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O dia estava começando muito bem.

Às nove horas da manhã Lantz pegou o telefone e ligou para a Aerolineas Argentinas.

— A que horas parte o primeiro vôo para Buenos Aires?

O 747 chegou ao Aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, às cinco horas da tarde seguinte. Fora um longo vôo, mas Harry Lantz não se importara. Cinqüenta mil dólares para transmitir uma mensagem. Sentiu um ímpeto de excitação no instante em que as rodas do avião tocaram de leve na pista. Não visitava a Argentina há quase cinco anos. Seria divertido renovar antigas amizades.

Ao deixar o avião, Harry Lantz ficou aturdido com a lufada de ar quente. Mas é claro, pensou ele. É verão aqui.

Durante a viagem de táxi para o centro da cidade, Lantz divertiu-se ao constatar que os grafites nas paredes dos prédios e nas calçadas não haviam mudado. PLEBISCITO LAS PELOTAS (Foda-se o plebiscito). MILITARES, ASSESINOS (Militares, assassinos). TENEMOS HAMBRE (Estamos com fome). MARIHUANA LIBRE (Maconha livre). DROGA, SEXO Y MUCHO ROCK (Droga, sexo e muito rock). JUICIO Y CASTIGO A LOS CULPABLES (Julgamento e punição para os culpados).

Isso mesmo, era bom estar de volta.

A sesta já terminara, e as ruas estavam apinhadas de pessoas vindo e seguindo indolentemente para encontros. Quando o táxi chegou ao Hotel El Conquistador, no coração do elegante Barrio Norte, Lantz pagou ao motorista com uma nota de um milhão de pesos.

— Fique com o troco — disse ele.

O dinheiro argentino era uma piada. Ele se registrou na recepção, no vasto e moderno saguão, pegou um exemplar do Buenos Aires Herald e outro do La Prensa e deixou que o assistente da gerência o conduzisse à suíte. Sessenta dólares por dia por um quarto, banheiro, sala de estar e cozinha, com ar-condicionado e televisão. Em Washington, um lugar assim custaria um braço e uma perna, pensou Harry Lantz. Resolverei o problema com a tal de Neusa amanhã e ficarei mais alguns dias aqui para me divertir.

Mais de duas semanas se passaram antes que Harry Lantz conseguisse localizar Neusa Muñez.

Sua busca começou pelas listas telefônicas da cidade. Lantz verificou inicialmente os lugares no coração da cidade: Área Constitución, Plaza San Martin, Barrio Norte, Catelinas Norte. Em nenhum deles estava registrada uma Neusa Muñez. Também não havia nenhuma em Bahia Blanca ou Mar del Plata.

Onde será que ela está?, especulou Lantz. Saiu para a rua, procurando antigos contatos. Foi a La Biela, e o bartender exclamou:

— Señor Lantz! Por Dios... ouvi dizer que tinha morrido.

Lantz sorriu.

— E morri mesmo, mas senti muito sua falta, Antonio, e resolvi voltar.

— O que está fazendo em Buenos Aires? Lantz imprimiu à voz um tom pensativo:

— Vim procurar uma velha namorada. Deveríamos ter casado, mas a família dela mudou e eu a perdi de vista. Seu nome é Neusa Muñez.

O bartender coçou a cabeça.

— Nunca ouvi falar. Lo siento.

— Pode perguntar por aí, Antonio?

— Por qué no?

A próxima visita de Lantz foi a um amigo na chefatuia de polícia.

— Lantz! Harry Lantz! Dios! Qué pasa?

— Olá, Jorge. É um prazer tornar a vê-lo, amigo.

— A última notícia que tive de você é que havia sido expulso da CIA.

Harry Lantz soltou uma risada.

— Nada disso, amigo. Eles me suplicaram que continuasse. Mas eu queria me estabelecer por conta própria.

— É mesmo? E qual é o seu negócio?

