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— Acho melhor não o ver, senhora Ashley.

— Largue-me!

Ela estava gritando. Desvencilhou-se da mão do xerife e correu para a lona.

— Por favor, senhora Ashley, é melhor não ver como ele ficou.

O xerife amparou-a no instante em que ela caía, desfalecida.

Mary despertou no banco traseiro do carro do xerife. Munster estava sentado no banco da frente, observando-a. O aquecedor estava ligado, e o interior do carro era quente.

— O que aconteceu? — perguntou Mary, apaticamente.

— Você desmaiou.

Ela se lembrou de repente. É melhor não ver como ele ficou,

Mary olhou pela janela para todos os veículos de emergência e as luzes vermelhas brilhando e pensou: É uma cena do inferno. Apesar do calor do carro, seus dentes batiam.

— Como... — Ela estava com dificuldade para pronunciar as palavras. — Como aconteceu?

— Ele avançou o sinal vermelho. Um caminhão militar vinha pela 77 e tentou evitá-lo, mas seu marido se lançou direto para cima.

Mary fechou os olhos e observou o acidente acontecer em sua mente. Viu o caminhão avançar para cima de Edward e sentiu seu pânico no último instante. Só pôde pensar em uma coisa para dizer:

— Edward era um mo-motorista muito cuidadoso. Nunca passaria assim por um si-sinal sem parar.

O xerife disse, compreensivo:

— Temos testemunhas, senhora Ashley. Um padre e duas freiras viram o acidente, assim como o coronel Jenkins, do Forte Riley. Todos disseram a mesma coisa. Seu marido avançou o sinal.

Depois disso, tudo pareceu acontecer em câmara lenta. Ela observou o corpo de Edward ser levado na ambulância. A polícia interrogava um padre e duas freiras, e Mary pensou: Vão pegar um resfriado se continuarem parados assim nesse frio. O xerife Munster disse:

— Estão levando o corpo para o necrotério. O corpo.

— Obrigada — murmurou Mary, polidamente. Ele a fitava com expressão estranha.

— É melhor eu levá-la de volta para casa. Como se chama o médico da família?

— Edward Ashley — respondeu Mary. — Edward Ashley é o médico da família.

Mais tarde, ela se lembrou de ter chegado em casa e ser acompanhada pelo xerife Munster. Florence e Douglas Schiffer estavam à sua espera na sala de estar. As crianças ainda dormiam. Florence abraçou-a.

— Oh, querida, lamento tanto, tão profundamente...

— Está tudo bem — disse Mary, calmamente. — Edward sofreu um acidente.

Ela soltou uma risadinha. Douglas observava-a, atentamente.

— Deixe-me levá-la para o seu quarto.

— Estou bem, obrigada. Gostariam de tomar um chá?

— Vou levá-la para a cama — insistiu Douglas.

— Não estou com sono. Vocês têm certeza de que não querem nada?

Enquanto Douglas a conduzia para o quarto, Mary murmurou:

— Foi um acidente. Edward sofreu um acidente.

Douglas Schiffer fitou-a nos olhos. Estavam arregalados e vazios. Ele sentiu um calafrio percorrer-lhe o corpo. Desceu para buscar a valise médica. Ao voltar, constatou que Mary não se mexera.

— Vou lhe dar uma coisa para dormir.

Deu-lhe um sedativo, ajudou-a a deitar-se e sentou ao seu lado. Uma hora depois Mary ainda estava acordada. Douglas deu-lhe outro sedativo. E depois um terceiro. Ela então acabou dormindo.

Em Junction City há investigações rigorosas sempre que acontece um 1048 — acidente de trânsito com vítima. Uma ambulância é enviada do Serviço de Ambulâncias do Condado e um homem do xerife comparece ao local. Se o pessoal do exército está envolvido no acidente, a Divisão de Investigações Criminais militar realiza um inquérito, paralelo à investigação do xerife.

