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– É por isso que estou aqui.

– Como vai indo o caso?

– Não deu em nada. Tive de soltar dois dos prisioneiros e não há provas contra os outros dois.

– Não há de ser nada. Vamos dar-lhe outros dois para o lugar desses. Mas tem que ficar sob as minhas ordens. Você vai receber todo o crédito oficial, mas tem que seguir as minhas instruções. Está combinado?

– Perfeitamente, se me ajudar a pôr a mão nos homens.

– Bom. Em primeiro lugar, quero uma embarcação da polícia, rápida, uma lancha a vapor, que deve estar nas escadas de Westminster às 19 horas.

– Isso é fácil, porque há sempre uma por lá. Mas posso telefonar para me certificar.

– Quero também dois homens valentes para o caso de resistência.

– Levaremos dois ou três na embarcação. O que mais?

– Quando prendermos os homens, pegaremos o tesouro. Garanto que será um grande prazer para o meu amigo aqui levar a caixa diretamente para a moça a quem metade dele pertence por direito. Deixe que ela seja a primeira a abri-lo. Hein, Watson?

– Seria um grande prazer para mim.

– Isso não será uma maneira correta de proceder – disse Jones meneando a cabeça. – Mas a coisa toda é irregular, e parece-me que o melhor é fechar os olhos. Depois, o tesouro terá de ser entregue às autoridades até a conclusão do inquérito oficial.

– Naturalmente. Não custa nada. Há outro ponto. Eu queria muito saber de alguns detalhes sobre este caso do próprio Jonathan Small. Sabe que eu gosto de estudar os detalhes dos casos que investigo. Não fará objeção a uma entrevista particular com ele, aqui na minha casa ou em qualquer outro lugar, desde que ele seja vigiado?

– Bem, você tem o domínio da situação. Eu ainda não tive nenhuma prova da existência desse Small. Mas se você o apanhar, não vejo como poderei recusar-lhe a entrevista com ele.

– Então está entendido.

– Perfeitamente. Há mais alguma coisa?

– Apenas insisto que jante conosco, o que faremos daqui a meia hora. Tenho ostras e um casal de patos selvagens, com alguns vinhos brancos escolhidos. Watson, você ainda não conheceu os meus méritos como dono de casa.

Capítulo 10

O fim do ilhéu

Nossa refeição foi alegre. Quando estava disposto, Holmes conversava maravilhosamente, e naquela noite estava muito disposto. Parecia estar numa grande excitação nervosa. Nunca o vira tão brilhante. Falou sobre vários assuntos em rápida sucessão: autos sacramentais, cerâmica medieval, violinos Stradivarius, o budismo no Ceilão e sobre os navios de guerra do futuro, tratando de cada um como se tivesse feito um estudo especial.

Seu humor brilhante indicava a reação à depressão dos dias anteriores.

Jones mostrou um temperamento sociável nas suas horas de lazer e tratou de jantar como um bon vivant. Eu me sentia feliz com a idéia de que estávamos perto do fim da nossa tarefa e apropriei-me um pouco da alegria de Holmes. Durante o jantar, nenhum de nós mencionou o caso que nos reunira ali.

Depois da refeição, Holmes olhou para o relógio e encheu três cálices de vinho do Porto, dizendo:

– Um brinde ao sucesso da nossa expedição. E há muito que já devíamos ter saído. Tem uma pistola, Watson?

– Tenho o meu velho revólver de serviço na minha escrivaninha.

– É melhor levá-lo. Sempre é bom estar preparado. O cabriolé já está esperando. Pedi que viesse às 18:30h.

Quando chegamos ao cais de Westminster, um pouco depois das sete, a lancha já nos esperava. Holmes examinou-a.

– Há alguma coisa que revele que é da polícia?

– A lanterna verde do lado.

– Então mande tirar.

Feita a mudança, entramos e partimos. Sentamonos à popa. Havia um homem ao leme, um maquinista e dois corpulentos agentes da polícia à frente.

– Para onde vamos? – perguntou Jones.

– Para a Torre. Diga-lhes que parem em frente a Jacobson’s Yard.

A embarcação era realmente muito rápida. Passamos pelas filas de barcaças carregadas como se elas estivessem paradas. Holmes sorriu com satisfação quando alcançamos um barco a vapor e o ultrapassamos.

– Acho que somos capazes de pegar qualquer coisa no rio.

– Não digo tanto. Mas poucas lanchas podem competir com esta.

– Temos que pegar a Aurora e ela tem fama de ser muito rápida. Vou contar-lhe o que aconteceu, Watson. Lembra-se de que eu estava aborrecido por me sentir tolhido por um obstáculo tão insignificante?

– Lembro.

– Pois bem, dei um descanso à minha mente mergulhando numa experiência química. Um dos nossos maiores estadistas disse que a melhor maneira de descansar era mudar de trabalho. E é mesmo. Quando consegui dissolver o hidrocarbono em que trabalhava, voltei ao problema de Sholto e pensei de novo sobre o caso. Os meus rapazes tinham subido e descido o rio sem resultado. A lancha não estava em nenhum desembarcadouro ou cais, nem tinha voltado. Mas dificilmente iriam afundá-la para apagar seus vestígios, mas ficava de pé a hipótese se todo o resto falhasse. Eu sabia que esse Small era astuto, mas não o julgava capaz de uma idéia sutil. Essas idéias costumam resultar de uma educação apurada. Refleti que, como ele estava em Londres há algum tempo, já que temos prova de que mantinha vigilância constante sobre Pondicherry Lodge, dificilmente poderia sair do país de repente, mas precisaria de algum tempo, mesmo que fosse apenas um dia para organizar suas coisas. Era esta a probabilidade, de qualquer modo.

– O argumento me parece fraco – eu disse.

– Certamente ele preparou tudo antes de pôr mãos à obra.

– Não creio. O seu covil deve ser seguro demais para que se desfizesse dele antes de ter concluído o negócio. Mas há outra coisa: Jonathan Small deve ter compreendido que o aspecto peculiar do companheiro, por mais que o tenha vestido e disfarçado, iria levantar suspeitas e possivelmente seria associado à tragédia de Norwood. Ele é bastante esperto para perceber isto. Saíram do esconderijo de noite, protegidos pela escuridão, e ele devia querer estar de volta antes de o dia clarear. Ora, eles foram buscar a lancha depois das três horas, conforme disse a sra. Smith. Eles tinham pouco tempo, e o movimento ia começar dali a uma hora, mais ou menos. Portanto, achei que não deviam ter ido para muito longe. Pagaram bem o silêncio de Smith, reservaram a lancha para o momento de fugir e correram para casa com o cofre. Em duas noites tinham tempo de ver pelos jornais a direção que a polícia tomava, e se houvesse alguma suspeita, aproveitariam a noite para fugir e pegar algum navio em Gravesend ou em Down, onde sem dúvida já tinham comprado passagens para a América ou para as colônias.

– Mas, e a lancha? Não podiam tê-la levado para casa.

– Exatamente. Compreendi que, apesar da sua invisibilidade, a lancha não podia estar longe. Imagineime no lugar de Small e pensei no que faria nesse caso. Ele provavelmente achou que mandar a lancha de volta ou guardá-la num cais seriam maneiras de facilitar a perseguição se a polícia estivesse na pista dele. Como poderia escondê-la e tê-la à mão quando precisasse? Então pensei no que eu faria se me visse numa situação dessas. Só havia um meio. Levar a lancha a um estaleiro para mudar suas características. Poderia então voltar para o ancoradouro, onde ficaria realmente escondida e, ao mesmo tempo, à minha disposição em poucas horas.