Выбрать главу

Alfred Shuttleworth era um homem pálido, de meia-idade, que trabalhava na seção européia do Departamento de Estado. Anos antes estivera envolvido num acidente de automóvel, em que guiava embriagado. Ben Cohn fizera a cobertura para seu jornal. A carreira de Shuttleworth estava em jogo. Cohn abafara a história, e Shuttleworth demonstrava seu agradecimento lhe dando informações de vez em quando.

— Preciso de sua ajuda, Al.

— Pode pedir.

— Eu gostaria de informações internas sobre a nossa nova embaixadora na Romênia.

Alfred Shuttleworth franziu o rosto.

— Como assim?

— Três pessoas me telefonaram para dizer que ela tomou um porre na festa do embaixador romeno ontem à noite e bancou a idiota na presença de todo mundo que é importante em Washington. Já viu os jornais matutinos de hoje ou as primeiras edições dos vespertinos?

— Já, sim. Falaram da festa na embaixada, mas não houve qualquer referência a Mary Ashley.

— Exatamente. "O curioso incidente do cachorro durante a noite."

— Não entendi.

— Sherlock Holmes. O cachorro não latiu. Ficou calado. E os jornais também. Por que os colunistas silenciariam com uma história tão suculenta? Alguém abafou o incidente. Alguém importante. Se fosse qualquer outra VIP que se desgraçasse, a imprensa teria um prato cheio.

— Não é tanto assim, Ben.

— Al, temos uma Cinderela que surge do nada, é tocada pela varinha de condão do nosso presidente e de repente se transforma numa Grace Kelly, princesa Di e Jacqueline Kennedy, tudo numa só pessoa. Reconheço que ela é bonita... mas não tão bonita assim. Ela é inteligente... mas não inteligente assim. Na minha humilde opinião, dar um curso de ciência política na Universidade Estadual do Kansas não qualifica qualquer pessoa a se tornar embaixadora num dos lugares mais delicados do mundo. E vou lhe contar outra coisa que não parece muito certa. Voei para Junction City e conversei com o xerife.

Alfred Shuttleworth tomou o resto de seu martini.

— Acho que vou querer outro. Você está me deixando nervoso.

— Está ficando como eu. Ben Cohn pediu outro martini.

— Continue — disse Shuttleworth.

— A senhora Ashley recusou o convite do presidente porque o marido não podia deixar sua clínica. E de repente ele morre num conveniente acidente de automóvel. Voilà! A mulher está em Washington, a caminho de Bucareste. Exatamente como alguém planejara desde o inicio.

— Alguém? Quem?

— Essa é a pergunta fundamental.

— O que está querendo sugerir, Ben?

— Não estou querendo sugerir nada. Deixe-me contar-lhe o que o xerife Munster sugeriu. Ele achou que era estranho que meia dúzia de testemunhas surgissem do nada numa madrugada gelada de inverno a tempo de testemunhar o acidente. E quer saber de uma coisa ainda mais estranha? Todas as testemunhas desapareceram. Sem exceção.

— Continue.

— Fui ao Forte Riley para conversar com o motorista do caminhão militar que matou o doutor Ashley.

— E o que ele tinha a dizer?

— Nada. Tinha morrido. Sofreu um infarto. Aos 27 anos de idade.

Shuttleworth estava mexendo na haste de seu copo.

— Posso presumir que há mais?

— Claro. Há muito mais. Procurei o oficial do DIC em Forte Riley, para entrevistar o coronel Jenkins, que estava no comando das investigações e também foi uma das testemunhas do acidente. O coronel não estava mais lá. Foi promovido e transferido. Agora é general, servindo em algum lugar no exterior. Parece que ninguém sabe ao certo onde.

Alfred Shuttleworth sacudiu a cabeça.

— Sei que você é um tremendo repórter, Ben, mas sinceramente acho que desta vez saiu dos trilhos. Está reunindo umas poucas coincidências para fazer um roteiro de Hitchcock. As pessoas morrem em acidentes de automóvel, sofrem infartos, são promovidas e transferidas. Está procurando por alguma conspiração onde não existe nenhuma.

