O vapor estava saindo por baixo da porta do banheiro. Ainda sonhando, Mary abriu-a. Uma nuvem de vapor invadiu a sala. A campainha da porta soou neste momento. Um instante depois, Beth informou:
— Mamãe, James Stickley está aqui para falar com você.
15
— Tudo parece cada vez mais estranho — comentou Ben Cohn.
Ele estava sentado na cama, nu, tendo ao lado a jovem amante, Akiko Hadaka. Assistiam a Mary Ashley na televisão, no programa Meet the press. A nova embaixadora na Romênia dizia:
— Creio que a China continental está se encaminhando para uma sociedade comunista mais humana e individualista através da incorporação de Hong Kong e Macau.
— Mas que porra essa mulher sabe sobre a China? — Ben Cohn virou-se para Akiko. — Está olhando para uma dona-de-casa do Kansas que se tornou profunda conhece-dora de tudo da noite para o dia.
— Ela parece muito inteligente — comentou Akiko.
— Isso não tem a menor importância. Cada vez que ela dá uma entrevista, os repórteres vão à loucura. É como um frenesi trabalhado. Como ela conseguiu se apresentar em Meet the press? Vou explicar. Alguém decidiu que Mary Ashley tinha de se tornar uma celebridade. Quem? Por quê? Charles Lindbergh nunca teve essa projeção.
— Quem é Charles Lindbergh? Ben Cohn suspirou.
— Esse é o problema do abismo entre as gerações. Não há comunicação.
Akiko sugeriu, insinuante:
— Há outros meios de se comunicar.
Ela o fez deitar na cama, gentilmente, e postou-se por cima. Desceu devagar pelo corpo de Cohn, os cabelos compridos e sedosos roçando-lhe pelo peito, barriga e virilha. Observou-o ficar duro. Acariciou-o e murmurou:
— Olá, Arthur.
— Arthur quer entrar em você.
— Ainda não. Voltarei para ele.
Ela levantou-se e foi até a cozinha. Ben Cohn observou-a por um instante e depois tornou a olhar para a televisão. E pensou: Essa mulher me deixa invocado. Há muito mais por trás do que os olhos podem ver, mas juro que ainda vou descobrir tudo.
— Akiko! — gritou ele. — O que está fazendo? Arthur já está começando a dormir!
— Diga a ele para esperar. Já estou voltando. Pouco minutos depois ela apareceu com um prato cheio
de sorvete, creme e uma cereja.
— Pelo amor de Deus! — protestou Cohn. — Não estou com fome, mas sim com tesão!
— Deite-se.
Ela pôs uma toalha por baixo, tirou sorvete do prato e começou a espalhar em torno dos testículos.
— Ei, está frio!
— Fique quieto.
Akiko pôs o creme por cima do sorvete e depois enfiou o pênis na boca, até ele endurecer.
— Ahn... não pare... — gemeu Ben Cohn. Akiko pôs a cereja em cima do pênis, agora completamente rígido.
— Adoro banana split — sussurrou ela.
E começou a comê-lo. Ben experimentou uma mistura incrível de sensações, todas maravilhosas. Quando não pôde mais agüentar, virou Akiko e penetrou-a. Na televisão, Mary Ashley estava dizendo:
— Uma das melhores maneiras de evitar a guerra com os países que se opõem à ideologia americana é aumentar nosso comércio com eles...
Mais tarde, naquela noite, Ben Cohn telefonou para Ian Villiers.
— Oi, Ian.
— Benjie, meu garoto... o que posso fazer por você?
— Preciso de um favor.
— Pode falar e será atendido.
— Ouvi dizer que está como assessor de imprensa da nossa nova embaixadora na Romênia.
Uma reação cautelosa:
— E daí?
— Quem está por trás de toda essa projeção, Ian? Estou interessado em...
— Sinto muito, Ben. Isso é assunto do Departamento de Estado. Sou apenas um contratado. Se quiser saber alguma coisa, pode mandar um questionário para o secretário de Estado.
