Enquanto atravessavam o vestíbulo, Mary notou que todos os aposentos estavam bem iluminados e aquecidos. Podia ouvir os acordes de uma pequena orquestra soando lá em cima. Havia vasos com flores por toda parte.
O embaixador Corbescue conversava com algumas pessoas quando viu James Stickley e Mary Ashley se aproximarem.
— Boa noite, senhor Stickley.
— Boa noite, embaixador. Posso apresentar-lhe a embaixadora dos Estados Unidos na Romênia?
Corbescue olhou para Mary e disse, em tom impassíveclass="underline"
— Estou feliz em conhecê-la.
Mary ficou esperando por um brilho nos olhos. Não houve.
Havia uma centena de pessoas no jantar. Os homens estavam a rigor e as mulheres usavam lindos vestidos Givenchy e Oscar de la Renta. A mesa grande que Mary vira lá em cima, na visita anterior, fora aumentada por meia dúzia de mesas menores ao redor. Criados de libré circulavam pela sala com bandejas de champanha.
— Não quer tomar um drinque? — perguntou Stickley.
— Não, obrigada — respondeu Mary. — Não bebo.
— É mesmo? É uma pena. Ela fitou-o, perplexa.
— Por quê?
— Porque faz parte do cargo. Haverá brindes em todos os jantares diplomáticos a que comparecer. Se não beber, ofenderá o anfitrião. Precisa tomar um gole de vez em quando.
— Não me esquecerei.
Mary correu os olhos pela sala e lá estava Mike Slade. Por um momento, não o reconheceu. Ele estava de smoking, e Mary teve de admitir que naqueles trajes ele não era um homem desgracioso. Enlaçava uma loura sensual, cujo vestido parecia prestes a cair. Uma mulher vulgar, pensou Mary. Típica do seu gosto. Quantas mulheres estarão à sua espera em Bucareste?
Mary lembrou-se das palavras de Mike: Não passa de uma amadora, senhora Ashley. Se alguém quisesse homenageá-la, deveria fazê-la embaixadora no Pólo Norte. Filho da mãe!
Enquanto Mary observava, o coronel McKinney, em uniforme de gala, aproximou-se de Mike. Ele pediu licença à loura e foi para um canto com o coronel. Terei de tomar cuidado com os dois, pensou Mary. Um criado estava passando com champanha.
— Acho que vou tomar uma taça — disse Mary. James Stickley observou-a tomar o champanha e depois disse:
— Muito bem. Está na hora de começar a trabalhar a sala.
— Trabalhar a sala?
— Muitos negócios são acertados nestas festas. É por isso que as embaixadas as oferecem.
Mary passou a hora seguinte sendo apresentada a embaixadores, senadores, governadores e algumas das personalidades políticas mais poderosas de Washington. A Romênia se tornara um país de destaque, e quase todas as pessoas importantes haviam conseguido um convite para o jantar na embaixada. Mike Slade aproximou-se de James Stickley e Mary, com a loura a tiracolo.
— Boa noite — disse ele jovialmente. — Gostaria de apresentá-los a Debbie Dennison. James Stickley e Mary Ashley.
Era uma bofetada deliberada. Mary disse, friamente:
— Sou a embaixadora Ashley. Mike bateu com a mão na testa.
— Desculpe, embaixadora Ashley. O pai da senhorita Dennison também é embaixador. Um diplomata de carreira, é claro. Serviu em meia dúzia de países nos últimos 25 anos.
Debbie Dennison comentou:
— É uma maneira maravilhosa de crescer. Mike Slade acrescentou:
— Debbie tem circulado muito.
— Não tenho a menor dúvida quanto a isso — arrematou Mary calmamente.
Mary rezou para não ficar sentada ao lado de Mike durante o jantar, e sua prece foi atendida. Ele foi para outra mesa, ao lado da loura seminua. Havia uma dúzia de pessoas à mesa de Mary. Alguns rostos eram familiares, já os vira em capas de revistas e na televisão. James Stickley ficou sentado em frente a Mary. O homem à esquerda de Mary falava uma língua misteriosa, que ela não foi capaz de identificar. À sua direita estava um louro alto e magro, de meia-idade, com um rosto atraente e sensível.