— Já ouviu falar de uma organização chamada Patriotas pela Liberdade?

— Não. É alguma coisa parecida com a DAR? Ben Cohn respondeu suavemente:

— Não tem qualquer semelhança com a DAR. Estou ouvindo rumores a todo instante, mas não consigo descobrir nada de concreto.

— Que tipo de rumores?

— Dizem que é uma cabala de fanáticos de alto nível da extrema direita e da extrema esquerda, de uma dúzia de países dos dois lados. As ideologias são diametralmente opostas, mas são reunidos pelo medo. Os membros comunistas acham que o plano do presidente Ellison é uma trama capitalista para destruir o bloco do Leste. O pessoal da extrema direita está convencido de que o plano é uma porta aberta que permitirá que os comunistas nos destruam. Por isso, eles fizeram essa espantosa aliança.

— Não dá para acreditar.

— Há mais. Além dos VlPs, parece que há diversos grupos de várias agências internacionais de segurança envolvidos. Acha que poderia conferir isso para mim?

— Não sei. Mas tentarei.

— Sugiro que seja discreto. Se a organização existe mesmo, eles não ficarão muito satisfeitos por descobrirem alguém bisbilhotando.

— Procurarei você assim que souber de alguma coisa, Ben.

— Obrigado. Vamos pedir o almoço.

O espaguete à carbonara estava magnífico.

Alfred Shuttleworth estava cético sobre a teoria de Ben Cohn. Os repórteres estão sempre procurando por histórias sensacionalistas, pensou Shuttleworth. Ele gostava de Ben Cohn, mas não tinha a menor idéia de como obter informações sobre uma organização provavelmente mítica. Se de fato existia, devia estar em algum computador do governo. Ele próprio não tinha acesso aos computadores. Mas conheço alguém que tem, lembrou Alfred Shuttleworth. Falarei com ele.

Alfred Shuttleworth estava tomando o seu segundo martini quando Pete Connors entrou no bar.

— Desculpe o atraso — disse Connors. — Tive um pequeno problema na fábrica de picles.

Peter Connors pediu um uísque puro e Shuttleworth pediu outro martini.

Os dois se conheciam porque a namorada de Connors e a esposa de Shuttleworth trabalhavam para a mesma companhia e haviam se tornado amigas. Connors e Shuttleworth eram completamente opostos: um estava envolvido em jogos mortais de espionagem e o outro era um burocrata que não saía de uma escrivaninha. As diferenças é que fizeram com que gostassem da companhia um do outro, e de vez em quando trocavam informações úteis. Quando Shuttleworth o conhecera, Connors era um companheiro divertido e interessante. Em algum ponto do caminho, no entanto, tornara-se um homem azedo. Virara um reacionário amargo. Shuttleworth tomou um gole do martini.

— Preciso de um favor, Pete. Poderia procurar uma coisa para mim no computador da CIA? Talvez não haja nada, mas prometi a um amigo que tentaria descobrir.

Connors sorriu interiormente. O pobre coitado provavelmente quer descobrir se alguém está comendo sua esposa.

— Claro. Eu lhe devo alguns favores. Sobre quem você quer saber?

— Não é quem, mas o quê. E provavelmente nem existe. É uma organização chamada Patriotas pela Liberdade. Já ouviu falar?

Pete Connors pôs o copo na mesa com todo cuidado.

— Não posso dizer que sim, Al. Qual é o nome do seu amigo?

— Ben Cohn. Ele é repórter do Post.

Na manhã seguinte, Ben Cohn tomou uma decisão. Ele disse a Akiko:

— Ou descobri a história do século ou não tenho nada. Está na hora de descobrir com certeza.

— Graças a Deus! — exclamou Akiko. — Arthur vai ficar muito feliz.

Ben Cohn encontrou Mary Ashley em seu escritório.

— Bom dia, embaixadora. Sou Ben Cohn. Lembra de mim?

— Claro, senhor Cohn. Já escreveu aquela reportagem?