Выбрать главу

Harry Lantz ainda não podia aceitar.

— Ele deve ter se enganado. Estou procurando por Neusa Muñez.

— Sí. Yo soy Neusa Muñez.

Só que a errada, pensou Harry Lantz. Mas que merda!

— É amiga de Angel?

Ela sorriu, meio embriagada.

— Sí.

Harry Lantz recuperou-se no mesmo instante.

— Bom, bom... — Forçou um sorriso. — Podemos ir para uma mesa no canto e conversar?

A mulher acenou com a cabeça, indiferente.

— Está bem.

Eles abriram caminho pelo bar enfumaçado. Quando sentaram, Harry Lantz disse:

— Eu gostaria de falar sobre...

— Não quer me pagar um rum? Lantz assentiu.

— Claro.

Um garçom se aproximou, usando um avental imundo. Lantz pediu:

— Um rum e um uísque com soda.

— O rum é duplo, hein? — disse Neusa Muñez. Depois que o garçom se afastou, Lantz virou-se para a mulher sentada a seu lado.

— Quero me encontrar com Angel. Ela o estudou com olhos opacos.

— Para quê? Lantz baixou a voz.

— Tenho um presente para ele.

— Que tipo de presente?

— Dois milhões de dólares.

O garçom trouxe os drinques. Harry Lantz levantou o copo e disse:

— A nós.

— A nós. — Ela bebeu tudo de um só gole. — Por que quer dar dois milhões de dólares a Angel?

— É uma coisa que devo discutir com ele pessoalmente.

— Isso não é possível. Angel não fala com ninguém.

— Por dois milhões de dólares...

— Posso tomar outro rum? Um duplo, hein? Essa não! Ela parece que está prestes a apagar!

— Claro. — Lantz chamou o garçom e pediu o drinque. — Conhece Angel há muito tempo?

Ele procurou imprimir um tom casual à voz. A mulher deu de ombros.

— Conheço.

— Ele deve ser um homem interessante.

Os olhos vazios de Neusa Muñez estavam fixados num ponto da mesa à sua frente.

É demais!, pensou Harry Lantz. É como tentar conversar com uma parede!

O rum chegou, e ela tomou tudo num longo gole. Ela tem o corpo de uma vaca e as maneiras de um porco.

— Quando posso me encontrar com Angel? Neusa Muñez fez um esforço para se levantar.

— Eu já disse que ele não fala com ninguém. Adios. Harry Lantz foi dominado por um súbito pânico.

— Ei, espere um pouco! Não vá embora! Ela parou e fitou-o com os olhos injetados.

— O que você quer?

— Sente-se e direi o que quero. A mulher arriou na cadeira.

— Preciso de um drinque, hein?

Harry Lantz estava aturdido. Que porra de homem é esse Angel? Sua amante não só é a mulher mais feia de toda a América do Sul, mas é também uma bêbada.

Lantz não gostava de lidar com bêbados. Não mereciam confiança. Por outro lado, ele detestava a perspectiva de perder sua comissão de cinqüenta mil dólares.

Observou Neusa Muñez tomar o rum. Especulou quantas doses ela já teria bebido antes de encontrá-lo. Lantz sorriu e disse, persuasivo:

— Se eu não puder falar com Angel, Neusa, como poderei tratar de negócios com ele?

— É muito simples. Você me diz o que quer. Eu digo a Angel. Se ele disser sí, eu digo sí. Se ele disser não, eu digo não.

Harry não gostava da idéia de usá-la como intermediária, mas não tinha alternativa.

— Já ouviu falar de Marin Groza?

— Não.

Claro que ela nunca ouvira. Porque não era o nome de uma marca de rum. Aquela mulher estúpida ia transmitir o recado completamente errado e estragar seu negócio.

— Preciso de um trago, hein? Lantz afagou-lhe a mão gorda.

— Está certo. — Pediu outra dose dupla de rum. — Angel saberá quem é Groza. Você apenas diz Marin Groza. Ele saberá.