Shel Planchard, um oficial à paisana do setor do DIC em Forte Riley, o xerife e um assistente estavam examinando o relatório sobre o acidente, no gabinete do xerife, na rua 9.

— Tem uma coisa que não consigo entender — comentou Munster.

— Qual é o problema, xerife? — perguntou Planchard.

— Houve cinco testemunhas do acidente, não é? Um padre e duas freiras, o coronel Jenkins e o motorista do caminhão, sargento Wallis. Todos disseram que o carro de Ashley entrou na estrada, avançou o sinal e foi atingido pelo caminhão militar.

— Isso mesmo — disse o homem do DIC. — E onde está o problema?

O xerife Munster coçou a cabeça.

— Já viu algum relatório de acidente em que duas testemunhas dissessem a mesma coisa? — Ele bateu com o punho nos papéis. — O que me deixa perturbado é que cada uma das cinco testemunhas neste caso disse exatamente a mesma coisa.

O homem do DIC deu de ombros.

— Isso apenas comprova que o acidente foi bastante óbvio.

— E tem outra coisa me incomodando — acrescentou o xerife.

— O que é?

— O que um padre, duas freiras e um coronel estavam fazendo na estrada às quatro horas da madrugada?

— Não há nada de misterioso nisso. O padre e as freiras estavam a caminho de Leonardville, e o coronel voltava para o Forte Riley.

— Verifiquei com o pessoal do trânsito. A última multa que Ashley recebeu foi há seis anos, por estacionamento ilegal. Nunca teve qualquer registro de acidente.

O homem do DIC fitou-o atentamente.

— O que está querendo sugerir, xerife? Munster deu de ombros.

— Não estou sugerindo nada, mas apenas dizendo que o caso parece esquisito.

— Estamos falando de um acidente visto por cinco testemunhas. Se acha que existe alguma conspiração envolvida, há uma grande falha em sua teoria. Se...

O xerife suspirou.

— Sei disso. Se não fosse um acidente, o caminhão do exército só precisava seguir adiante. Não haveria necessidade de todas as testemunhas e o resto.

— Exatamente. — O homem do DIC levantou-se e espreguiçou-se. — Tenho de voltar ao quartel. Pelo que me diz respeito, o motorista do caminhão, sargento Wallis, é inocente. — Ele olhou para o xerife. — Estamos de acordo?

O xerife Munster respondeu com evidente relutância:

— Estamos. Deve ter sido um acidente.

Mary foi acordada pelo barulho das crianças chorando. Permaneceu imóvel, os olhos fechados, pensando: Isto é parte do meu pesadelo. Estou dormindo e quando acordar descobrirei que Edward continua vivo.

Mas o choro persistia. Quando não pôde mais suportar, abriu os olhos e continuou imóvel, olhando para o teto. Por fim, com muita relutância, forçou-se a sair da cama. Sentia-se drogada. Entrou no quarto de Tim. Florence e Beth estavam com ele. Os três choravam. Eu gostaria de poder chorar, pensou Mary. Ah, como eu gostaria de poder chorar. Beth olhou para a mãe.

— Papai... está mesmo morto?

Mary acenou com a cabeça, incapaz de pronunciar as palavras. Sentou-se na beira da cama.

— Tive de contar a eles — desculpou-se Florence. — Iam sair para brincar com os amigos.

— Está tudo bem — murmurou Mary, afagando os cabelos de Tim. — Não chore, querido. Tudo vai acabar bem.

Nada jamais estaria bem outra vez.

Nunca mais.

O comando do Departamento de Investigações Criminais do Exército dos Estados Unidos no Forte Riley fica no Prédio 169, uma antiga estrutura de pedra cercada por árvores, com degraus que levam a uma varanda. Numa sala do primeiro andar, Shel Planchard, o oficial do DIC, estava conversando com o coronel Jenkins.

— Lamento, senhor, mas tenho más notícias. O sargento Wallis, o motorista daquele caminhão que matou aquele médico civil...