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– Eu deveria saber. Pago por isso metade da minha pensão de guerra.

– Então farei de você o meu “Guia Útil para o Turfe”. E o que sabe a respeito de sir Robert Norberton? O nome lhe lembra alguma coisa?

– Bem, eu diria que sim. Ele mora em Shoscombe Old Place, e eu conheço bem o lugar, porque uma vez passei o verão lá. Norberton quase entrou na sua área de atuação uma vez.

– Como foi isso?

– Foi quando ele chicoteou Sam Brewer, o conhecido agiota da rua Curzon, no Newmarket Heath. Ele quase matou o homem.

– Ah! Ele parece ser uma pessoa interessante! Ele se satisfaz freqüentemente desta forma?

– Bem, ele tem fama de ser um homem perigoso. Ele é um dos cavaleiros mais audaciosos da Inglaterra – foi o segundo no Grande Prêmio Nacional, há alguns anos. Ele é um daqueles homens que ultrapassam a sua verdadeira geração. Ele devia ter vivido na época da Regência como boxeador, atleta, turfista, amante de belas mulheres, e segundo a opinião corrente, tão afogado em dívidas que talvez nunca consiga vir à tona.

– Excelente, Watson. Um perfil eloqüente. Parece que conheço o homem. Agora, você pode me dar uma idéia do que é Shoscombe Old Place?

– Apenas que fica situada no centro do parque Shoscombe, e que o famoso haras de Shoscombe e as instalações para treinamento estão lá.

– E o chefe dos treinadores – disse Holmes – é John Mason. Você não precisa se espantar por eu saber disto, Watson, porque esta é uma carta dele. Mas vamos continuar falando a respeito de Shoscombe. Parece que encontrei um veio rico.

– Existem os spaniels de Shoscombe – eu disse. – Você ouve falar deles em todas as competições de cachorros. É a linhagem de cachorros mais perfeita da Inglaterra. Eles são o orgulho especial da senhora de Shoscombe Old Place.

– A mulher de sir Robert Norberton, suponho!

– Sir Robert nunca se casou. Melhor assim, eu acho, considerando suas perspectivas. Ele mora com a irmã viúva, lady Beatrice Falder.

– Você quer dizer que ela mora com ele?

– Não, não. A propriedade pertencia ao falecido marido dela, sir James. Norberton não tem direito sobre a propriedade. Ela tem apenas o usufruto, e as propriedades pertencem ao irmão do marido. Enquanto isso, ela recebe os aluguéis todo ano.

– E o irmão Robert gasta esses aluguéis?

– É mais ou menos isso. Ele é um sujeito terrível e deve tornar a vida dela muito difícil. Entretanto, soube que ela é dedicada a ele. Mas o que há de errado em Shoscombe?

– Ah, é justamente isso que quero descobrir. E aqui está, espero, o homem que poderá dizer-nos alguma coisa.

A porta se abriu e o criado deixou entrar um homem alto, de rosto escanhoado, com a expressão firme e austera que só é encontrada naqueles que têm que dominar cavalos ou rapazes. O sr. John Mason tinha muitos cavalos e rapazes sob o seu controle, e ele parecia preparado para a tarefa. Inclinou-se com fria autoconfiança e sentou-se na cadeira que Holmes lhe indicou.

– O senhor recebeu o meu bilhete, sr. Holmes?

– Sim, mas o bilhete não explicava nada.

– Era uma coisa delicada demais para que eu pusesse os detalhes numa folha de papel. E complicada demais. Eu só poderia fazer isso pessoalmente.

– Bem, estamos à sua disposição.

– Em primeiro lugar, sr. Holmes, acho que o meu patrão, sir Robert, ficou louco.

Holmes ergueu as sobrancelhas. – Estamos em Baker Street, não em Harley Street* – ele disse. – Mas por que o senhor diz isso?

– Bem, senhor, quando um homem faz uma coisa excêntrica ou duas coisas excêntricas, deve haver um motivo para isso, mas quando tudo o que ele faz é excêntrico, então o senhor começa a se espantar. Acredito que Shoscombe Prince e o Derby viraram-lhe a cabeça.

– É um potro que vai participar da corrida?