— E depois?

Ela era ainda mais estúpida do que parecia. O que ela pensava que Angel deveria fazer por dois milhões de dólares? Dar um beijo no cara? Lantz disse, com muito cuidado:

— As pessoas que me mandaram aqui querem que ele seja liquidado.

— Como assim? Oh, Deus!

— Morto.

— Ahn... — Ela balançou a cabeça, indiferente. — Perguntarei a Angel. — Sua voz estava cada vez mais engrolada. — Como é mesmo o nome do homem?

Lantz tinha vontade de sacudi-la.

— Groza. Marin Groza.

— Está bem. Meu neném está fora da cidade. Telefono para ele esta noite e me encontro aqui com você amanhã. Posso tomar outro rum?

Neusa Muñez estava se revelando um pesadelo.

Na noite seguinte Harry Lantz sentou à mesma mesa no bar, de meia-noite às quatro horas da madrugada, quando a casa fechou. Neusa Muñez não apareceu.

— Sabe onde ela mora? — Lantz perguntou ao bartender.

O bartender fitou-o com expressão inocente.

— Quién sabe?

A sacana estragara tudo. Como um homem supostamente tão eficiente quanto Angel podia se ligar a uma viciada em rum? Harry Lantz orgulhava-se de ser um profissional. Era esperto demais para entrar num negócio como aquele sem antes fazer algumas indagações. O que mais o impressionara fora a informação de que os israelenses fixaram o preço de um milhão de dólares pela cabeça de Angel. Um milhão compraria uma vida inteira de bebida e vigaristas jovens. Mas ele podia esquecer isso e podia esquecer também os seus cinqüenta mil. Seu único elo com Angel se rompera. Teria de procurar O Homem e comunicar que fracassara.

Não vou falar com ele por enquanto, decidiu Harry Lantz. Talvez ela ainda volte aqui. Talvez os outros bares esgotem seu estoque de rum. Talvez eu estivesse maluco quando aceitei a porra desta missão.

6

Na noite seguinte, às onze horas, Harry Lantz estava sentado à mesma mesa no Pilar, mastigando amendoins e roendo as unhas. Às duas horas da madrugada ele viu Neusa Muñez passar pela porta, cambaleando. O coração de Harry logo disparou. Ficou observando a mulher se encaminhar para a sua mesa.

— Oi — murmurou ela, arriando na cadeira.

— O que aconteceu com você? — perguntou Harry. Ele tinha de fazer um grande esforço para controlar sua raiva. Ela piscou os olhos, surpresa.

— Hein?

— Ficou de se encontrar aqui comigo ontem à noite.

— É mesmo?

— Marcamos um encontro, Neusa.

— Ahn... Fui ao cinema com uma amiga. Está passando um filme novo, entende? É sobre um homem que se apaixona pela porra de uma freira e...

Lantz sentia-se tão frustrado que podia até chorar. O que Angel pode ver nesta mulher estúpida e bêbada? Ela deve ter uma boceta de ouro, concluiu Lantz.

— Neusa... você se lembrou de falar com Angel? Ela o fitou distraída, procurando compreender a pergunta.

— Angel? Sí. Posso tomar um trago, hein?

Ele pediu uma dose dupla de rum para a mulher e um uísque também duplo para sí mesmo. Precisava desesperadamente da bebida.

— E o que Angel disse, Neusa?

— Angel? Ah, ele disse sim. Está bem. Harry Lantz sentiu um alívio intenso.

— Isso é maravilhoso!

Ele não estava mais interessado em sua missão como mensageiro. Tinha uma idéia melhor. Aquela bêbada idiota ia levá-lo a Angel. Uma recompensa em dinheiro de um milhão de dólares.

Ele ficou observando-a tomar o rum, derramando um pouco pela blusa já suja.

— O que mais Angel disse?

A mulher franziu a testa em concentração.

— Angel disse que quer saber quem são vocês. Lantz ofereceu seu sorriso mais cativante.