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Ouviu o ruído dos cães correndo em sua direção antes de vê-los. Saíram voando da escuridão, saltando para sua garganta. Eram dois. Ele apontou a pistola de dardos e atingiu primeiro o que estava mais próximo, à sua esquerda, depois o outro, à direita, desviando-se dos corpos ao caírem. Virou-se, alerta ao terceiro doberman. Quando o animal atacou, ele tornou a disparar. Depois, houve apenas silêncio.

O intruso sabia onde estavam enterradas as armadilhas sônicas e evitou-as. Esgueirou-se pelas áreas que as câmeras de televisão não cobriam. Menos de dois minutos depois de pular o muro, estava na porta dos fundos da casa. Ao estender a mão para a maçaneta, foi apanhado pelo súbito clarão de refletores. Uma voz gritou:

— Pare aí! Largue a arma e levante as mãos!

O vulto de preto largou a arma com todo cuidado e levantou os olhos. Havia meia dúzia de homens espalhados pelo telhado, apontando-lhe uma variedade de armas. Ele berrou:

— Por que demoraram tanto? Eu nunca deveria ter chegado a este ponto.

— E não chegou — informou o chefe dos guardas. — Começamos a seguir seu avanço assim que pulou o muro.

Lev Pasternak não abrandou.

— Então deveriam ter me detido mais cedo. Eu poderia estar numa missão suicida, com uma carga de granadas ou um morteiro. Quero uma reunião de toda a equipe de manhã, às oito em ponto. Os cachorros estão apenas narcotizados. Alguém fique de olho neles até acordarem.

Lev Pasternak orgulhava-se de ser o melhor agente de segurança do mundo. Fora piloto na Guerra dos Seis Dias em Israel e depois se tornara um dos principais agentes do Mossad, um dos cinco serviços secretos israelenses.

Jamais esqueceria aquela manhã, dois anos antes, em que o coronel o chamara a seu gabinete.

— Lev, alguém quer você emprestado por algumas semanas.

— Espero que seja uma loura — gracejou Lev.

— É Marin Groza.

O Mossad tinha a ficha completa do dissidente romeno. Groza fora o líder de um movimento popular para depor Alexandros Ionescu e estava prestes a desfechar um golpe quando fora traído por um dos seus homens. Mais de duas dúzias de rebeldes foram executados, e Groza mal conseguira escapar do país com vida. A França lhe dera asilo. Ionescu denunciara Marin Groza como traidor de seu país e oferecera um prêmio por sua cabeça. Até então, meia dúzia de tentativas de assassinar Groza haviam fracassado, mas ele fora ferido no último atentado.

— O que ele quer comigo? — perguntou Pasternak. — Tem a proteção do governo.

— Não é suficiente. Ele precisa de alguém para montar um sistema de segurança infalível. E nos procurou. Recomendei você.

— Eu teria de ir para a França?

— Só vai levar umas poucas semanas.

— Não quero...

— Estamos falando sobre mensch, Lev. Ele é muito importante. Nossas informações são de que conta em seu país com apoio popular suficiente para derrubar Ionescu. Entrará em ação no momento oportuno. Até lá, precisamos mantê-lo vivo.

Lev Pasternak pensou por um momento.

— Apenas algumas semanas?

— Não mais do que isso.

O coronel se enganara quanto ao tempo, mas estava certo em relação a Marin Groza. Era um homem magro, de aparência frágil, com um ar ascético e um rosto marcado pelo sofrimento. Tinha um nariz aquilino, queixo firme e testa larga, encimada por cabelos brancos. Os olhos eram pretos e profundos e ardiam de paixão quando ele falava.

— Não me importo de viver ou morrer — declarou a Lev, na primeira reunião. — Todos vamos morrer. É o quando que me preocupa. Tenho de permanecer vivo por mais um ou dois anos. Esse é todo o tempo de que preciso para expulsar Ionescu de meu país.

