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– De modo que não cheguei a nenhuma conclusão, sr. Holmes. Não havia como ir além disso. Eu podia apenas fingir que aceitava a situação e prometer a mim mesmo que jamais descansaria até esclarecer o destino do meu amigo. Foi uma tarde melancólica. Jantamos em silêncio, nós três, em uma sala sombria, velha e desbotada. A senhora me interrogou, ansiosamente, a respeito de seu filho, mas o velho parecia triste e deprimido. Estava tão aborrecido com toda a situação, que arranjei uma desculpa e fui para o meu quarto assim que pude. Era um quarto enorme e simples no andar térreo, tão sombrio quanto o resto da casa, mas sr. Holmes, depois de ter dormido durante um ano na estepe, não se pode ser exigente a respeito de alojamentos. Abri as cortinas e olhei para o jardim, notando que a noite estava bonita e a meia-lua resplandecente. Sentei-me, então, perto do fogo que crepitava e, com uma lâmpada ao meu lado, sobre a mesa, tentei me distrair lendo um romance. Mas fui interrompido por Ralph, o velho mordomo, que entrou trazendo mais carvão.

– “Pensei que talvez ficasse sem carvão à noite, senhor. A temperatura está desagradável e estes quartos são frios.”

– Ele hesitou antes de sair do quarto, e quando olhei, estava parado, e seu rosto enrugado me encarava com um olhar suplicante.

– “Peço-lhe que me perdoe, senhor, mas eu não pude deixar de ouvir o que o senhor disse durante o jantar a respeito do meu amo Godfrey. O senhor sabe que minha mulher o amamentou, de modo que posso dizer que sou seu pai adotivo. É natural que a gente se interesse. E o senhor disse que ele se portou bem?”

– “Não havia no regimento homem mais corajoso. Uma vez ele me salvou dos rifles dos Boêres, do contrário eu não estaria aqui.”

– O velho mordomo esfregou as mãos descarnadas.

– “Sim senhor, este é o amo Godfrey, exatamente. Ele sempre foi corajoso. Não existe no parque uma única árvore em que ele não tenha trepado. Ninguém conseguia impedi-lo. Ele foi um menino admirável, oh, senhor, ele foi um homem admirável.”

Fiquei de pé num salto.

– “Escute aqui!”, gritei. “Você disse que ele foi. Você fala como se ele estivesse morto. O que significa todo esse mistério? O que aconteceu a Godfrey Emsworth?”

– Agarrei o velho pelos ombros, mas ele recuou.

– “Não sei o que o senhor quer dizer. Pergunte ao patrão pelo amo Godfrey. Ele sabe. Não cabe a mim interferir.”

– Ele estava saindo do quarto, mas segurei-o pelo braço.

– “Escute”, disse eu. “Você vai responder a uma pergunta antes de sair do quarto, mesmo que eu tenha de prendê-lo aqui a noite inteira. Godfrey está morto?”

– Ele não conseguiu me encarar. Parecia um homem hipnotizado. A resposta saiu arrastada de seus lábios. Foi uma resposta terrível e inesperada.

– “Eu pediria a Deus que estivesse!”, ele exclamou, e, libertando-se, saiu do quarto apressadamente.

– O senhor pode imaginar, sr. Holmes, que eu não estava feliz quando voltei para minha cadeira. As palavras do velho pareciam ter apenas uma explicação. Evidentemente, o meu pobre amigo havia se envolvido em algum crime, ou, pelo menos, em alguma transação vergonhosa que manchou a honra da família. O pai severo mandou o filho para longe, escondeu-o do mundo, com receio de algum escândalo. Godfrey era um sujeito imprudente. Deixava-se influenciar facilmente por outras pessoas. Sem dúvida caíra em mãos perversas e foi iludido até a sua ruína. Realmente, seria uma pena se fosse isso, mas, mesmo agora, meu dever era procurá-lo e ver se podia ajudá-lo. Eu estava refletindo sobre o assunto quando ergui os olhos, e lá estava Godfrey Emsworth parado na minha frente.

Meu cliente fez uma pausa como se estivesse muito emocionado.

– Peço-lhe que continue – eu disse. – Seu problema teve algumas características muito estranhas.

– Ele estava do lado de fora da janela, sr. Holmes, com o rosto comprimido contra o vidro. Eu lhe disse, sr. Holmes, que estivera observando a noite. Quando fiz isso, deixei as cortinas parcialmente abertas. Godfrey apareceu nessa abertura. A janela ia até o chão, e eu pude vê-lo por inteiro, mas foi o seu rosto que chamou minha atenção. Ele estava mortalmente pálido; eu nunca tinha visto homem tão pálido. Imagino que os fantasmas tenham essa aparência, mas os olhos dele encontraram os meus, e eram olhos de um homem vivo. Ele saltou para trás quando percebeu que eu estava olhando para ele e desapareceu na escuridão.

