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– Naturalmente eu esperava encontrar o dr. Watson – ele observou, com uma cortês inclinação da cabeça. Sua colaboração pode ser muito necessária, porque agora iremos lidar, sr. Holmes, com um homem para quem a violência é familiar e que, literalmente falando, não se deterá diante de nada; eu diria que não existe homem mais perigoso em toda a Europa.

– Já tive vários adversários a quem este termo lisonjeiro foi aplicado – disse Holmes com um sorriso. – Não fuma? Então vai me desculpar por eu acender meu cachimbo. Se esse homem é mais perigoso do que o falecido professor Moriarty, ou do que o ainda vivo coronel Sebastian Moran, então realmente vale a pena conhecê-lo. Posso perguntar o nome dele?

– Já ouviu falar do barão Gruner?

– O senhor se refere ao assassino austríaco?

O coronel Damery ergueu suas mãos enluvadas e deu uma gargalhada. – Ninguém pode com o senhor! Maravilhoso! Quer dizer que o senhor já o classificou de assassino?

– É minha profissão acompanhar os detalhes do crime no Continente. Quem poderia ler a respeito do que aconteceu em Praga e ter alguma dúvida sobre a culpabilidade deste homem? Foram apenas um detalhe técnico-legal e a morte suspeita de uma testemunha que o salvaram. Tenho tanta certeza de que ele matou sua mulher, quando ocorreu o chamado “acidente” no Splügen Pass, como se eu tivesse presenciado a cena. Soube também que ele tinha vindo para a Inglaterra e tive um pressentimento de que, mais cedo ou mais tarde, ele me daria trabalho. Bem, o que é que o barão Gruner andou aprontando? Presumo que não se trate desta velha tragédia que veio à tona de novo.

– Não, é mais sério do que isso. Vingar um crime é importante, mas evitá-lo é mais importante ainda. É uma coisa terrível, sr. Holmes, presenciar um acontecimento espantoso, uma situação cruel, sendo preparada diante de seus olhos, compreender claramente aonde isto conduzirá, e mesmo assim ser totalmente incapaz de evitar o mal. Pode um ser humano ser colocado em situação mais difícil?

– Talvez não.

– Então o senhor se compadecerá do cliente em cujo interesse eu estou agindo.

– Eu não sabia que o senhor era apenas um intermediário. Quem é o principal interessado?

– Sr. Holmes, devo pedir-lhe que não insista nesta pergunta. É importante que eu garanta ao senhor que o honrado nome dele não foi, de modo algum, envolvido neste assunto. Seus motivos são nobres e cavalheirescos no mais alto grau, mas  ele prefere permanecer incógnito. Não preciso dizer-lhe que seus honorários estarão assegurados, e que o senhor terá absoluta liberdade de ação. Posso ter certeza de que o nome verdadeiro de seu cliente é pouco importante?

– Sinto muito – disse Holmes. – Estou acostumado a ter mistério de um dos lados dos meus casos, mas ter isto dos dois lados é confuso demais. Receio, sir James, que eu deva me recusar a agir.

Nosso visitante ficou muito perturbado. Seu rosto largo e sensível adquiriu uma expressão de tristeza e decepção.

– O senhor dificilmente poderá compreender o efeito de sua atitude, sr. Holmes – ele disse. – O senhor me deixa num dilema muito sério, porque tenho certeza  de que o senhor ficaria orgulhoso de aceitar a causa se eu pudesse apresentar-lhe os fatos, mas uma promessa me proíbe de revelá-los. Eu gostaria, pelo menos, de expor-lhe o que posso?

– Certamente, contanto que fique entendido que eu não estou me comprometendo com coisa alguma.

– Isso está claro. Em primeiro lugar, o senhor, sem dúvida nenhuma, ouviu falar do general de Merville?

– De Merville, que se tornou célebre em Khyber? Sim, já ouvi falar dele.

– Ele tem uma filha, Violet de Merville, jovem, rica, bonita, perfeita, uma mulher maravilhosa em todos os sentidos. E é esta filha, esta moça adorável e inocente que estamos tentando salvar das garras de um vilão.

