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— Na Romênia, Gheorghiu-Dej estava consolidando seu poder no Partido dos Trabalhadores...

A aula parecia interminável, mas felizmente estava quase acabando.

— O trabalho de vocês será escrever um ensaio sobre o planejamento e administração econômica da União Soviética, descrevendo a organização básica das agências do governo e o controle do Partido Comunista. Quero que analisem as dimensões internas e externas da política soviética, com ênfase em suas posições na Polônia, Tchecoslováquia e Romênia.

Romênia... Seja bem-vinda à Romênia, senhora embaixadora. A limusine está aqui para levá-la à embaixada. Sua embaixada. Ela fora convidada a viver numa das mais excitantes capitais do mundo, reportando-se ao presidente dos Estados Unidos, na base de seu programa povo-para-povo. Eu poderia ser parte da história.

Saiu de seu devaneio como o barulho da campainha. A aula terminara. Estava na hora de ir para casa e trocar de roupa. Edward voltaria mais cedo do hospital. Ia levá-la para jantar no clube.

Como convinha a uma quase-embaixadora.

— Código Azul! Código Azul! — a voz crepitava pelos alto-falantes, em todos os corredores do hospital.

Mesmo enquanto a turma de emergência convergia para a entrada da ambulância, já se podia ouvir a sirene se aproximando. O Hospital Comunitário de Geary é um prédio escuro, de três andares, aparência austera, empoleirado numa colina na St. Mary's Road, na parte sudoeste de Junction City. Conta com leitos, duas modernas salas de operação e diversas salas de exame e administrativas.

Fora uma sexta-feira movimentada, e a enfermaria de emergência no último andar já estava repleta de soldados feridos, que vinham para a cidade do Forte Riley, ali perto, base da 1ª Divisão de Infantaria, conhecida como A Grande Vermelha, por causa das baixas nos fins de semana.

O doutor Edward Ashley estava costurando o couro cabeludo de um soldado que perdera numa briga de bar. Ele servira no Hospital Memorial de Geary por treze anos, e antes de se tornar médico particular fora cirurgião da Força Aérea, com o posto de capitão. Vários hospitais importantes em grandes cidades tentaram atraí-lo, mas ele preferia permanecer onde estava.

Terminou com o soldado em que estava trabalhando e olhou ao redor. Havia pelo menos uma dúzia de soldados esperando para serem remendados. Ouviu o barulho da sirene da ambulância se aproximando.

— Estão tocando a nossa música.

O doutor Douglas Schiffer, que estava cuidando de uma vítima de ferimento a bala, balançou a cabeça.

— Isto aqui até parece o M*A*S*H. Dá para pensar que estamos no meio de alguma guerra.

Edward Ashley comentou:

— É a única que eles têm, Doug. É por isso que vêm para a cidade todo fim de semana e ficam um pouco enlouquecidos. Sentem-se frustrados.

Deu o último ponto no soldado.

— Já acabei, soldado. Está pronto para outra. — Virando-se para Douglas Schiffer, Edward acrescentou: — É melhor descermos para a emergência.

O paciente vestia um uniforme de soldado e parecia não ter mais que dezoito anos. Estava em estado de choque. Suava muito, e a respiração era difícil. O doutor Ashley sentiu o pulso. Estava fraco e irregular. Havia uma mancha de sangue na frente da túnica. Edward Ashley virou-se para um dos paramédicos que haviam trazido o paciente.

— Qual é o caso?

— Um ferimento a faca no peito, doutor.

— Vamos verificar se o pulmão foi atingido. — Virou-se para uma enfermeira. — Quero uma radiografia do tórax. Tem três minutos para providenciar.

O doutor Douglas Schiffer examinava a veia jugular do soldado. Estava intumescida. Ele olhou para Edward.

— Está distendida. Provavelmente o pericárdio foi atingido.

O que significava que a bolsa que protegia o coração estava cheia de sangue, comprimindo-o de tal forma que não permitia o funcionamento adequado. A enfermeira que conferia a pressão do paciente informou:

— A pressão está caindo muito depressa.

