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Respeitosamente,

Morrison, Morrison e Dodd

p. E. J. C.

– Matilda Briggs não era o nome de uma moça, Watson – disse Holmes, como quem está se recordando. – Era um navio que está associado ao rato gigante de Sumatra, uma história para a qual o mundo ainda não está preparado. Mas, o que é que nós sabemos a respeito de vampiros? Será que isto também está dentro de nossa área de atuação? Qualquer coisa é melhor do que o marasmo, mas, realmente, parece que nós fomos transportados para um conto de fada de Grimm. Estique o braço, Watson, e veja o que o V tem a dizer.

Inclinei-me para trás e apanhei o grande volume do índice a que ele se referia. Holmes equilibrou-o sobre os joelhos, e seus olhos percorreram vagarosa e ternamente o registro de casos antigos misturado com as informações acumuladas durante uma vida interior.

– Viagem do Glória Scott – ele leu. – Esse foi um trabalho difícil. Lembro que você fez um registro deste caso, Watson, embora eu não pudesse felicitá-lo pelo resultado. Victor Lynch, o falsário Venomous, lagarto venenoso ou gila. Um caso extraordinário aquele! Vittoria, a beldade do circo. Vanderbilt e o arrombador de cofres. Víboras, Vigor, o ferreiro prodígio. Ah! Oi! Bom e velho índice. Você não pode enganá-lo. Ouça isto, Watson. Vampirismo na Hungria. E, novamente, Vampiros na Transilvânia. – Ele virou as páginas ansiosamente, mas, após um exame rápido, atento e minucioso, jogou o livro no chão com um resmungo de decepção.

– É bobagem, Watson, bobagem! O que é que temos a ver com cadáveres que andam e que só podem ser conservados em seus túmulos por estacas enfiadas em seus corações? Isto é pura loucura.

– Mas, com certeza – eu disse –, o vampiro nem sempre era um homem morto? Um vivo poderia ter este hábito. Li, por exemplo, a respeito de velhos que chupavam o sangue dos jovens, a fim de conservar a juventude.

– Você está certo, Watson. O livro faz alusão à lenda em uma dessas referências. Mas, devemos levar a sério coisas como essas? Esta agência está firme no chão e aí deve continuar. O mundo é suficientemente grande para nós. Não há necessidade de procurarmos fantasmas. Acho que não podemos levar o sr. Ferguson muito a sério. Possivelmente este bilhete é dele e pode esclarecer um pouco o que o está preocupando.

Ele apanhou uma segunda carta que tinha ficado despercebida sobre a mesa enquanto ele estivera absorvido com a primeira. Começou a lê-la com um sorriso divertido no rosto, que aos poucos foi substituído por uma expressão de interesse e de concentração intensa. Quando terminou, ficou sentado por algum tempo perdido em seus pensamentos, com a carta pendendo de seus dedos. Por fim, saiu de seu devaneio.

– Cheeseman’s, Lamberley. Onde fica Lamberley, Watson?

– Fica em Sussex, sul de Horsham.

– Não é muito longe, hein? E Cheeseman’s?

– Conheço aquela região, Holmes. Está cheia de velhas casas antigas que foram batizadas com os nomes dos homens que as construíram há séculos. Você tem Odley’s, Harvey’s e Carriton’s – as pessoas estão esquecidas, mas o nome delas sobrevive nas casas.

– Justamente – disse Holmes com frieza. Esta era uma das peculiaridades de sua natureza orgulhosa e reservada, que, embora registrasse em seu cérebro qualquer informação nova com muita rapidez e exatidão, raramente deixava que o informante o percebesse. – Acho que vamos saber muito mais a respeito de Cheeseman’s, Lamberley, antes de acabarmos com esta história. A carta é, como eu esperava, de Robert Ferguson. A propósito, ele afirma que o conhece.

– A mim!

– É melhor que você leia isto.