– O melhor da Inglaterra, sr. Holmes. Se alguém sabe disso, sou eu. Agora, falarei abertamente com os senhores, porque sei que são cavalheiros honrados, e que isto não sairá desta sala. Sir Robert resolveu vencer este Derby. Ele está afundado até o pescoço, e esta é a sua última chance. Tudo que ele pôde levantar ou pedir emprestado empregou no cavalo – e com excelentes possibilidades. Agora o senhor pode receber 40 por 1, mas estava mais perto de 100 quando ele começou a investir.

– Mas como pode ser isso, se o cavalo é tão bom?

– O público não sabe que ele é tão bom. Sir Robert tem sido inteligente demais para os agenciadores de apostas. Ele usa o cavalo que é meio-irmão de Prince para os seus passeios. O senhor não consegue distingui-los. Mas, quando galopam, há uma diferença entre eles de dois corpos em 800 metros. Ele não pensa em mais nada, a não ser no cavalo e na corrida. Toda a sua vida se resume nisto. Até agora ele está conseguindo manter afastados os agiotas. Se o Prince falhar, ele estará perdido.

– Parece um jogo um tanto desesperado, mas onde é que entra a loucura?

– Bem, em primeiro lugar, o senhor só precisa olhar para ele. Não acredito que durma à noite. Ele fica nos estábulos o tempo todo. Seu olhar está desvairado. Tem sido demais para os seus nervos. Depois, há o seu procedimento para com lady Beatrice!

– Ah! Como é isto?

– Eles sempre foram muito amigos. Tinham os mesmos gostos, e ela amava os cavalos tanto quanto ele. Todos os dias, na mesma hora, ela ia aos estábulos para vê-los – e, acima de tudo, ela amava o Prince. Ele levantava as orelhas quando ouvia o barulho das rodas de sua carruagem no cascalho, e todas as manhãs ia trotando até a carruagem para ganhar o seu torrão de açúcar. Mas agora tudo isto acabou.

– Por quê?

– Bem, ela parece ter perdido todo o interesse pelos cavalos. Faz agora uma semana que ela passa de carruagem pelos estábulos sem dizer nem mesmo bom-dia!

– Você acha que houve uma briga?

– E uma briga séria, selvagem, rancorosa. Por que outro motivo teria ele dado o spaniel de estimação dela, que ela amava como se fosse seu filho? Ele deu o animal há alguns dias para o velho Barnes, que toma conta do Green Dragon, a 4 quilômetros de distância, em Crendall.

– Isto realmente parece esquisito.

– É claro que, com seu coração frágil e sua hidropisia, não se poderia esperar que ela saísse muito com ele, mas ele passava duas horas todas as tardes no quarto dela. Ele fazia o máximo, porque ela era uma excelente amiga para ele. Mas isto também acabou. Ele nunca se aproxima dela. E ela está sentida. Ela está deprimida, mal-humorada e está bebendo, sr. Holmes – bebendo como um peixe.

– Ela bebia antes desse afastamento?

– Bem, ela bebia um copo ou outro, mas agora bebe freqüentemente uma garrafa inteira numa tarde. Foi o que me contou Stephens, o mordomo. Está tudo mudado, sr. Holmes, e existe alguma coisa perversa e podre em relação a isso. Mas, por outro lado, o que o patrão faz lá na cripta da velha igreja à noite? E quem é o homem que se encontra com ele lá?

Holmes esfregou as mãos.

– Continue, sr. Mason. Está ficando cada vez mais interessante.

– Foi o mordomo que o viu sair. Era meia-noite, e chovia a cântaros. De modo que, na noite seguinte, eu estava em casa acordado, e de fato o patrão tornou a sair. Stephens e eu fomos atrás dele, mas foi um trabalho desagradável, porque teria sido horrível se ele nos visse. Ele é um homem terrível com os punhos e quando se zanga não tem respeito pelas pessoas. De modo que evitamos nos aproximar muito, mas pudemos observá-lo perfeitamente. Ele estava se dirigindo para a cripta mal-assombrada, e havia um homem esperando por ele lá.

– O que é esta cripta mal-assombrada?

– Bem, senhor, há uma velha capela em ruínas no parque. É tão antiga que ninguém conseguiu determinar a sua data. E debaixo dela há uma cripta que tem má fama entre nós. Durante o dia é um lugar escuro, úmido, deserto, mas poucos naquele Condado teriam coragem de se aproximar dela à noite. Mas o patrão não tem medo. Ele nunca temeu coisa alguma na vida. Mas o que será que ele faz lá à noite?