— Fala como se fosse muito simples.
— Como provavelmente sabe, já a investigamos de maneira meticulosa. Foi aprovada em termos de segurança, não tem problemas com a Receita Federal, e não há conflito de interesses. Segundo o reitor Hunter, é uma excelente professora, além de profunda conhecedora dos problemas da Romênia. Tem uma boa base. E, por fim, mas nem por isso menos importante, apresenta a imagem que o presidente quer projetar nos países da Cortina de Ferro, onde sofremos muita propaganda adversa.
Mary escutava agora com expressão pensativa.
— Eu gostaria que o senhor e o presidente soubessem que agradeço tudo o que disseram a meu respeito. Mas eu não poderia aceitar. Tenho de pensar em Beth e Tim. Não posso desarraigá-los assim...
— Há uma excelente escola para filhos de diplomatas em Bucareste. Seria uma educação maravilhosa para Tim e Beth passar algum tempo em outro país. Aprenderiam coisas que nunca poderiam conhecer na escola aqui.
A conversa não estava transcorrendo como Mary planejara.
— Eu não... Pensarei sobre o assunto.
— Passarei a noite na cidade — informou Stanton Rogers. — Poderá me encontrar no All Seasons Motel. Pode estar certa, senhora Ashley, de que compreendo como a decisão lhe é importante pessoalmente. Mas este programa não é importante apenas para o presidente, mas também para o nosso país. Pense nisso.
Depois que Stanton Rogers se retirou, Mary subiu. As crianças estavam à sua espera, olhos arregalados, excitadas.
— Vai aceitar a embaixada, mamãe? — perguntou Beth.
— Precisamos conversar. Se eu resolver aceitar, vocês teriam que deixar a escola e todos os seus amigos. Viveriam em outro país cuja língua não falam, cursariam uma escola estranha.
— Tim e eu já conversamos sobre tudo isso — anunciou Beth. — E quer saber o que achamos?
— O quê?
— Que qualquer país teria muita sorte em ter você como embaixadora, mamãe.
Ela conversou com Edward naquela noite: Deveria ter ouvido como ele falou, querido. Deu a impressão de que o presidente precisava muito de mim. Provavelmente há um milhão de pessoas que poderiam fazer um trabalho melhor do que eu, mas ele foi muito lisonjeiro. Lembra que nós dois conversamos como seria emocionante? Pois tenho outra vez a chance e não sei o que fazer. Para dizer a verdade, estou apavorada. Este é o nosso lar. Como eu suportaria sair aqui? Há muita coisa de você aqui. Ela descobriu que estava chorando. Isto é tudo o que me restou de você. Ajude-me a decidir. Por favor, ajude-me...
Mary ficou sentada junto à janela, de penhoar, olhando para as árvores, prateadas, ao vento uivante e irrequieto.
Ao amanhecer, já tomara uma decisão.
Às nove horas da manhã Mary telefonou para o All Seasons Motel e pediu para falar com Stanton Rogers. Quando ele entrou na linha, Mary disse:
— Senhor Rogers, poderia fazer o favor de dizer ao presidente que eu me sentiria honrada em aceitar o posto de embaixadora?
11
Esta é ainda mais bonita do que as outras, pensou o guarda. Ela não parecia uma prostituta. Poderia ser uma atriz de cinema ou modelo. Tinha vinte e poucos anos, cabelos louros compridos e uma pele leitosa. Usava um vestido da maior elegância.
Lev Pasternak veio pessoalmente ao portão para conduzi-la à casa. A mulher, Bisera, era iugoslava, e aquela era sua primeira viagem à França. A visão de todos aqueles agentes de segurança armados deixava-a nervosa. Em que será que me meti? Tudo o que Bisera sabia era que seu cafetão lhe dera uma passagem de avião de ida e volta e dissera que ela receberia dois mil dólares por uma hora de trabalho.
Lev Pasternak bateu na porta do quarto, e a voz de Groza respondeu do interior:
— Entre.
Pasternak abriu a porta e introduziu a garota. Marin Groza estava parado ao pé da cama. Usava um robe, e Bisera percebeu que estava nu por baixo. Lev Pasternak apresentou:
— Esta é Bisera.
