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— Afinal, é uma grande honra e...

— E ser sua esposa também é uma grande honra. Nada é mais importante para mim do que você e as crianças. Eu nunca o deixaria. Esta cidade não pode encontrar outro médico como você, mas tudo o que o governo precisa fazer para encontrar alguém melhor do que eu para a embaixada é procurar nas páginas amarelas.

Edward abraçou-a.

— Tem certeza?

— Absoluta. Foi emocionante ser convidada. Isso é suficiente para...

A porta se abriu e Beth e Tim entraram correndo. Beth disse:

— Acabei de ligar para Virgil e contei a ele que você vai ser embaixadora.

— Então é melhor ligar de novo e dizer que eu não vou ser.

— Por que não? — perguntou Beth.

— Sua mãe acaba de decidir que vai continuar aqui.

— Por quê? — lamentou Beth. — Eu nunca estive na Romênia. Nunca estive em lugar nenhum.

— Eu também não. — Tim virou-se para Beth. — Eu falei que a gente nunca conseguiria escapar daqui.

— O assunto está encerrado — declarou Mary.

Na manhã seguinte Mary ligou para o número que o presidente lhe dera. Quando a telefonista atendeu, ela disse:

— Aqui é a senhora Edward Ashley. Creio que o assessor do presidente... o senhor Greene... está esperando por minha ligação.

— Um momento, por favor. Uma voz de homem atendeu:

— Senhora Ashley?

— Eu mesma. Pode fazer o favor de transmitir um recado meu ao presidente?

— Claro.

— Pode dizer a ele, por gentileza, que me sinto muito lisonjeada com o convite, mas as atividades profissionais de meu marido não lhe permitem sair daqui. Assim, seria impossível eu aceitar. Espero que ele compreenda.

— Transmitirei o recado. — A voz era neutra. — Obrigado, senhora Ashley.

O telefone ficou mudo. Mary largou o fone no gancho, devagar. Estava feito. Por um breve momento, um sonho fascinante lhe fora oferecido, mas não passava disso.

Um sonho. Este é o meu mundo real. E agora é melhor eu me aprontar para a minha próxima aula de ciência política.

Manama, Bahrein

A casa de pedra caiada de branco era anônima, escondida entre dezenas de casas idênticas, a pouca distância a pé dos souks, os enormes e pitorescos mercados ao ar livre. Pertencia a um mercador que simpatizava com a causa da organização conhecida como Patriotas pela Liberdade.

— Precisaremos da casa apenas por um dia — dissera-lhe uma voz pelo telefone.

Tudo fora combinado. Agora, o presidente estava falando aos homens reunidos na sala.

— Surgiu um problema — disse ele. — A moção que aprovamos recentemente apresenta um problema.

— Que espécie de problema? — perguntou Balder.

— O intermediário que escolhemos... Harry Lantz... está morto.

— Morto? Como aconteceu?

— Foi assassinado. Encontraram o corpo flutuando no porto em Buenos Aires.

— A polícia tem alguma idéia do culpado? O caso pode ser relacionado conosco de alguma forma?

— Não. Estamos absolutamente seguros.

— E o nosso plano? — perguntou Thor. — Podemos executá-lo?

— Não no momento. Não sabemos como entrar em contato com Angel. Mas o Controlador deu permissão a Harry Lantz para revelar seu nome a ele. Se Angel estiver interessado em nossa proposta, encontrará um meio de fazer contato. Tudo o que podemos fazer agora é esperar.

A manchete do Daily Union de Junction City dizia: MARY ASHLEY, DE JUNCTION CITY, RECUSA POSTO DE EMBAIXADORA.

Havia uma matéria de duas colunas sobre Mary e uma fotografia sua. Na Rádio KJCK, os noticiários da tarde e da noite falaram sobre a nova celebridade da cidade. O fato de Mary Ashley ter recusado o convite do presidente tornava a história ainda maior do que se ela tivesse aceito. Aos olhos de seus orgulhosos cidadãos, Junction City, Kansas, era muito mais importante do que Bucareste, Romênia.

Ao seguir para a cidade, a fim de fazer compras para o jantar, Mary Ashley ligou o rádio do carro.

— ...O presidente Ellison anunciara antes que a embaixada na Romênia seria o início de seu programa de povo-para-povo, a pedra fundamental de sua política externa. Como a recusa de Mary Ashley ao posto vai se refletir...

