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Era o final da tarde em Bucareste. O inverno se tornara inesperadamente brando, e as ruas do antigo mercado estavam apinhadas de cidadãos entrando em filas para fazer compras, aproveitando o imprevisto calor.

Alexandros Ionescu, presidente da Romênia, estava sentado em seu gabinete, em Peles, o velho palácio, na Calea Victoriei, cercado por meia dúzia de assessores, escutando a transmissão por um rádio de ondas curtas.

— ...não tenho a intenção de parar por aí — dizia o presidente americano. — A Albânia rompeu relações diplomáticas com os Estados Unidos em 1946. Pretendo restabelecer as ligações. Além disso, quero reforçar nossas relações diplomáticas com a Bulgária, Tchecoslováquia e Alemanha Oriental.

Aplausos e aclamações soaram através do rádio.

— Enviar nosso embaixador para a Romênia é o princípio de um movimento mundial de povo-para-povo. Jamais nos esqueçamos de que toda a humanidade partilha uma origem comum, problemas comuns e um destino final comum. Vamos nos lembrar que os problemas que partilhamos são maiores do que os problemas que nos dividem, e o que nos divide foi criado por nós mesmos.

Numa villa fortemente guardada em Neuilly, um subúrbio de Paris, o líder revolucionário romeno Marin Groza assistia ao presidente dos Estados Unidos pelo Chaîne 2 Télévision.

— ...Prometo agora que farei o melhor que puder e pedirei o melhor de outros.

Os aplausos se prolongaram por cinco minutos. Marin Groza comentou, pensativo:

— Acho que o nosso momento chegou, Lev. Ele fala sério.

Lev Pasternak, seu chefe de segurança, respondeu:

— Essa atitude não vai ajudar Ionescu? Marin Groza sacudiu a cabeça.

— Ionescu é um tirano e, ao final, nada o ajudará. Mas preciso ter muito cuidado com a escolha do momento certo. Fracassei quando tentei derrubar Ceausescu. Não posso fracassar de novo.

Pete Connors não estava bêbado — ou pelo menos não tão bêbado quanto tencionava ficar. Já consumira quase uma garrafa de uísque quando Nancy, a secretária com quem ele vivia, indagou:

— Não acha que já bebeu o suficiente, Pete? Ele sorriu e esbofeteou-a.

— Nosso presidente está falando. Você tem de mostrar algum respeito.

Ele se virou para olhar a imagem no aparelho de televisão e gritou para a tela:

— Seu comunista filho da puta! Este é o meu país, e a CIA não vai permitir que você o entregue! Vamos impedir você, Charlie! Pode contar!

2

Paul Ellison disse:

— Vou precisar muito da sua ajuda, amigo velho.

— E a terá toda — respondeu Stanton Rogers suavemente.

Eles estavam sentados no Gabinete Oval, o presidente à sua mesa, com a bandeira americana por trás. Era o primeiro encontro dos dois naquela sala, e o presidente Ellison sentia-se contrafeito.

Se Stanton não tivesse cometido aquele único erro, pensou Paul Ellison, estaria sentado a esta mesa, no meu lugar,

Como se lesse os pensamentos do amigo, Stanton Rogers falou:

— Tenho uma confissão a fazer. No dia em que você foi escolhido para candidato à presidência, Paul, fiquei com a maior inveja. Era o meu sonho, e você o estava vivendo. Mas quer saber de uma coisa? Acabei compreendendo que se eu não pudesse sentar a esta mesa, então não havia outra pessoa no mundo que eu quisesse que sentasse aí mais do que você. Essa cadeira lhe cai muito bem.

Paul Ellison sorriu.

— Para ser franco, Stan, esta sala me assusta. Sinto aqui os fantasmas de Washington, Lincoln e Jefferson.

— Também tivemos presidentes que...

— Sei disso. Mas sempre tentamos nos mostrar à altura dos grandes.

Apertou o botão na mesa, e segundos depois um copeiro de uniforme branco entrou na sala.

— Pois não, senhor presidente? Paul Ellison olhou para Rogers.

— Aceita um café?

— Boa idéia.

— Quer alguma coisa para acompanhar?