— Abri uma agência de detetive. E, para ser franco, foi isso que me trouxe a Buenos Aires. Um cliente meu morreu há poucas semanas. Deixou um bocado de dinheiro para a filha, e estou tentando localizá-la. A única informação de que disponho é de que ela mora num apartamento em algum lugar de Buenos Aires.

— Como ela se chama?

— Neusa Muñez.

— Espere um instante.

O instante prolongou-se por meia hora.

— Desculpe, amigo, mas não posso ajudá-lo. O nome não consta do computador ou de qualquer dos nossos arquivos.

— Está bem. Se descobrir alguma coisa sobre ela, estou no El Conquistador.

— Bueno.

Lantz visitou os bares em seguida. Pontos de encontro conhecidos. Pepe Gonzalez e Almeida, Café Tabac.

— Buenas tardes, amigo. Soy de los Estados Unidos. Estoy buscando una mujer. El nombre es Neusa Muñez. Es una emergência.

— Lo siento, señor. No la conozco.

A resposta era a mesma por toda parte. Ninguém jamais ouviu falar da porra da mulher.

Harry Lantz circulou por La Boca, a pitoresca área do cais em que se pode ver velhos navios enferrujando, ancorados no rio. Ninguém por ali conhecia Neusa Muñez. Pela primeira vez, Harry Lantz começou a sentir que poderia estar empenhado numa busca inútil.

Foi no Pilar, um pequeno bar no bairro de Floresta, que sua sorte mudou de repente. Era uma noite de sexta-feira, e o bar estava repleto de trabalhadores. Lantz levou dez minutos para receber a atenção do bartender. Antes que Lantz chegasse à metade de seu discurso preparado, o bartender interrompeu-o:

— Neusa Muñez? Sí, eu a conheço. Se ela quiser falar com você, estará aqui mañana, por volta de meia-noite.

Na noite seguinte Lantz voltou ao Pilar às onze horas e ficou observando o bar ir lotando pouco a pouco. Perto de meia-noite, ele se descobriu mais e mais nervoso. E se ela não aparecesse? E se fosse a Neusa Muñez errada?

Lantz observou um grupo de moças rindo entrar no bar. Elas foram se juntar a alguns rapazes que ocupavam uma mesa. Ela tem de aparecer, pensou Lantz. Se não vier, posso dar adeus a cinqüenta mil dólares.

Especulou como seria a mulher. Devia ser deslumbrante. Ele estava autorizado a oferecer ao namorado dela, Angel, dois milhões de dólares para assassinar alguém. O que significava que o tal de Angel devia ter dinheiro que não acabava mais. Podia muito bem sustentar uma amante linda e jovem. Mais do que isso, podia sustentar uma dúzia de amantes assim. A tal Neusa devia ser uma atriz ou modelo. Talvez até eu possa me divertir um pouco com ela antes de deixar a cidade, pensou Harry Lantz, feliz. Nada como combinar negócios e prazer.

A porta se abriu e Lantz olhou, em expectativa. Uma mulher entrou, sozinha. Era de meia-idade e desgraciosa, o corpo enorme, inchado, seios caídos, que balançavam quando ela andava. O rosto era bexiguento, e os cabelos estavam pintados de louro, mas a pele morena indicava o sangue mestizo, herdado de uma ancestral índia que fora para a cama com um espanhol. Vestia uma saia malfeita e uma suéter destinada a uma mulher muito mais jovem. Uma vigarista sem sorte, concluiu Lantz. Mas quem poderia querer trepar com uma mulher assim?

A mulher correu os olhos vazios e apáticos pelo bar. Acenou com a cabeça vagamente para diversas pessoas e depois abriu caminho pela multidão. Foi até o balcão.

— Quer me pagar um drinque?

Ela tinha um sotaque espanhol carregado e de perto era ainda mais desgraciosa. Parece uma vaca gorda que não dá mais leite, pensou Harry Lantz. E está de porre.

— Não enche, irmã.

— Esteban disse que você está à minha procura. Lantz ficou aturdido.

— Quem?

— Esteban. O bartender.