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– Está vendo? – disse, erguendo significativamente as sobrancelhas.

À luz da lanterna, eu li com um estremecimento de horror: O sinal dos quatro.

– Pelo amor de Deus, o que significa tudo isto? – perguntei.

– Significa assassinato – disse ele, inclinando-se sobre o cadáver. – Ah! Eu já esperava! Olhe aqui!

Holmes apontava para uma coisa que parecia um espinho comprido e escuro, enterrado na pele pouco acima da orelha.

– Parece um espinho – eu disse.

– É um espinho. Pode tirá-lo. Mas tenha cuidado, porque está envenenado.

Tirei-o com dois dedos e saiu tão depressa que quase não deixou marca. Uma pequena mancha de sangue mostrava onde tinha sido a perfuração.

– Tudo isto é um mistério insolúvel para mim. Em vez de se esclarecer, torna-se cada vez mais obscuro.

– Pelo contrário – respondeu Holmes. – A cada instante fica mais claro. Eu só preciso de mais alguns elos para completar a corrente.

Desde que entráramos no quarto, tínhamos esquecido completamente da presença de Tadeu. Ele ainda estava parado à porta, a própria imagem do terror, torcendo as mãos e lamentando-se. De repente, rompeu num choro agudo e lastimoso.

– O tesouro sumiu! – dizia. – Roubaram o tesouro. Lá está o buraco por onde nós o descemos. Fui eu que o ajudei! Eu fui a última pessoa a vê-lo. Deixei-o aqui ontem à noite e ouvi a porta ser trancada enquanto eu descia a escada.

– Que horas eram?

– Dez horas. E agora está morto, a polícia virá e vai suspeitar de mim. Oh, sim! Tenho certeza de que vai. Mas os senhores não pensam assim, não é verdade? Certamente não pensam. Se tivesse sido eu, não iria trazê-los aqui, não é? Oh, meu Deus, sinto que vou enlouquecer.

Ele agitava os braços e batia os pés numa espécie de acesso convulsivo.

– Não há nenhum motivo para estar com medo, sr. Sholto – disse Holmes com bondade, pousando a mão no ombro dele. – Siga o meu conselho e vá ao posto contar o caso à polícia. Ofereça-se para ajudá-los em tudo que for possível. Nós o esperaremos aqui.

O homenzinho obedeceu meio espantado e ouvimos seus passos vacilantes quando desceu a escada no escuro.

Capítulo 6

sherlock holmes faz

uma demonstração

Agora, Watson – disse Holmes esfregando as mãos –, temos meia hora para nós. Vamos empregá-la bem. Como lhe disse, o caso está quase todo esclarecido, mas não devemos cometer erros por causa do excesso de confiança. Embora pareça simples agora, o caso pode ter alguma coisa mais profunda por trás.

– Simples! – exclamei.

– Certamente – disse ele, com um certo ar de professor que dá uma explicação aos alunos. – Faça o favor de sentar-se naquele canto, para que suas pegadas não compliquem o caso. E agora, mãos à obra. Em primeiro lugar, como essas pessoas vieram e como foram embora? A porta não foi aberta desde ontem. E a janela?

Levou a lanterna até lá, murmurando suas observações mais para si mesmo do que para mim:

– Janela fechada por dentro, moldura sólida, não há gonzos de lado. Vamos abri-la: nenhum cano de água perto. Telhado inacessível. Apesar disso, um homem entrou pela janela. Choveu um pouco ontem à noite. Temos a marca de um pé no parapeito. E aqui está uma marca redonda de lama, que se repete ali, no chão e outra vez perto da mesa. Veja aqui, Watson. É realmente uma bela demonstração.

Olhei para os discos nítidos de lama.

– Isso não é uma pegada – eu disse.

– É algo muito mais valioso para nós. É a marca de uma perna-de-pau. Você pode ver, no parapeito da janela temos a marca da bota. Uma bota pesada com um salto largo de metal e ao lado está a marca do toco de madeira.

– É o homem da perna-de-pau!

– Exatamente. Mas havia mais alguém, um cúmplice hábil e eficiente. Você poderia escalar aquele muro, doutor?

Olhei para fora pela janela aberta. A lua brilhava ainda sobre o ângulo da casa. Estávamos a uns 18 metros do chão e, para onde quer que olhasse, não se via nada onde se pudesse pôr o pé, nem sequer uma fenda no muro.

– É completamente impossível.

– Sem auxílio é. Mas suponha que um amigo lhe atirasse aqui de cima esta boa corda que vejo ali no canto, e a amarrasse naquele enorme gancho na parede. Parece-me que, neste caso, se você fosse ágil, poderia subir com perna-de-pau e tudo. Voltaria como veio, e o seu cúmplice iria puxar a corda, tirá-la do gancho, fechar a janela por dentro com o trinco e sair como entrou. Como um pequeno detalhe, deve-se observar – ele continuou, examinando a corda – que o nosso homem da perna-de-pau, apesar de subir com perfeição, não é um marinheiro de profissão. Não tem as mãos calejadas; com a lente, descobri mais de uma mancha de sangue, principalmente no fim da corda, e daí concluí que ele escorregou com tanta velocidade que arrancou pele das mãos.

– Está tudo muito bem, mas a coisa fica cada vez mais ininteligível. E o cúmplice? Como ele entrou?

– Ah, sim, o cúmplice – repetiu Holmes, pensativo. – Há pontos muito interessantes sobre este cúmplice. É por causa dele que este caso deixa de ser vulgar. Creio que este cúmplice fez a sua estréia nos anais do crime neste país, pois casos semelhantes inspiram-se na Índia e, se não me falha a memória, na Senegâmbia.

Eu insisti:

– Mas como ele entrou? A porta está trancada, a janela é inacessível. Será que foi pela chaminé?

– A grade é pequena demais – respondeu Holmes.

– Eu já tinha pensado nisso.

– Então como foi? – continuei insistindo.

– Você não aplica os meus preceitos – disse, meneando a cabeça. – Quantas vezes já lhe disse que, quando tiver eliminado o impossível, o que fica, por mais improvável que seja, deve ser a verdade? Sabemos que ele não entrou pela porta, nem pela janela, nem pela chaminé. Também sabemos que não podia estar escondido no quarto, porque não havia onde se esconder. Logo, por onde ele veio?

– Pelo buraco do teto! – gritei.

– Certamente. Deve ter sido assim... Se tiver a bondade de segurar a lanterna para mim, estenderemos nossas pesquisas ao quarto de cima, o quarto secreto onde foi achado o tesouro.

Subiu pela escada e, segurando uma viga com a outra mão, içou-se até o sótão. Depois, abaixando-se para alcançar a lanterna, segurou-a, enquanto eu subia. O quarto em que entramos tinha mais ou menos 3 metros de comprimento por dois de largura; o chão era todo de barrotes ligados por ripas e gesso, de modo que para andar era preciso saltar de trave em trave. O teto formava a cimalha e era evidentemente a parte interna do verdadeiro telhado. Não havia nenhum tipo de móvel e uma grossa camada de poeira, acumulada durante anos, cobria o chão.

– Olhe para isto – Holmes pôs a mão na parede e disse: – É um alçapão que leva para fora do telhado. Empurrando-o, temos o próprio telhado acabando num ângulo. Portanto, foi por aqui que entrou o no 1. Vamos ver se achamos mais vestígios da sua individualidade.