— Não, obrigado. Barbara quer que eu tome cuidado com a cintura.

O presidente acenou com a cabeça para Henry, o copeiro, que deixou a sala em silêncio.

Barbara. Ela surpreendera a todos. Os comentários em Washington eram de que o casamento não sobreviveria ao primeiro ano. Mas já haviam passado quase quinze anos e era um sucesso. Stanton Rogers montara um prestigioso escritório de advocacia em Washington e Barbara adquirira a reputação de ser uma hábil anfitriã.

Paul Ellison levantou-se e começou a andar de um lado para outro.

— Meu discurso do movimento povo-para-povo teve a maior repercussão. Imagino que já viu todos os jornais.

Stanton Rogers deu de ombros.

— Sabe como é a imprensa. Adora criar heróis, só para depois derrubá-los.

— Para ser franco, não me importo com o que dizem os jornais. Estou mais interessado no que as pessoas estão falando.

— Se quer saber a verdade, Paul, você está assustando muita gente. As forças armadas estão contra seu plano e há pessoas poderosas torcendo por seu fracasso.

— Não vai fracassar. — Paul Ellison tornou a sentar. — Sabe qual é o maior problema do mundo hoje em dia? Não há mais estadistas. Os países estão sendo dirigidos por políticos. Houve uma época, não faz muito tempo, em que o planeta era povoado por gigantes, alguns bons, outros maus... mas sem sombra de dúvida gigantes. Roosevelt e Churchill, Hitler e Mussolini, Charles de Gaulle e Josef Stalin. Por que todos viveram naquele momento em particular? Por que não há mais estadistas hoje?

— É muito difícil ser um gigante do mundo numa tela de 21 polegadas.

O copeiro voltou, trazendo uma bandeja de prata com um bule de café e duas xícaras, com o selo presidencial. Ele serviu o café e indagou:

— Deseja mais alguma coisa, senhor presidente?

— Não, Henry. É só. Obrigado.

O presidente esperou que o copeiro se retirasse.

— Preciso conversar com você sobre o nome certo para a embaixada na Romênia.

— Está bem.

— Não preciso lhe dizer como é importante. Quero que aja o mais depressa possível.

Stanton Rogers tomou um gole do café e levantou-se.

— Conversarei com o pessoal do Departamento de Estado imediatamente.

Eram duas horas da madrugada no pequeno subúrbio de Neuilly. A villa de Marin Groza estava mergulhada na escuridão, a lua escondida por uma densa camada de nuvens de tempestade. As ruas eram silenciosas àquela hora e só de vez em quando se ouviam os passos de algum transeunte retardatário. Um vulto todo de preto avançou sem fazer qualquer barulho entre as árvores, na direção do muro de tijolos que cercava a villa. Tinha num ombro uma corda e uma manta, e nos braços aninhava uma Uzi com silenciador e uma pistola de dardos. Ele parou e ficou escutando ao chegar ao muro. Esperou, imóvel, por cinco minutos. Satisfeito, desenrolou a corda de náilon e jogou para cima o gancho atado na sua extremidade, prendendo-o na outra beira do muro. Começou a subir com agilidade. Estendeu a manta no alto do muro, a fim de se proteger contra as pontas de ferro com veneno que ali estavam cravadas. Tornou a ficar imóvel, escutando. Mudou a posição do gancho, largando a corda por dentro do muro. Desceu para o interior da propriedade. Verificou a balisong em sua cintura, a mortífera faca filipina que podia ser aberta ou fechada com apenas uma das mãos.

Teria agora de cuidar dos cães. O intruso ficou agachado, esperando que os animais o farejassem. Havia três dobermans, treinados para matar. Mas eram apenas o primeiro obstáculo. O terreno e a casa estavam repletos de artefatos eletrônicos e eram continuamente vigiados por câmaras de televisão. Toda correspondência era recebida no portão e aberta ali pelos guardas. As portas da villa eram à prova de bomba. O abastecimento de água era próprio, e Marin Groza tinha um provador de comida. A villa era inexpugnável. Ou pelo menos assim se pensava. O vulto de preto estava ali naquela noite para provar que isso não era verdade.