Ele não mencionou o nome de Marin Groza.
— Boa noite, minha cara. Entre.
Pasternak retirou-se, fechando a porta. Marin Groza ficou a sós com a mulher. Ela se adiantou, com um sorriso sedutor.
— Você parece muito à vontade. Posso me despir logo e ficamos os dois à vontade.
Ela começou a tirar o vestido.
— Não. Fique vestida, por favor. Ela fitou-o, surpresa.
— Não quer que eu...
Groza foi até o armário e escolheu um chicote.
— Quero que você use isto.
Um fetiche de escravo. Estranho. Ele não parecia o tipo. Nunca se sabe, pensou Bisera.
— Claro, meu bem. Qualquer coisa que o deixar com tesão.
Marin Groza tirou o robe e virou-se. Bisera ficou chocada com a visão de seu corpo coberto de cicatrizes. Eram vergões brutais. E havia alguma coisa na expressão do homem que a desconcertava; quando compreendeu o que era, ficou ainda mais perplexa. Era angústia. Ele estava sentindo um tremendo sofrimento. Por que queria ser açoitado? Ela o observou se encaminhar para um banco e sentar.
— Com força — ordenou ele. — Açoite-me com toda a força.
— Está bem.
Bisera pegou o comprido chicote de couro. Sadomasoquismo não era novidade para ela, mas desta vez havia alguma coisa diferente que ela não conseguia compreender. Mas não é da minha conta, pensou Bisera. Faça o que ele está pedindo, depois pegue o dinheiro e se mande.
Levantou o chicote e depois açoitou as costas nuas.
— Com mais força — insistiu o homem. — Com mais força.
Ele se encolhia de dor quando o couro atingia sua pele. Uma vez... duas... e outra... e outra... com mais força... com mais força... A visão que Marin Groza esperava surgiu diante de seus olhos. Cenas da esposa e da filha sendo estupradas deixaram seu cérebro em fogo. Era um estupro coletivo, e os soldados, rindo, passavam da mulher para a criança, as calças arriadas, esperando a vez na fila. Marin Groza comprimiu-se contra o banco, como se estivesse amarrado. Enquanto o chicote baixava e baixava, ele podia ouvir os gritos da esposa e da filha, suplicando por misericórdia, sufocando com os pênis de homens em suas bocas, sendo estupradas e sodomizadas ao mesmo tempo, até que o sangue começou a escorrer e seus gritos se extinguiram. E Marin Groza gemeu:
— Com mais força!
E a cada golpe do chicote ele sentia a lâmina afiada da faca cortando seus órgãos genitais, castrando-o. Ele estava tendo dificuldade para respirar.
— Pegue... pegue...
Sua voz era um rangido rouco. Sentia os pulmões paralisados. A mulher parou, o chicote suspenso no ar.
— Ei, está se sentindo bem? Eu...
Ela observou enquanto Marin Groza caía no chão, os olhos abertos, mas vidrados. Bisera desatou a gritar:
— Socorro! Socorro!
Lev Pasternak veio correndo, empunhando o revólver. Viu o corpo no chão.
— O que aconteceu? Bisera estava histérica.
— Ele está morto! Está morto! Eu não fiz nada! Apenas o açoitei como ele mandou! Juro!
O médico que vivia na villa estava no quarto poucos segundos depois. Olhou para o corpo de Marin Groza e abaixou-se para examiná-lo. A pele se tornara azulada, e os músculos estavam rígidos.
Ele pegou o chicote e cheirou-o.
— O que foi?
— Curare. É um extrato de uma planta sul-americana. Os incas o usavam em dardos para matar os inimigos. Todo o sistema nervoso fica paralisado em três minutos.
Os dois homens ficaram ali parados, olhando fixamente, impotentes, o seu líder morto.
A notícia da morte de Marin Groza foi transmitida para o mundo inteiro via satélite. Lev Pasternak conseguiu ocultar da imprensa os detalhes sórdidos. Em Washington, o presidente teve uma reunião com Stanton Rogers.