O monitor que media o eletrocardiograma do paciente tornou-se mais lento. Estavam perdendo o paciente. Outra enfermeira entrou apressada com a radiografia do tórax.

— Tamponamento pericárdico.

O coração tinha um buraco. O pulmão sucumbira.

— Temos de intubar e expandir o pulmão. — A voz de Edward Ashley era suave, mas não havia como se enganar com a urgência. — Chamem um anestesista. Vamos abri-lo. Podemos fazer a intubação.

Uma enfermeira entregou um tubo endotraqueal ao doutor Schiffer. Edward Ashley acenou com a cabeça para ele.

— Agora.

Com todo o cuidado, Douglas Schiffer começou a enfiar o tubo pela traquéia do soldado inconsciente. Havia uma bolsa na extremidade do tubo, e Schiffer começou a espremê-la, em ritmo firme, ventilando os pulmões. O monitor se tornou ainda mais lento, e a curva foi ficando reta. O cheiro da morte pairava na sala.

— Ele apagou.

Não havia tempo de levar o paciente para a sala de operações. O doutor Ashley precisava tomar uma decisão imediata.

— Vamos efetuar uma toracotomia. Bisturi.

No instante em que o bisturi foi posto em sua mão, Edward inclinou-se e fez uma incisão no peito do soldado. Quase não houve sangue, porque o coração estava encarcerado no pericárdio.

— Retrator!

O instrumento foi posto em sua mão e ele o inseriu no paciente, a fim de afastar as costelas.

— Tesoura! E recuem!

Ele chegou mais perto, a fim de poder alcançar o pericárdio. Ajeitou a tesoura e fez o corte. O sangue, liberado da bolsa, esguichou no mesmo instante, atingindo as enfermeiras e o doutor Ashley. Ele começou a massagear o coração. O monitor começou a bipar e a pulsação tornou-se palpável. Havia uma pequena laceração no ápice do ventrículo esquerdo.

— Levem-no para a sala de cirurgia.

Três minutos depois o paciente estava na mesa de operações.

— Transfusão... mil centímetros cúbicos.

Não havia tempo para verificar o tipo de sangue e por isso se usou o O negativo — doador universal. Enquanto a transfusão começava, o doutor Ashley disse:

— Um tubo de tórax 32.

Uma enfermeira entregou-lhe. O doutor Schiffer disse:

— Pode deixar que eu fecho, Ed. Por que não vai se lavar?

O avental cirúrgico de Edward Ashley estava encharcado de sangue. Ele olhou para o monitor. O coração estava forte e firme.

— Obrigado.

Edward Ashley tomara um banho de chuveiro e trocara de roupa, estava agora em sua sala, redigindo o relatório médico. Era uma sala agradável, com estantes ocupadas por livros de medicina e troféus esportivos. Tinha uma escrivaninha, uma poltrona e uma mesinha, com duas cadeiras de espaldar reto. Nas paredes estavam os seus diplomas, emoldurados de maneira impecável.

Ele sentia o corpo rígido e cansado da tensão por que acabara de passar. Ao mesmo tempo, sentia-se sexualmente excitado, como sempre acontecia depois de uma cirurgia importante. O fato de se confrontar com a morte amplia os valores da força vital, um psiquiatra explicara certa ocasião a Edward. Fazer amor é a afirmação da continuidade da natureza. Qualquer que seja o motivo, pensou Edward, eu gostaria que Mary estivesse aqui.

Escolheu um cachimbo na pequena estante por sobre a escrivaninha e acendeu-o. Foi se instalar na poltrona e esticou as pernas. Pensar em Mary fazia com que se sentisse culpado. Fora o responsável por ela recusar o convite do presidente, e seus motivos eram válidos. Porém há mais do que isso, admitiu para sí mesmo. Fiquei com ciúme. Reagi como um pirralho mimado. O que teria acontecido se o presidente me fizesse uma oferta assim? Provavelmente eu aceitaria na mesma hora. Tudo o que pude pensar foi que queria que Mary ficasse em casa e cuidasse de mim e das crianças. Eis aí o autêntico porco chauvinista!