Ele diminuiu a velocidade e começou a indicar as diversas embaixadas. Mary reconheceu a embaixada japonesa por causa da bandeira do sol nascente na frente. A embaixada indiana tinha um elefante por sobre a porta.
Passaram por uma linda mesquita islâmica. Havia pessoas no pátio da frente, ajoelhadas em oração.
Chegaram à esquina da rua 23 e passaram por um prédio branco de pedra, com colunas nos lados dos três degraus.
— Aquela é a embaixada romena — disse Marvin. — Ao lado fica...
— Pare, por favor!
A limusine encostou no meio-fio. Mary olhou pela janela do carro para uma placa na fachada do prédio. Dizia: EMBAIXADA DA REPÚBLICA SOCIALISTA DA ROMÊNIA.
Num súbito impulso, ela disse:
— Espere aqui. Vou entrar.
Seu coração batia mais depressa. Aquele seria o seu primeiro contato real com o país sobre o qual vinham lhe ensinando tanta coisa — o país que seria seu lar durante os próximos anos.
Ela respirou fundo e apertou a campainha da porta. Silêncio. Experimentou a porta. Não estava trancada. Abriu-a e entrou. O vestíbulo estava escuro e frio. Havia um sofá vermelho numa reentrância na parede e ao lado duas cadeiras, na frente de um pequeno aparelho de televisão, Ela ouviu passos e virou-se. Um homem alto e magro descia apressadamente os degraus.
— O que deseja? — gritou ele. Mary exibiu um sorriso radiante.
— Bom dia. Sou Mary Ashley. Sou a nova embaixadora na Ro...
O homem bateu com a mão no próprio rosto.
— Oh, não!
Ela ficou aturdida.
— Qual é o problema?
— O problema é que não a estávamos esperando, senhora embaixadora.
— Sei disso. Eu estava passando de carro e resolvi...
— O embaixador Corbescue vai ficar profundamente transtornado!
— Transtornado? Mas por quê? Apenas pensei em apresentar meus cumprimentos e...
— Claro, claro. Perdoe-me. Meu nome é Gabriel Stoica. Sou o subchefe da missão. Por favor, deixe-me acender as luzes e ligar o aquecimento. Não estávamos esperando visitas, como pode perceber. Absolutamente ninguém.
Ele estava num pânico tão óbvio que a única coisa que Mary queria fazer era ir embora. Só que já era tarde demais. Observou Gabriel Stoica correr de um lado para outro, acendendo as luzes do teto e abajures, até que o vestíbulo ficou intensamente iluminado.
— Levará alguns minutos para o aquecimento funcionar — desculpou-se ele. — Tentamos economizar combustível sempre que possível. Washington é uma cidade muito cara.
Mary tinha vontade de desaparecer no chão.
— Se eu soubesse...
— Não, não! Não é nada, não é nada! O embaixador está lá em cima. Vou informá-lo de que se encontra aqui.
— Não precisa se incomodar...
Stoica já estava subindo a escada, correndo.
Ele voltou cinco minutos depois.
— Acompanhe-me, por favor. O embaixador está muito satisfeito com sua presença aqui. Encantado.
— Tem certeza que...
— Ele está à sua espera.
Stoica escoltou Mary ao segundo andar. No alto da escada havia uma sala de reuniões, com quatorze cadeiras em torno de uma mesa comprida. Encostado numa parede estava um armário com portas de vidro, em que se viam artefatos e esculturas romenos. Na parede havia um mapa em alto-relevo da Romênia. Por cima da lareira se destacava a bandeira romena. Adiantando-se para cumprimentá-la, ela viu o embaixador Radu Corbescue, em mangas de camisa, vestindo apressado um paletó. Era um homem alto e corpulento, de pele escura. Um criado acendia as luzes e ligava o aquecimento.
Senhora embaixadora! — exclamou Corbescue. — Que honra inesperada! Perdoe-nos por recebê-la de maneira tão informal. O Departamento de Estado não nos avisou de sua visita.
— A culpa é minha — murmurou Mary. — Eu estava passando e...
— É um prazer conhecê-la! Um prazer! Já a vimos muito na televisão, jornais e revistas. E estamos muito curiosos sobre a nova embaixadora em nosso país. Aceita um chá?
— Eu... ahn... se não for muito incômodo.
— Incômodo? Mas claro que não! Peço desculpas por não termos preparado um almoço formal. Perdoe-me! Estou tão embaraçado!
Eu é que estou embaraçada, pensou Mary. O que me levou a cometer esta loucura? Ah, como fui estúpida! Não vou contar nem às crianças. Será um segredo que levarei para o túmulo.
Quando o chá foi servido, o embaixador romeno estava tão nervoso que o derramou.
— Como sou desajeitado! Perdoe-me!
Mary gostaria que ele parasse de pedir perdão.
O embaixador tentou uma conversa amena, mas só serviu para piorar a situação. Era óbvio que ele estava totalmente contrafeito. Assim que pôde, Mary levantou-se.
— Muito obrigada, Excelência. Foi ótimo conhecê-lo. Adeus.
E tratou de fugir.
Quando Mary Ashley voltou ao escritório, James Stickley mandou chamá-la imediatamente.
— Senhora Ashley — disse ele friamente — pode me explicar exatamente o que pensava que estava fazendo?
Acho que não será um segredo que levarei para o túmulo, concluiu Mary.
— Está falando da embaixada romena? Eu... eu apenas pensei em aproveitar que estava passando por lá para cumprimentar e...
— Isto não é uma reunião de comadres em sua terra — protestou Stickley em tom ríspido. — Em Washington ninguém aproveita para uma visita só porque está passando por uma embaixada. Um embaixador só visita outro embaixador a convite. Deixou Corbescue embaraçado e furioso. Precisei conversar muito com ele para dissuadi-lo de apresentar um protesto formal ao Departamento de Estado. Ele acha que você foi lá para espioná-lo e pegá-lo desprevenido.
— Como? Mas tudo o que...
— Procure se lembrar que não é mais uma cidadã particular... é agora uma representante do governo dos Estados Unidos. Da próxima vez em que tiver um impulso menos pessoal do que escovar os dentes, verifique comigo primeiro. Falei claro... falei bem claro?
Mary engoliu em seco.
— Está certo.
— Ótimo. — Ele pegou o telefone e discou um número. — A senhora Ashley está comigo agora. Gostaria de vir até aqui? Certo.
Ele desligou. Mary continuou sentada em silêncio, sentindo-se uma garotinha que estava sendo repreendida. A porta foi aberta e Mike Slade entrou. Ele olhou para Mary e sorriu.
— Oi. Aceitei seu conselho e fiz a barba. Stickley olhou de um para outro.
— Vocês já foram apresentados? Mary olhava furiosa para Slade.
— Não é bem assim. Encontrei-o bisbilhotando em minha mesa.
James Stickley disse:
— Senhora Ashley, Mike Slade. O senhor Slade será o subchefe da missão.
Mary ficou aturdida.
— Como?
— O senhor Slade é da seção do Leste europeu. Geralmente trabalha fora de Washington, mas foi decidido destacá-lo para a Romênia como o seu subchefe.
Ela se levantou da cadeira de um pulo.
— Não! Isso é inadmissível! Mike sugeriu suavemente:
— Prometo fazer a barba todos os dias. Ela virou-se para Stickley.
— Pensei que uma embaixadora tinha permissão para escolher seu subchefe da missão.
— Isso é correto, mas...
— Então estou desescolhendo o senhor Slade. Não o quero.
— Em circunstâncias normais, seria um direito seu, mas não neste caso. Lamento, mas não tem opção. A ordem veio da Casa Branca.
Mary tinha a impressão de que não conseguia evitar Mike Slade. O homem estava em toda parte. Encontrou-o no Pentágono, no restaurante do Senado, nos corredores do Departamento de Estado. Estava sempre vestido de jeans e camiseta ou de roupa esporte. Ela se perguntava como ele podia andar assim num ambiente tão formal.
Um dia ela o viu almoçando com o coronel McKinney. Os dois estavam empenhados numa animada conversa. Imaginou até que ponto os dois seriam íntimos. Seria possível serem velhos amigos? E estarão planejando um complô contra mim? Acho que estou ficando paranóica, disse Mary a sí mesma. E ainda nem fui para a Romênia.