– Então o barão Gruner tem alguma influência sobre ela?

– A mais forte de todas no que diz respeito a uma mulher, a influência do amor. Ele é, como o senhor já deve ter ouvido falar, extraordinariamente bonito, seu jeito extremamente fascinante, uma voz amável, e aquele ar de romance e mistério que significa tanto para uma mulher. Dizem que ele tem todo o belo sexo à sua mercê e que já fez amplo uso deste fato.

– Mas como pôde um homem destes conhecer uma dama do nível da srta. Violet de Merville?

– Foi numa viagem de iate pelo Mediterrâneo. Os passageiros, embora selecionados, pagaram suas próprias passagens. Sem dúvida os promotores só perceberam o verdadeiro caráter do barão quando já era tarde demais. O vilão aproximou-se da fidalga, e com tamanha eficácia que conquistou totalmente o seu coração. Dizer que ela o ama não descreve o estado dela. Ela o venera, está obcecada por ele. Além dele, não existe mais nada na terra. Ela não dará ouvidos a uma palavra dita contra ele. Fizeram tudo para curá-la desta loucura, mas foi em vão. Em resumo, ela pretende casar-se com ele no mês que vem. Como ela é maior de idade e tem uma vontade de ferro, é difícil saber como impedi-la.

– Ela sabe o que aconteceu na Áustria?

– O astuto demônio contou-lhe todos os sórdidos escândalos públicos de sua vida passada, mas sempre de modo a fazê-lo parecer um mártir inocente. Ela aceita inteiramente a versão dele e não ouvirá nenhuma outra.

– Valha-me Deus! Mas o senhor, inadvertidamente, não revelou o nome de seu cliente? Sem dúvida é o general de Merville.

O nosso visitante agitou-se na cadeira.

– Eu poderia enganá-lo dizendo que sim, sr. Holmes, mas isto não seria verdade. De Merville está arrasado. O soldado vigoroso ficou completamente desmoralizado depois deste incidente. Perdeu o vigor, que nunca o abandonou no campo de batalha, e tornou-se um velho fraco e trôpego, totalmente incapaz de lutar com um patife brilhante e poderoso como esse austríaco. Mas o meu cliente é um velho amigo, que conhece o general intimamente há muitos anos e que tem um interesse paternal por esta moça, desde que ela usava vestido curto. Ele não pode ver esta tragédia consumar-se sem fazer alguma tentativa de impedi-la. Não há nada que a Scotland Yard possa fazer. Foi ele mesmo que sugeriu que o senhor fosse consultado, mas, como já disse, com a condição expressa de que ele não seria envolvido pessoalmente na questão. Eu não duvido, sr. Holmes, que o senhor, com sua capacidade, poderia descobrir facilmente, por intermédio da minha pessoa, quem é o meu cliente, mas devo pedir-lhe, como ponto de honra, que não faça isso e que o deixe permanecer incógnito.

Holmes sorriu de maneira esquisita.

– Acho que posso prometer-lhe isto. Devo acrescentar que seu problema me interessa, e que estarei preparado para investigá-lo. Como poderei manter-me em contato com o senhor?

– O Clube Carlton me encontrará. Mas, em caso de urgência, existe um telefone particular, XX.31.

Holmes, sentado e ainda sorrindo, anotou o número em sua agenda aberta sobre os joelhos.

– O endereço atual do barão, por favor?

– Vernon Lodge, perto de Kingston. É uma casa enorme. Ele teve sorte em algumas especulações um tanto obscuras e é um homem rico, o que o torna, naturalmente, um adversário ainda mais perigoso.

– Ele está em casa no momento?

– Sim.

– Além daquilo que você já me disse, pode me dar mais alguma informação sobre ele?

– Ele teve hábitos dispendiosos. Gosta de cavalos. Jogou pólo em Hurlingham, durante pouco tempo, mas então este assunto de Praga espalhou-se, e ele foi obrigado a desistir. É um homem com forte inclinação artística. Coleciona livros e quadros. Ele é, eu creio, uma renomada autoridade em cerâmica chinesa, e escreveu um livro sobre o assunto.