– Havia alguma coisa chocante a respeito desse homem, sr. Holmes. Não era simplesmente aquele rosto de fantasma brilhando na escuridão, branco como um queijo. Era algo mais sutil do que isso, alguma coisa, alguma coisa oculta, furtiva, alguma coisa criminosa, algo muito diferente daquele rapaz franco e corajoso que eu havia conhecido. Isso deixou uma sensação de horror em minha mente.

– Mas quando um homem brinca de soldado durante um ou dois anos com os Boêres, mantém o sangue-frio e age rapidamente. Godfrey mal havia desaparecido, e eu já estava à janela. Havia um trinco complicado, e demorei algum tempo para abri-lo. Pulei rapidamente a janela e corri pela trilha do jardim na direção que achava que ele podia ter tomado.

– O caminho era longo e a luz não muito boa, mas tive a impressão de que alguma coisa estava se movendo à minha frente. Continuei correndo e gritei o nome dele, mas foi inútil. Quando cheguei ao fim do caminho, havia muitas bifurcações que conduziam a várias dependências externas da casa. Fiquei indeciso e, enquanto estava ali, ouvi distintamente o ruído de uma porta que se fechava. Não foi atrás de mim, na casa, mas à minha frente, em algum lugar na escuridão. Aquilo foi suficiente, sr. Holmes, para eu ter certeza de que o que eu vira não era um fantasma. Godfrey havia fugido de mim e fechado uma porta atrás dele. Disso eu tinha certeza.

– Não havia mais nada que eu pudesse fazer, e passei a noite inquieto, revolvendo o assunto em minha cabeça e tentando encontrar alguma teoria que pudesse explicar os fatos. No dia seguinte, encontrei o coronel um pouco mais conciliador, e como sua esposa comentou que na vizinhança havia alguns locais interessantes, isto me deu o ensejo de perguntar se minha presença, por mais uma noite, seria incômoda. O consentimento do velho, dado com certa má vontade, permitiu-me fazer observações durante um dia inteiro. Eu já me convencera de que Godfrey estava num esconderijo em algum lugar próximo, mas onde e por quê eram perguntas que ainda tinham de ser respondidas.

– A casa é tão grande e tão mal planejada, que um regimento poderia esconder-se dentro dela sem que ninguém ficasse sabendo. Se o segredo estivesse na casa, seria difícil desvendá-lo. Mas a porta que ouvi fechar com certeza não era da casa. Eu precisava explorar os jardins e ver o que conseguia descobrir. Não encontrei dificuldades no caminho, pois os velhos estavam ocupados e deixaram-me à vontade.

– A casa tem muitas dependências externas, mas no fim do jardim, há uma construção isolada, de certo porte – suficientemente grande para servir de moradia a um jardineiro ou caçador. Poderia ter sido daí que veio o som daquela porta se fechando? Aproximei-me da casa como quem não quer nada, como se estivesse apenas passeando pelos jardins. Quando cheguei perto, um homenzinho barbado, agitado, de casaco preto e chapéu-coco – não tinha nada de jardineiro – saiu pela porta. Para meu espanto, ele a trancou e pôs a chave no bolso. Depois olhou para mim espantado.

– “O senhor é um hóspede da casa?”, perguntou.

– Expliquei-lhe que sim, e que era amigo de Godfrey.

– “Que pena que ele esteja viajando, porque teria gostado tanto de me ver”, continuei.

– “Perfeitamente. Exatamente”, ele disse, com um ar de culpa. “Sem dúvida o senhor virá novamente numa ocasião mais propícia.” Ele saiu andando, mas quando me virei, observei que ele estava parado me vigiando, meio escondido pelos loureiros, na extremidade do jardim.

– Enquanto passava pela casa, observei-a bem, mas as janelas tinham cortinas pesadas, e até onde foi possível ver, estava vazia. Eu podia estragar meu jogo, e até receber ordens para me retirar da propriedade se fosse audacioso demais, pois eu tinha consciência de que estava sendo observado. Portanto, voltei para a casa e esperei até a noite para continuar minha investigação. Quando tudo ficou escuro e quieto, saltei a janela e fui caminhando, tão silenciosamente quanto possível, até a casa misteriosa.