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Três dias passaram antes que Angel ouvisse uma conversa que deu a pista para a solução do problema. Um guarda estava dizendo:

— Não sei o que Groza faz com as putas que leva para lá, mas elas certamente fazem o diabo com ele. Deviam ouvir os gritos. Na semana passada dei uma olhada nos chicotes que ele guarda em seu armário...

E na noite seguinte:

— As vigaristas que nosso destemido líder traz para a villa são lindas. Elas vêm de todas as partes do mundo. Lev cuida de tudo pessoalmente. Ele é esperto. Nunca usa a mesma mulher duas vezes. Com isso, ninguém pode usar as mulheres para atingir Marin Groza.

Era tudo o que Angel precisava saber.

Na manhã seguinte, bem cedo, Angel trocou de carro de aluguel e foi para Paris num Fiat. A loja de sexo ficava em Montmartre, na Place Pigalle, no meio de uma área povoada por prostitutas e cafetões. Angel entrou, andando devagar pelos corredores, estudando com atenção as mercadorias à venda. Havia algemas e correntes, capacetes com pontas de ferro, calças de couro com aberturas na frente, vibradores no formato de pênis, lubrificantes, bonecas infláveis e videoteipes pornográficos. Havia creme anal e chicotes de couro com dois metros de comprimento e tiras soltas na extremidade.

Angel escolheu um chicote, pagou em dinheiro e foi embora.

Na manhã seguinte, Angel levou o chicote de volta à loja. O gerente protestou:

— Não aceitamos devoluções.

— Não é isso que estou querendo — explicou Angel. — Eu me sinto constrangido de andar com isto. Agradeceria se pudesse me enviar pelo correio. Pagarei um extra, é claro.

Ao final da tarde, Angel estava num avião, a caminho de Buenos Aires.

O chicote, embrulhado com todo cuidado, chegou à villa em Neuilly no dia seguinte. Foi interceptado pelo guarda no portão. Ele leu a etiqueta da loja no embrulho, abriu-o e examinou o chicote com a maior atenção. Era de se pensar que o velho já tinha chicotes suficientes.

Ele passou adiante e outro guarda levou-o para o quarto de Marin Groza, guardando-o junto com os outros.

10

O Forte Riley, um dos mais antigos quartéis ainda ativos dos Estados Unidos, foi construído em 1853, quando o Kan-sas ainda era considerado um território índio. Sua função era proteger as caravanas de carroças dos ataques dos índios. Hoje é usado basicamente como uma base de helicópteros e campo de pouso para pequenos aviões.

Quando Stanton Rogers ali pousou, a bordo de um DC-7, foi recebido pelo comandante da base e seu estado-maior. Uma limusine esperava para conduzi-lo à casa dos Ashley. Ele telefonara para Mary depois do contato do presidente.

— Prometo que minha visita será a mais breve possível, senhora Ashley. Planejo procurá-la na tarde de segunda-feira, se não for inconveniente.

Ele está sendo muito polido e é um homem importante. Por que o presidente o está mandando conversar comigo?

— Não há problema. — Num reflexo inconsciente, Mary acrescentara: — Gostaria de jantar conosco?

Ele hesitara.

— Obrigado.

Será uma noite comprida e tediosa, pensou Stanton. Florence Schiffer ficara emocionada ao saber da notícia.

— O assessor de política externa do presidente vem jantar aqui? Isso significa que você vai aceitar o convite!

— Não significa nada disso, Florence. Prometi ao presidente que conversaria com ele. E é só.

Florence abraçara Mary.

— Quero apenas que você faça o que puder torná-la feliz.

— Sei disso.

Stanton Rogers era um homem formidável, concluiu Mary. Ela já o vira no Encontro com a Imprensa e em fotografias na revista Time, mas pensou agora: Ele parece mais alto pessoalmente. Rogers mostrava-se polido, mas um tanto distante.

— Permita-me transmitir novamente os sinceros pêsames do presidente por sua tragédia, senhora Ashley.

— Obrigada.

Mary apresentou-o a Beth e a Tim. Ficaram conversando, enquanto Mary ia à cozinha para verificar como Lu-cinda estava se saindo com o jantar.

— Posso servir quando quiser — comunicou Lucinda. — Mas ele vai detestar.

Quando Mary a informara de que Stanton Rogers jantaria em casa e queria que ela preparasse uma carne assada, Lucinda dissera:

— Pessoas como o senhor Rogers não comem carne assada.

— É mesmo? E comem o quê?

— Chateaubriand e crepes Suzette.

— Mas vamos ter carne assada.

— Está bem — murmurara Lucinda, obstinada. — Mas é o jantar errado.

Além da carne assada, ela preparara purê de batatas, legumes frescos e uma salada. E fizera uma torta de abóbora para sobremesa. Stanton Rogers comeu tudo o que foi posto em seu prato.

Durante o jantar, Mary e ele discutiram os problemas dos fazendeiros.

— Os fazendeiros do Meio-Oeste estão numa situação crítica, espremidos entre os preços baixos e o excesso de produção — comentou Mary. — São pobres demais para pintar e orgulhosos demais para caiar.

Falaram sobre a pitoresca história de Junction City, e Stanton Rogers finalmente levantou o problema da Romênia.

— Qual é a sua opinião sobre o governo do presidente Ionescu? — perguntou a Mary.

— Não há governo na Romênia, no verdadeiro sentido da palavra — respondeu Mary. — Ionescu é o governo. Ele mantém o controle total.

— Acha que haverá uma revolução no país?

— Não nas atuais circunstâncias. O único homem suficientemente poderoso para depor Ionescu é Marin Groza, que está exilado na França.

O interrogatório continuou. Ela era perita nos países da Cortina de Ferro e Stanton Rogers ficou visivelmente impressionado. Mary tinha a sensação desagradável de que ele passara a noite inteira a examiná-la sob um microscópio. Estava mais próxima da verdade do que imaginava.

Paul estava certo, pensou Stanton Rogers. Ela é de fato uma autoridade sobre a Romênia. E havia algo mais. Precisamos do oposto do americano feio. Ela é muito bonita. E junto com as crianças, será um pacote tipicamente americano que todos comprarão. Stanton descobriu-se cada vez mais animado com a perspectiva. Ela pode ser mais útil do que imagina.

Ao final da noite, Stanton Rogers disse:

— Vou ser franco, senhora Ashley. Inicialmente, fui contra a sua indicação para um posto tão delicado quanto a Romênia. E disse isso ao presidente. Conto-lhe agora por que mudei de idéia. Acho que pode ser uma excelente embaixadora.

Mary sacudiu a cabeça.

— Sinto muito, senhor Rogers. Não sou política. Sou apenas uma amadora.

— Como o presidente Ellison ressaltou, alguns dos nossos melhores embaixadores não eram profissionais. Isto é, a experiência deles não era no serviço diplomático. Walter Annenberg, nosso ex-embaixador no Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, era um editor.

— Eu não sou...

— John Kenneth Galbraith, nosso embaixador na Índia, era professor. Mike Mansfield começou como repórter, foi eleito senador e depois designado para a embaixada no Japão. Eu poderia dar mais uma dúzia de exemplos. Essas pessoas eram todas o que se chamaria de amadores. O que tinham, senhora Ashley, era inteligência, amor por seu país e boa vontade para com o povo do país em que foram servir.