Ele me estendeu a carta. Dizia o seguinte:

Prezado sr. Holmes:

O senhor me foi recomendado pelos meus advogados, mas, na verdade, o assunto é tão extraordinariamente delicado que é muito difícil discuti-lo. O assunto diz respeito a um amigo, em nome de quem estou agindo. Este cavalheiro casou-se, há uns cinco anos, com uma senhora peruana, filha de um comerciante peruano, que ele havia conhecido quando tratava de importação de nitratos. A senhora era muito bonita, mas o fato de ser estrangeira e de seguir uma religião estranha sempre causou uma divergência de interesses e de sentimentos entre marido e mulher, de modo que, depois de algum tempo, seu amor por ela deve ter arrefecido e ele deve ter começado a encarar a sua união como um erro. Ele sentia que havia facetas no caráter dela que ele nunca conseguia sondar ou compreender. Isto era o mais penoso, porque ela era a esposa mais carinhosa que um homem poderia ter – e absolutamente dedicada, segundo parecia.

Agora, quanto ao problema, eu o explicarei melhor quando nos encontrarmos. Na verdade, esta carta é apenas para dar-lhe uma idéia geral da situação e para verificar se o senhor teria interesse no assunto. A senhora começou a manifestar algumas características bastante estranhas ao seu temperamento, geralmente amável e dócil. O cavalheiro havia se casado duas vezes e tinha um filho da primeira mulher. Este rapaz tinha, agora, 15 anos, um jovem encantador e carinhoso, embora, infelizmente, tivesse sido ferido num acidente na infância. A esposa foi flagrada duas vezes agredindo este pobre rapaz, sem que tivesse havido provocação alguma. Uma vez ela o atacou com uma vara, deixando um grande vergão em seu braço.

Mas, isto é insignificante quando comparado com sua conduta para com seu próprio filho, um menino adorável, com menos de 1 ano de idade. Em certa ocasião, mais ou menos há um mês, esta criança havia sido deixada só pela ama durante alguns minutos. Um grito de dor da criança fez a ama voltar. Quando entrou correndo no quarto, ela viu sua patroa debruçada sobre a criança e, aparentemente, mordendo o seu pescoço. Havia uma pequena ferida no pescoço, de onde saía um fluxo de sangue. A ama ficou tão horrorizada, que quis chamar o marido, mas a senhora lhe implorou para que não o fizesse e deu-lhe 5 libras em troca do seu silêncio. Nenhuma explicação foi dada, e naquela ocasião o assunto foi esquecido.

Mas deixou uma impressão terrível na mente da ama, e desde então ela passou a vigiar a patroa de perto e a proteger atentamente a criança, que ela amava, com carinho. Parecia-lhe que, da mesma maneira que ela vigiava a mãe, a mãe também a vigiava, e que cada vez que ela era obrigada a deixar a criança sozinha, a mãe estava esperando para se aproximar da criança. Dia e noite a ama protegia a criança, e dia e noite a mãe silenciosa e atenta parecia estar à espreita, como um lobo que espera pela ovelha. Isto pode lhe parecer inacreditável, mas peço-lhe que leve isto a sério, pois a vida de uma criança e a sanidade mental de um homem podem depender disto.

Finalmente chegou o dia terrível em que os fatos não puderam mais ser ocultados do marido. Os nervos da ama haviam cedido; ela não podia mais suportar a tensão e contou tudo ao patrão. Para ele, parecia uma história assombrosa, como agora deve lhe parecer. Ele sabia que a mulher era uma esposa amorosa, e exceto pelos ataques ao enteado, uma mãe amorosa. Por que, então, ela iria ferir seu próprio filhinho tão querido? Ele disse à ama que ela estava sonhando, que suas suspeitas eram de uma lunática, e que essas acusações contra a sua patroa não podiam ser toleradas. Enquanto estavam conversando, ouviram um grito de dor. Ama e patrão correram para o quarto da criança. Imagine, sr. Holmes, o que ele sentiu, quando viu sua esposa levantar-se da posição em que estava, ajoelhada ao lado do berço, e viu sangue no pescoço da criança e no lençol. Com um grito de horror, ele virou o rosto de sua mulher para a luz e viu sangue em volta de seus lábios. – Foi ela – ela, acima de qualquer dúvida – quem havia bebido o sangue da criança.