disse-lhes que o ia dar ao nosso governo. Nunca imaginei que levassem o assunto mais adiante, mas, para ter a certeza, montei-lhes uma armadilha. Quando estavam sentados na recepção, fiz um telefonema para o teu gabinete no Senado, de forma que eles me ouvissem a negar que alguma vez ouvira falar de Prima. Na manhã seguinte, começaram a ligar-te para marcarem encontros. Foi nessa altura que percebi que tinha de os afastar. - E sorriu. - Vou-te mostrar o que temos aqui.
Apareceu num ecrã de computador um mapa do mundo marcado com pontos e com símbolos. A medida que Tanner falava, ia movimentando um interruptor, e o foco do mapa foi-se alterando até se centrar sobre Portugal.
Tanner ia dizendo:
- Os vales agrícolas de Portugal são abastecidos pelos rios que correm para o Atlântico vindos de Espanha. Imagina o que aconteceria a Portugal se chovesse continuamente até que os vales agrícolas ficassem completamente inundados.
Tanner premiu um botão e, num ecrã enorme, surgiu a imagem de um compacto palácio cor de rosa, com guardas fardados, e os lindíssimos jardins a brilhar sob a luz do sol.
- Este é o palácio presidencial.
A imagem mudou para uma sala de jantar dentro do edifício, onde uma família tomava o pequeno almoço.
- Este é o presidente de Portugal, a mulher e dois filhos. Quando falarem será em português, mas tu ouvirás em inglês. Tenho dúzias de nanocâmaras e de microfones espalhados pelo palácio. O presidente desconhece, mas o seu chefe de segurança trabalha para mim.
Um assessor dizia ao presidente:
- Hoje de manhã, às onze horas, tem uma reunião na Embaixada e um discurso numa central sindical. À uma da tarde, almoço no museu. Esta noite temos um jantar de estado.
O telefone tocou sobre a mesa do pequeno almoço. O presidente atendeu-o. - Alô?
A voz de Tanner era imediatamente traduzida do inglês para o português, à medida que falava: - Senhor presidente?
O presidente pareceu espantado. - Quem fala? - perguntou e a voz dele foi imediatamente traduzida do português para inglês.
- Um amigo.
- Mas quem... Como obteve o meu número privado?
- Isso não interessa. Quero que ouça com atenção. Gosto muito do seu país e não gostaria de o ver destruído. Se não quer que terríveis tempestades o façam desaparecer do mapa, tem que me mandar dois mil milhões de dólares em ouro. Se não está interessado agora, eu volto a telefonar daqui a três dias.
No ecrã, viram o presidente bater com o telefone. Virou-se para a mulher e disse:
- Um palerma qualquer que conseguiu o meu número privado.
Deve ter saído de um manicómio.
Tanner virou-se para Pauline.
- Isto foi filmado há três dias. Agora vou-te mostrar a conversa que tivemos ontem.
A imagem do enorme palácio e dos seus belos jardins surgiu de novo, mas desta vez chovia torrencialmente e o céu estava cheio de trovoadas e iluminado por relâmpagos.
Tanner premiu um botão e a imagem no ecrã passou a ser a do gabinete do presidente. Estava sentado a uma mesa de conferências com meia dúzia de assistentes, todos a falarem ao mesmo tempo. O rosto dele estava sombrio. O telefone em cima da mesa tocou.
- Agora. - Tanner sorriu.
O presidente atendeu o telefone, apreensivo.
- Estou?
- Bons dias, senhor presidente. Como...?
- Você está a destruir o meu país! Já destruiu as nossas colheitas. Os rios estão alagados. As aldeias estão a ficar... - Parou e respirou fundo. - Quanto tempo vai isto durar? - A voz dele tinha uma ponta de histeria.
- Até eu receber os dois mil milhões de dólares!
Ficaram a ver o presidente cerrar os dentes e fechar por momentos os olhos. - E depois pára com estas tempestades?
