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O divórcio mudou tudo. Foi Stanton Rogers quem se tornou agora o apêndice de Paul Ellison. A trilha que levava ao topo da montanha exigiu quase quinze anos para ser percorrida. Ellison perdeu uma eleição para o Senado, ganhou a seguinte, e nos quatro anos subseqüentes tornou-se um legislador objetivo e destacado. Lutou contra o desperdício no governo e a burocracia de Washington. Era um populista, e acreditava na détente internacional. Foi convidado a fazer o discurso de ratificação da candidatura do Presidente, que concorria à reeleição. Fez um discurso brilhante e arrebatado, que impressionou todo mundo. Quatro anos depois, Paul Ellison foi eleito presidente dos Estados Unidos. Sua primeira nomeação foi de Stanton Rogers como assessor presidencial para a política externa.

A teoria de Marshall McLuhan de que a televisão transformaria o mundo numa aldeia global se tornara realidade. A posse do 42? presidente dos Estados Unidos foi transmitida via satélite para mais de 190 países.

No Black Rooster, um ponto de encontro dos jornalistas de Washington, Ben Cohn, um veterano repórter político de The Washington Post, estava sentado a uma mesa em companhia de quatro colegas, assistindo à posse no enorme aparelho de televisão que ficava por cima do balcão.

— O filho da mãe me custou cinqüenta dólares — queixou-se um dos repórteres.

— Eu bem que avisei para não apostar contra Ellison

— disse Ben Cohn. — Ele tem magia. Devia ter acreditado nisso.

A câmara mostrou a enorme multidão concentrada na Pennsylvania Avenue, encolhida em sobretudos contra o gelado frio de janeiro, ouvindo a cerimônia pelos alto-falantes em torno do palanque. Jason Merlin, presidente do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, terminou de fazer o juramento. O novo presidente apertou-lhe a mão e adiantou-se para o microfone.

— Olhem só para aqueles idiotas congelando lá na rua — comentou Ben Cohn. — Sabem por que não estão em suas casas, como seres humanos normais, assistindo pela televisão?

— Por quê?

— Porque um homem está fazendo história, meus amigos. Um dia todas aquelas pessoas contarão a seus filhos e netos que estavam presentes no momento em que Paul Ellison prestou juramento. E vão se gabar: "Fiquei tão perto que poderia até tocá-lo."

— Você é um cético, Cohn.

— E me orgulho disso. Todos os políticos do mundo são iguais. Querem tudo o que puderem conseguir. A verdade, meus amigos, é que nosso novo presidente é um liberal e idealista. A combinação é suficiente para deixar qualquer homem inteligente com pesadelos. Minha definição de um liberal é: um homem que está com o rabo firmemente assentado em nuvens de algodão.

A verdade é que Ben Cohn não era um cético como dava a impressão. Cobrira a carreira de Paul Ellison desde o início. A princípio não ficara impressionado, mas começara a mudar de opinião à medida que Ellison galgava a hierarquia política. Compreendera que se tratava de um homem que não se curvava ante ninguém. Um carvalho numa floresta de salgueiros.

Lá fora, o céu explodia em lençóis gelados de chuva. Ben Cohn esperava que aquele tempo não fosse um presságio para os quatro anos que vinham pela frente. Tornou a concentrar a atenção no aparelho de televisão.

— A presidência dos Estados Unidos é uma tocha iluminada pelo povo americano e passada de mão em mão a cada quatro anos. A tocha que foi confiada aos meus cuidados é a arma mais poderosa do mundo. É bastante poderosa para destruir a civilização como a conhecemos ou se tornar um farol que iluminará o futuro para nós e para o resto do mundo. A opção é nossa. Dirijo-me hoje não apenas aos nossos aliados, mas também aos países no campo soviético. Digo a eles agora, quando nos preparamos para ingressar no século XXI, que não há mais espaço para confrontações e que devemos aprender a fazer com que a expressão um só mundo se torne realidade. Qualquer outro curso só pode criar um holocausto do qual nenhuma nação jamais se recuperará. Sei muito bem que existem vastos abismos entre nós e os países da Cortina de Ferro, mas a maior prioridade desta administração será construir pontes sólidas através desses abismos.

As palavras estavam impregnadas de profunda sinceridade. Ele fala sério, pensou Ben Cohn. Só espero que ninguém assassine o filho da mãe.

Em Junction City, Kansas, o tempo era horrível, cinzento e desolado; nevava tanto que a visibilidade na Rodovia 6 era quase zero. Mary Ashley guiava sua caminhonete com toda a cautela pelo meio da estrada, onde os removedores de neve haviam trabalhado, A tempestade faria com que chegasse atrasada para a aula. Avançava devagar, tomando cuidado para não der rapar.

A voz do presidente saía pelo rádio do carro:

— .. .muitas pessoas no governo e também na iniciativa privada que insistem em que os Estados Unidos devem abrir mais fossos, em vez de construírem pontes. Minha resposta é de que não temos mais condições de nos condenarmos ou a nossos filhos a um futuro ameaçado por confrontações globais e guerra nuclear.

Mary Ashley pensou: Fico contente por ter votado nele. Paul Ellison vai ser um grande presidente.

Pressionou o volante com toda força, enquanto a neve se tornava um ofuscante turbilhão branco.

Em St. Croix, o sol tropical brilhava num céu azul e sem nuvens, mas Harry Lantz não tinha a menor intenção de sair. Estava se divertindo muito dentro do quarto: na cama, nu, espremido entre as irmãs Dolly. Lantz tinha a prova empírica de que elas não eram realmente irmãs. Annette era alta, uma morena natural, enquanto Sally, também alta, era uma loura natural. Não que Harry Lantz se importasse que elas fossem irmãs genuínas. O que importava era que as duas eram competentes no que faziam, forçando Lantz a gemer alto de prazer.

No outro lado do quarto do motel a imagem do presidente piscava na tela da televisão.

— ...porque estou convencido de que não existe nenhum problema que não possa ser resolvido com boa vontade sincera dos dois lados. O muro de concreto que cerca Berlim Oriental e as cortinas de ferro em torno dos outros países satélites da União Soviética devem ser derrubados. Sally suspendeu suas atividades o tempo suficiente de perguntar:

— Quer que eu desligue essa porra, meu bem?

— Deixe ligada. Quero ouvir o que ele tem a dizer. Annette levantou a cabeça.

— Votou nele?

Harry Lantz gritou:

— Ei, vocês duas! Voltem ao trabalho!

— Como todos sabem, há três anos, depois da morte do presidente Nicolae Ceausescu, a Romênia rompeu as relações diplomáticas com os Estados Unidos. Quero comunicar neste momento que já entramos em contato com o governo da Romênia e seu presidente, Alexandros Ionescu. Ele concordou em restabelecer as relações diplomáticas com nosso país.

A multidão na Pennsylvania Avenue aclamou a comunicação. Harry Lantz sentou na cama tão abruptamente que os dentes de Annette se cravaram em seu pênis.

— Ai! — gritou Lantz. — Já fui circuncidado! Que porra você está querendo fazer?

— Por que se mexeu, meu bem?

Lantz não a ouviu. Tinha os olhos grudados no aparelho de televisão.

— Um dos nossos primeiros atos oficiais será enviar um embaixador para a Romênia — dizia agora o presidente. — E isso é apenas o começo...