— Fico muito satisfeito por estar ao seu lado no jantar — disse ele a Mary. — Sou seu fã ardoroso.
Ele falava com um ligeiro sotaque escandinavo.
— Obrigada.
Mary não pôde deixar de especular: Meu fã por quê? Ainda não fiz nada.
— Sou Olaf Peterson, adido cultural da Suécia.
— Prazer em conhecê-lo, senhor Peterson.
— Já esteve na Suécia?
— Não. Para ser franca, nunca estive em parte alguma. Olaf Peterson sorriu.
— Então muitos lugares serão honrados com a sua visita.
— Talvez um dia eu e as crianças visitemos seu país.
— Quer dizer que tem filhos? Qual é a idade deles?
— Tim está com dez anos e Beth com doze. Vou lhe mostrar as fotos.
Mary abriu a bolsa e tirou as fotos das crianças. No outro lado da mesa, James Stickley sacudia a cabeça em desaprovação. Olaf Peterson examinou os retratos e exclamou:
— Mas que lindas crianças! Saíram à mãe.
— Têm os olhos do pai.
Eles costumavam discutir jovialmente sobre com qual dos dois as crianças pareciam.
Beth vai ser uma beldade, como você, dizia Edward. Não sei com quem Tim parece. Tem certeza de que ele é meu?
E a conversa provocante sempre acabava na cama.
Olaf Peterson estava lhe dizendo alguma coisa.
— Como?
— Eu disse que li a notícia da morte de seu marido num acidente de automóvel. Sinto muito. Deve ser bastante difícil para uma mulher ficar sozinha, sem um homem.
A voz estava impregnada de simpatia. Mary pegou o copo de vinho à sua frente e tomou um gole. Estava revigorante. Ela esvaziou o copo. Um garçom de luvas brancas, pairando por trás dos convidados, tornou a enchê-lo no mesmo instante.
— Quando vai assumir seu posto na Romênia? — indagou Peterson.
— Fui informada de que deveremos partir dentro de poucas semanas. — Mary pegou o copo de vinho. — A Bucareste.
Ela bebeu. O vinho era delicioso, e todos sabiam que vinho tinha um baixo teor alcoólico.
Quando o garçom se ofereceu para encher o copo outra vez, Mary acenou com a cabeça, feliz. Correu os olhos pela sala, para todos os convidados tão bem vestidos, falando em uma dúzia de línguas diferentes, e pensou: Não há banquetes assim na velha Junction City. Jamais. O Kansas é um lugar sem graça. Já Washington é tão divertido como... tão divertido como o quê? Ela franziu o rosto, procurando uma comparação.
— Você está bem? — perguntou Olaf Peterson. Mary apertou-lhe o braço.
— Estou ótima. Gostaria de tomar outro copo de vinho, Olaf.
— Pois não.
Ele acenou para o garçom, e o copo de Mary foi enchido mais uma vez.
— Nunca tomei vinho em casa — revelou Mary, em tom confidencial. Ela tomou um gole e acrescentou: — Para ser franca, nunca bebo nada... a não ser água, é claro.
Suas palavras começavam a engrolar. Olaf Peterson estudava-a, sorrindo. No centro da mesa, o embaixador romeno, Corbescue, levantou-se e disse:
— Senhoras e senhores... meus distintos convidados... eu gostaria de propor um brinde.
O ritual começou. Houve brindes a Alexandros Ionescu, o presidente da Romênia. Houve brindes a madame Alexandros Ionescu. Houve brindes ao presidente e ao vice-presidente dos Estados Unidos, à bandeira romena e à bandeira americana. Mary tinha a impressão de que eram milhares de brindes. Ela bebeu a cada um. Sou uma embaixadora, lembrou a sí mesma. É meu dever.
No meio dos brindes, o embaixador romeno disse:
— Tenho certeza de que todos gostaríamos de ouvir algumas palavras da encantadora nova embaixadora dos Estados Unidos na Romênia.
Mary levantou seu copo e começou a beber ao brinde quando compreendeu subitamente que estava sendo chamada a falar. Ainda ficou sentada por um instante, depois conseguiu se levantar. Teve de se apoiar na mesa. Olhou para a multidão e acenou.