Ela trocou de estação.

— ...é casada com o doutor Edward Ashley e se acredita que...

Mary desligou o rádio. Recebera pelo menos três dúzias de telefonemas naquela manhã, de amigos, vizinhos, estudantes e estranhos curiosos. Repórteres haviam-na procurado, de lugares tão distantes como Londres e Tóquio. Estão levando a história além das proporções normais, pensou Mary. Não é culpa minha que o presidente tenha resolvido o sucesso de sua política externa na Romênia. Gostaria de saber até quando esse pandemônio vai durar. Provavelmente acabará em mais um ou dois dias.

Entrou com a caminhonete num posto de gasolina Derby e parou na frente da bomba de auto-serviço. Quando saltou do carro, o senhor Blount, gerente do posto, aproximou-se apressado.

— Bom dia, senhora Ashley. Uma embaixadora não deve bombear pessoalmente sua gasolina. Deixe-me ajudá-la.

Marry sorriu.

— Obrigada, mas estou acostumada a me servir.

— De jeito nenhum! Eu insisto.

Com o tanque já cheio, Mary seguiu para a Washington Street e parou na frente da Shoe Box.

— Bom dia, senhora Ashley — cumprimentou-a o funcionário. — Como vai a embaixadora esta manhã?

Isto vai se tornar cansativo, pensou Mary. Em voz alta, ela disse:

— Não sou embaixadora, mas vou bem, obrigada. — Entregou um par de sapatos. — Gostaria que pusessem solas novas nos sapatos de Tim.

O homem examinou os sapatos.

— Não são os que consertamos na semana passada? Mary suspirou.

— E na semana anterior também.

A próxima parada de Mary foi na Loja de Departamentos Long's. A senhora Hacker, gerente do departamento de roupas, disse-lhe:

— Acabei de ouvir seu nome no rádio. Está pondo Junction City no mapa. Acho que a senhora, Eisenhower e Al Landon são as únicas grandes personalidades políticas do Kansas, senhora embaixadora.

— Não sou embaixadora — respondeu Mary, paciente. — Recusei a indicação.

— Era o que eu estava querendo dizer. Não adiantava. Mary disse:

— Preciso de uma jeans para Beth. De preferência alguma coisa de ferro.

— Qual é a idade de Beth agora? Dez anos?

— Doze.

— Puxa, como as crianças crescem depressa hoje em dia, nãu é? Ela será uma adolescente antes que se possa perceber.

— Beth já nasceu adolescente, senhora Hacker.

— E como está Tim?

— Ele é muito parecido com Beth.

Mary demorou duas vezes mais do que o habitual nas compras. Todos tinham algum comentário a fazer sobre a grande notícia. Foi ao Dillon's para comprar algumas coisas. Estava examinando as prateleiras quando a senhora Dillon a abordou.

— Bom dia, senhora Ashley.

— Bom dia, senhora Dillon. Tem coisas para o café da manhã que não tenham nada?

— Como assim?

Mary consultou a lista que tinha na mão.

— Sem adoçantes artificiais, sódio, gorduras, carboidratos, cafeína, ácido fólico ou flavorizantes.

A senhora Dillon estudou a lista.

— É alguma experiência médica?

— De certa forma. É para Beth. Ela só quer comer alimentos naturais.

— Por que não a leva para o pasto e a deixa pastar? Mary soltou uma risada.

— Foi exatamente o que meu filho sugeriu. — Pegou um pacote e verificou o rótulo. — A culpa é minha. Eu nunca deveria ter ensinado Beth a ler.

Mary voltou para casa com todo cuidado, subindo o caminho sinuoso para Milford Lake. Estava alguns graus acima de zero, mas o vento gelado levava a temperatura para o negativo, pois não havia nada que detivesse o seu avanço pelas planícies intermináveis. Os gramados estavam cobertos de neve, e Mary lembrou-se do inverno anterior, quando uma tempestade de gelo se abatera sobre o condado, partindo os cabos de transmissão de energia elétrica. Ficaram sem eletricidade por quase uma semana. Ela e Edward fizeram amor todas as noites. Talvez tenhamos sorte outra vez este ano, pensou, sorrindo para si mesma.