- Com certeza.
- Como é que quer receber este dinheiro?
Tanner desligou o televisor.
- Vês como é fácil, Princesa? Já temos o dinheiro. Agora deixa que te mostre o que mais Prima é capaz de fazer. Estes são os nossos primeiros testes.
Premiu outro botão e a imagem de um furioso furacão apareceu no ecrã.
- Isto está a ter lugar no Japão - explicou. - Em tempo real.
E, nesta estação, para eles o tempo é sempre calmo.
Premiu outro botão e apareceram imagens de uma violenta tempestade a abater-se sobre um pomar de laranjas.
- Isto é em directo da Florida. A temperatura no exterior está, neste momento, perto de zero graus, e estamos em Junho! As colheitas vão ficar completamente destruídas.
Accionou outro botão e, no ecrã gigante, viu-se a imagem de um tornado a arrasar edifícios.
- Isto é o que se está a passar no Brasil. Como vês - continuou Tanner - Prima pode fazer qualquer coisa.
Pauline aproximou-se mais dele e disse suavemente:
- Tal como o seu papá.
Tanner desligou o televisor. Pegou em três DVDs e mostrou-lhos.
- Aqui estão três conversas muito interessantes que tive com o Peru, o México e a Itália. Sabes como é entregue o ouro? Nós mandamos camiões aos bancos deles e eles enchem-nos. E depois estamos numa situação de pescadinha de rabo na boca. Se fizerem qualquer tentativa para descobrir para onde vai o ouro, eu garanto-lhes uma tempestade que começa e nunca mais acaba. Pauline olhava para ele, preocupada.
- Tanner, há alguma hipótese de eles alguma vez conseguirem identificar as nossas chamadas?
Tanner riu.
- Espero que sim. Se alguém o tentar fazer, chegarão primeiro a uma igreja, depois são reenviados para uma escola. A terceira vez vão criar tempestades que desejarão nunca ter assistido. E o quarto terminará na Sala Oval da Casa Branca.
Pauline riu.
A porta abriu-se e Andrew entrou.
- Ah! Cá está o meu querido irmão.
Andrew olhava fixamente para Pauline com uma expressão intrigada no rosto.
- Eu não a conheço? - Olhou para ela durante quase um minuto enquanto se concentrava, e em seguida o seu rosto iluminou-se. - Mas é claro. Você... você e Tanner estavam... vocês iam-se casar. Eu era o padrinho. Você é... você é a Princesa.
- Muito bem, Andrew - elogiou Pauline.
- Mas você... você foi-se embora! Não amava Tanner.
Este interveio.
- Eu explico-te umas coisas. Ela foi-se embora exactamente por que me amava. - E pegou na mão dela. - Telefonou-me no dia a seguir ao casamento. Casara-se com um homem muito rico e muito influente para, através da influência dele, conseguir arranjar clientes importantes para o KIG. Foi assim que pudemos crescer a esta velocidade. - Tanner abraçou-a. - Arranjámos uma forma de nos encontrarmos uma vez por mês e ela depois começou a interessar-se pela política e tornou-se senadora - explicou, orgulhoso, Tanner.
Andrew franziu o sobrolho.
- Então e... e Sebastiana?
- Quem? Sebastiana Cortêz? Essa foi para despistar - respondeu Tanner a rir. - Fiz as coisas de forma que todos aqui no KIG tivessem conhecimento da existência dela. Eu e a Princesa não nos podíamos dar ao luxo de levantarmos qualquer suspeita.
- Oh! Estou a perceber - respondeu Andrew com ar vago.
- Andrew, chega aqui.
Tanner conduziu-o até ao centro de controle. Ficaram em frente de Prima.
- Lembras-te disto? - perguntou. - Tu ajudaste a desenvolvê-lo. Agora está pronto.
Os olhos de Andrew abriram-se de espanto.
- Prima...
Tanner apontou para um botão e disse: