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Charlie Campbell, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, ofereceu uma festa em homenagem a Mary na Corcoran Gallery. Quando chegou e viu todas as mulheres vestidas na maior elegância, Mary pensou: Nem sequer pertenço a este lugar. Todas elas parecem que já nasceram chiques.

Ela não tinha idéia de como estava atraente.

Havia mais de uma dúzia de fotógrafos presentes, e Mary foi a mulher mais fotografada. Dançou com meia dúzia de homens, alguns casados e outros não, e quase todos pediram seu telefone. Não se sentiu ofendida nem interessada.

— Sinto muito — disse a todos —, mas meu trabalho e minha família me mantêm muito ocupada para sair.

A idéia da companhia de outro homem que não Ed-ward era inconcebível. Nunca poderia haver outro homem para ela.

Ela sentou a uma mesa com Charlie Campbell e a esposa e diversas pessoas do Departamento de Estado. A conversa recaiu em anedotas de embaixadores.

— Há poucos anos, em Madri — recordou um dos convidados —, centenas de estudantes amotinados estavam clamando pela devolução de Gibraltar em frente à embaixada britânica. Quando pareciam prestes a invadir o prédio, um dos ministros do general Franco telefonou. "Sinto-me profundamente embaraçado com o que está acontecendo em sua embaixada," disse ele. "Devo mandar mais guardas?" Ao que o embaixador respondeu: "Não preciso. Basta mandar menos estudantes." Alguém perguntou:

— Não era Hermes que os antigos gregos consideravam o patrono dos embaixadores?

— Isso mesmo. E era também o protetor dos vagabundos, ladrões e mentirosos.

Mary estava gostando muito da noite. As pessoas eram inteligentes, espirituosas e interessantes. Poderia passar a noite inteira ali. O homem ao seu lado indagou:

— Não precisa levantar cedo para suas reuniões amanhã?

— Não — respondeu Mary. — É domingo. Posso dormir até tarde.

Pouco depois, uma mulher bocejou.

— Desculpem, mas tive um dia comprido.

— Eu também — comentou Mary, jovialmente. Teve a impressão de que o salão estava anormalmente

quieto. Olhou ao redor e todos pareciam observá-la. Mas o quê...? Olhou para o relógio. Eram duas e meia da madrugada. E com o maior horror ela se lembrou de repente de uma coisa que Stanton Rogers lhe dissera: Numa festa, o convidado de honra é sempre a primeira pessoa a se retirar. E ela era a convidada de honra. Deus do céu!, pensou Mary. Estou mantendo todo mundo acordado. Levantou-se e disse, a voz sufocada:

— Boa noite para todos. Foi uma noite maravilhosa. Virou-se e foi embora, apressada, ouvindo às suas costas os outros convidados se levantando para partirem.

Na manhã de segunda-feira ela encontrou com Mike Slade à entrada do Instituto. Ele sorriu e comentou:

— Soube que você manteve a metade de Washington acordada na noite de sábado.

O ar arrogante de Slade deixou-a furiosa.

Ela passou por ele e foi para a sala de James Stickley.

— Senhor Stickley, creio que os melhores interesses de nossa embaixada na Romênia não seriam atendidos se o senhor Slade e eu tentássemos trabalhar juntos.

Ele levantou os olhos do documento que estava lendo.

— É mesmo? E qual é o problema?

— É... é a atitude dele. Considero o senhor Slade grosseiro e arrogante. Para ser franca, não gosto dele.

— Sei que Mike tem suas pequenas idiossincrasias, mas...

— Idiossincrasias? Isso é demais! Estou pedindo oficialmente que mande outra pessoa em seu lugar.

— Já acabou?

— Já.

— Senhora Ashley, Mike Slade por acaso é o nosso melhor perito em ação nos assuntos da Europa Central. Sua função é fazer amizade com os locais. A minha é providenciar para que receba toda ajuda possível. E isso significa Mike Slade. Não quero mais ouvir falar sobre isso. Estou sendo bem claro?

Não adianta, pensou Mary. Não adianta mesmo.

Ela voltou à sua sala, frustrada e furiosa. Eu poderia falar com Stan, pensou ela. Ele compreenderia. Mas seria uma demonstração de fraqueza. Terei de cuidar pessoalmente de Mike Slade.

— Sonhando?

Mary levantou os olhos, surpresa. Mike Slade estava parado na frente de sua mesa, segurando uma pilha de memorandos.

— Isto a manterá longe de encrencas esta noite — disse ele, pondo os memorandos em cima da mesa.

— Bata na próxima vez em que quiser entrar na minha sala.

Os olhos de Slade tinham uma expressão zombeteira.

— Por que tenho a impressão de que você não é louca por mim?

Mary sentiu que sua raiva tornava a aflorar.

— Vou explicar por quê, senhor Slade. Porque o acho arrogante, impertinente, presunçoso...

Ele levantou um dedo.

— Está sendo tautológica.

— Não se atreva a zombar de mim!

Mary descobriu que estava gritando. Ele baixou a voz para um nível perigoso.

— Quer dizer que não posso me juntar aos outros? O que acha que todos em Washington estão comentando a seu respeito?

— Não me importo com o que os outros falam.

— Mas deveria. — Slade inclinou-se por cima da mesa. — Todos estão perguntando que direito você tem de ocupar uma embaixada. Passei quatro anos na Romênia. É uma banana de dinamite prestes a explodir, e o governo está mandando uma estúpida garota do interior para enfrentar a situação.

Mary continuou sentada, em silêncio, escutando e rangendo os dentes.

— Não passa de uma amadora, senhora Ashley. E se alguém quisesse homenageá-la, deveria fazê-la embaixadora no Pólo Norte.

Mary perdeu o controle. Levantou-se de um pulo e deu-lhe um tapa. Mike Slade suspirou.

— Você nunca fica sem resposta, hem?

16

O convite dizia: "O Embaixador da República Socialista da Romênia solicita sua presença para coquetéis e jantar na Embaixada, rua 23, 1607, N.W., às 7,30 da noite, traje rigor, RSVP 555-6593."

Mary pensou na última vez que visitara a embaixada e como bancara a tola. Isso nunca mais tornará a acontecer. Pertence ao passado. Sou parte do cenário de Washington agora.

Vestiu uma de suas roupas novas, um vestido preto de veludo, decotado, as mangas compridas. Usou sapatos pretos de salto alto e um colar de pérolas simples. Beth comentou:

— Está mais linda do que a Madonna. Mary abraçou-a.

— Estou irresistível. Vocês dois jantem no restaurante lá embaixo e depois podem subir para assistir televisão. Voltarei cedo para casa. Amanhã vamos todos visitar a casa do presidente Washington em Mount Vernon.

— Divirta-se, mamãe.

O telefone tocou. Era da recepção.

— Senhora embaixadora, o senhor Stickley está à sua espera no saguão.

Eu gostaria de poder ir sozinha, pensou Mary. Não preciso dele ou de qualquer outra pessoa para me manter fora de encrenca.

A embaixada romena parecia completamente diferente da última vez em que Mary a vira. Havia um ar festivo que faltava em sua primeira visita. Foram recebidos na porta por Gabriel Stoica, o subchefe da missão.

— Boa noite, senhor Stickley. É um prazer vê-lo. James Stickley acenou com a cabeça na direção de

Mary.

— Posso apresentá-la a nossa nova embaixadora em seu país?

Não houve qualquer sinal de reconhecimento no rosto de Stoica.

— É um prazer conhecê-la, senhora embaixadora. Acompanhem-me, por favor.