Passou a mão, distraído, por uma cicatriz lívida na face, e depois acrescentou:

— Nenhum homem tem o direito de escravizar um país. Precisamos libertar a Romênia e deixar que o povo decida seu próprio destino.

Lev Pasternak começou a trabalhar no sistema de segurança da villa em Neuilly. Usou alguns dos seus homens, e os estranhos que contratou foram checados com o máximo de rigor. Cada peça de equipamento era uma autêntica obra de arte.

Pasternak falava todos os dias com o líder rebelde romeno; quanto mais tempo passava com ele, mais o admirava. Quando Marin Groza pediu-lhe que continuasse como seu chefe de segurança, Pasternak não hesitou.

— Está bem. Ficarei até que você esteja pronto para entrar em ação. Depois, voltarei para Israel.

Selaram o acordo.

A intervalos irregulares, Pasternak desfechava ataques de surpresa contra a villa, testando o esquema de segurança. Agora, ele pensou: Alguns dos guardas estão se tornando descuidados. Terei de substituí-los.

Foi andando pelos corredores, verificando com todo cuidado os sensores de calor, os sistemas eletrônicos de alarme e os raios infravermelhos no limiar de cada porta. Ao chegar ao quarto de Marin Groza, ouviu um estrondo alto, e um momento depois o líder romeno se pôs a gritar em agonia.

Lev Pasternak passou pela porta e seguiu adiante.

3

A sede da CIA fica no outro lado do rio Potomac, em Langley, na Virgínia, onze quilômetros a noroeste de Washington. Na estrada de acesso para a agência há uma luz vermelha piscando no alto de um portão. A passagem é vigiada 24 horas por dia, e os visitantes recebem crachás coloridos que lhes permitem ir apenas ao departamento específico em que têm negócios a tratar. Na frente do prédio cinzento de sete andares, caprichosamente conhecido como Fábrica de Brinquedos, há uma estátua grande de Nathan Hale. Lá dentro, no andar térreo, a parede de vidro de um corredor dá para um pátio interno onde existe um jardim bem cuidado, cheio de magnólias. Por cima da mesa de recepção há um verso esculpido em mármore:

E vocês saberão a verdade

e a verdade os libertará.

O público nunca é admitido no interior do prédio e não há instalações para visitantes. Para os que desejam entrar no conjunto "preto" — invisível — há um túnel que desemboca num saguão, em frente a uma porta de elevador de mogno, permanentemente vigiada por um pelotão de sentinelas" de terno cinza.

Na sala de conferências no sétimo andar, guardada por agentes de segurança com revólveres de calibre 38 de cano curto por baixo dos paletós, estava se realizando a reunião rotineira da manhã de segunda-feira da equipe executiva. Sentados em torno da enorme mesa de carvalho estavam Ned Tillingast, diretor da CIA; general Oliver Brooks, chefe do Estado-Maior do Exército; o secretário de Estado Floyd Baker; Pete Connors, chefe da contra-espionagem; e Stanton Rogers.

Ned Tillingast, o diretor da CIA, era um homem de sessenta e poucos anos, frio e taciturno, oprimido pelo peso de segredos terríveis. Há um setor claro e um setor escuro na CIA. O setor escuro cuida das operações clandestinas e durante os últimos sete anos Tillingast estivera no comando dos seus 4.500 funcionários.

O general Oliver Brooks era um oficial de West Point que conduzia sua vida pessoal e profissional por regulamentos. Era um homem de companhia, e a companhia a que servia era o Exército dos Estados Unidos.

Floyd Baker, o secretário de Estado, era um anacronismo, um remanescente de uma era anterior: típico cavalheiro sulista, alto, cabelos prateados e aparência distinta, com uma cortesia fora de moda. Usava polainas mentais. Possuía uma cadeia de influentes jornais por todo o país e era considerado fabulosamente rico. Não havia ninguém em Washington com um senso político mais penetrante e suas antenas se encontravam constantemente sintonizadas com as mudanças de ventos nos corredores do Congresso.