Desligando, Ben comentou:
— Por que ele simplesmente não me mandou à merda? — Cohn tomou uma decisão. — Acho que vou passar alguns dias fora da cidade.
— Para onde vai, meu bem?
— Junction City, Kansas.
No final das contas, Ben Cohn passou apenas um dia em Junction City. Levou uma hora conversando com o xerife Munster e um dos seus assistentes, depois seguiu num carro alugado para o Forte Riley, onde visitou o gabinete do DIC. Pegou um avião no fim da tarde para Manhattan, Kansas, onde embarcou em outro avião.
No momento em que o avião de Ben Cohn levantava vôo, houve um telefonema pessoal do Forte Riley para um número em Washington.
Mary Ashley avançava por um corredor comprido do Instituto de Serviço Diplomático, a caminho de uma reunião com James Stickley, quando ouviu uma voz masculina dizer às suas costas:
— Ora, ora, isso é o que eu chamo de um dez perfeito! Mary virou-se. Um estranho alto estava encostado na
parede, fitando-a, com um sorriso insolente. Tinha uma aparência rude, vestia jeans, camisa de malha e alpargatas; dava a impressão de estar precisando tomar um banho e fazer a barba. Havia rugas em torno da boca e os olhos eram de um azul-brilhante, zombeteiros. E tinha um ar de arrogância irritante. Mary virou-se e afastou-se, furiosa, consciente de que os olhos do estranho a acompanhavam.
A reunião com James Stickley durou mais de uma hora. Quando Mary voltou à sala que lhe fora destinada, encontrou o estranho sentado em sua cadeira, os pés em cima da mesa, examinando seus papéis. Sentiu o sangue subindo-lhe ao rosto.
— O que está fazendo aqui?
O homem lançou-lhe um olhar longo e indolente e levantou-se devagar.
— Sou Mike Slade. Meus amigos me chamam de Michael.
Ela disse friamente:
— Em que posso ajudá-lo, senhor Slade?
— Na verdade, em nada — respondeu o homem, jovial. — Somos vizinhos. Trabalho aqui, no departamento, por isso pensei em aparecer para lhe dar um alô.
— Já deu. E se trabalha mesmo no departamento, presumo que tem sua mesa. Assim, no futuro, não precisa sentar à minha mesa e bisbilhotar.
— Ei, mas que temperamento explosivo! Sempre ouvi dizer que os kansianos, ou como quer que vocês se chamem, eram pessoas cordiais.
Mary rangeu os dentes.
— Senhor Slade, dou-lhe dois segundos para sair de minha sala antes de eu chamar um guarda.
— Devo ter ouvido mal — murmurou ele para sí mesmo.
— E se realmente trabalha neste departamento, sugiro que vá para casa, faça a barba e ponha roupas mais apropriadas.
— Eu tinha uma esposa que falava assim. — Mike Slade suspirou. — Não tenho mais.
Mary sentiu que seu rosto ficava vermelho.
— Saia!
Ele lhe acenou com a mão.
— Até a vista, meu bem. Voltarei a vê-la. De jeito nenhum, pensou Mary. Você, não.
A manhã inteira foi uma sucessão de experiências desagradáveis. James Stickiey estava abertamente hostil. Ao meio-dia Mary estava transtornada demais para comer. Decidiu passar a hora do almoço passeando por Washington, descarregando a raiva do organismo.
Sua limusine estava encostada no meio-fio, na frente do Instituto do Serviço Diplomático.
— Bom dia, senhora embaixadora — cumprimentou o motorista. — Para onde deseja ir?
— Para qualquer lugar, Marvin. Quero apenas dar uma volta.
— Pois não, senhora. — O carro partiu suavemente. — Gostaria de ver a área das embaixadas?
— Está bem.
Qualquer coisa servia para tirar de sua boca o gosto amargo daquela manhã. O carro virou à esquerda na esquina e seguiu pela Massachusetts Avenue.
— Começa aqui — informou Marvin, entrando numa rua larga.