— É por isso que estou lhe telefonando, embaixadora. Fui a Junction City e obtive algumas informações que acho que poderão interessá-la.
— Que tipo de informações?
— Prefiro não falar pelo telefone. Não poderíamos nos encontrar em algum lugar?
— Estou com a agenda incrivelmente cheia. Deixe-me ver... Tenho meia hora livre na manhã de sexta-feira. Está bom?
Mais três dias.
— Acho que pode esperar até lá.
— Quer vir à minha sala?
— Há um café embaixo do prédio. Podemos nos encontrar lá?
— Está certo. Até sexta-feira.
Eles se despediram e desligaram. Um momento depois houve um terceiro clique na linha.
Não havia possibilidade de fazer um contato direto com o Controlador. Ele organizara e financiava os Patriotas pela Liberdade, mas nunca comparecia às reuniões do comitê e se mantinha completamente anônimo. Era apenas um número de telefone — que não se podia localizar (Connors já tentara) — e uma gravação que dizia:
— Tem sessenta segundos para deixar sua mensagem. O telefone só devia ser usado em casos de emergência.
Connors foi a uma cabine pública para fazer a ligação. Falou ao gravador.
A mensagem foi recebida às seis horas da tarde.
Eram oito horas da noite em Buenos Aires.
O Controlador escutou a mensagem duas vezes e depois discou um número. Esperou por três minutos antes de ouvir a voz de Neusa Muñez.
— Si?
O Controlador disse:
— Aqui é o homem que fez o acordo com você sobre Angel. Tenho outro contrato para ele. Podemos fazer contato imediatamente?
— Não sei.
A mulher parecia bêbada. Ele fez um esforço para reprimir a impaciência.
— Quando espera ter notícias dele?
— Não sei.
Mas que mulher desgraçada!
— Preste atenção. — Ele falou devagar, com todo cuidado, como se estivesse tratando com uma criança pequena. — Diga a Angel que quero que o trabalho seja feito imediatamente. Quero que ele...
— Espere um instante. Tenho de ir ao banheiro.
O Controlador ouviu-a largar o telefone. Ficou esperando, dominado pela frustração. A mulher voltou à linha três minutos depois, comentando:
— Muita cerveja deixa a gente com vontade de mijar. Ele rangeu os dentes.
— É muito importante. — Ele estava com medo de que a mulher não se lembrasse. — Quero que pegue lápis e papel e anote tudo. Falarei devagar.
Naquela noite Mary compareceu a uma festa oferecida pela embaixada canadense. Quando estava deixando o escritório, a fim de ir para o hotel e se vestir, James Stickley disse:
— Sugiro que desta vez tome apenas um gole nos brindes.
Ele e Mike Slade formam uma dupla maravilhosa.
Agora que se encontrava na festa, ela preferia estar em casa com Beth e Tim. Os rostos à mesa eram desconhecidos. À sua direita sentava um armador grego. À esquerda estava um diplomata inglês. Uma socialite de Filadélfia, carregada de diamantes, perguntou a Mary:
— Está gostando de Washington, madame embaixadora?
— Estou gostando muito.
— Deve estar emocionada por ter escapado do Kansas. Mary fitou-a sem entender.
— Escapado do Kansas? A mulher explicou:
— Nunca estive no Meio-Oeste americano, mas deve ser horrível. Só fazendeiros e plantações de trigo e milho. É surpreendente que tenha conseguido suportar por tanto tempo.
Mary sentiu um ímpeto de raiva, mas fez um esforço para manter a voz sob controle.
— O milho e o trigo de que está falando alimentam o mundo — comentou ela, polidamente.
O tom da mulher era condescendente.
— Nossos automóveis funcionam com gasolina, mas eu não gostaria de viver nos campos petrolíferos. Em termos culturais, acho que só se pode viver no Leste. Não concorda? Falando francamente, não há nada para fazer no Kansas, a não ser que se passe o dia inteiro trabalhando nas plantações, não é?
As outras pessoas à mesa acompanhavam a conversa com extrema atenção.
Não há realmente nada para fazer? Mary pensou nos passeios em carroças de feno em agosto, nas feiras do condado e nos emocionantes dramas clássicos apresentados no teatro da universidade. Os piqueniques dominicais no Milford Park e os torneios de beisebol, a pesca no lago de água limpa. A banda tocando no gramado e as reuniões na prefeitura, as festas de rua, os bailes em celeiros e a emoção da época da colheita... os passeios de trenó no inverno e os fogos de artifício no Quatro de Julho, criando um arco-íris no suave céu do Kansas. Ela disse à mulher:
— Se nunca esteve no Meio-Oeste americano, não sabe do que está falando, não é? Porque é lá que este país existe. A América não é Washington, Los Angeles ou Nova York. São milhares de pequenas cidades que você nunca viu nem ouviu falar que tornam grande este país. São os mineiros, os lavradores e os operários. E quero que saiba que no Kansas temos balés, sinfonias e teatro. Para sua informação, cultivamos muito mais do que apenas trigo e milho... também criamos seres humanos decentes.
— Você deve saber que insultou a irmã de um senador muito importante — James Stickley informou a Mary na manhã seguinte.
— Mas não o suficiente — respondeu Mary, em tom de desafio. — Não o suficiente.
Manhã de quinta-feira. Angel estava de mau humor. O vôo de Buenos Aires para Washington fora atrasado porque alguém ligara para as autoridades avisando que havia uma bomba a bordo. O mundo não é mais seguro, pensou Angel, irritado.
O quarto de hotel que lhe fora reservado em Washington era moderno demais, muito — qual era mesmo a palavra? — plástico. Era esse o problema. Em Buenos Aires, tudo era autêntico.
Cumprirei esse contrato e voltarei logo para casa. O trabalho é muito simples, quase um insulto ao meu talento. Mas o dinheiro é excelente. Preciso trepar esta noite. Gostaria de saber por que matar sempre me deixa com tesão.
A primeira visita de Angel foi a uma loja de equipamentos elétricos. Depois foi a uma loja de tintas e finalmente a um supermercado, onde comprou apenas seis lâmpadas. O resto do equipamento esperava no quarto do hotel, em duas caixas lacradas, marcadas com frágil — manuseie com cuidado. Na primeira caixa havia quatro granadas de mão militares, cuidadosamente acondicionadas. Na segunda caixa havia equipamento de solda.
Trabalhando devagar e com toda cautela, Angel cortou a parte superior da primeira granada, depois pintou-a da mesma cor que as lâmpadas. A segunda providência foi remover o explosivo da granada e substituí-lo por explosivo sísmico. Assim que ficou pronto, Angel acrescentou chumbo e estilhaços metálicos. Angel quebrou uma lâmpada na mesa, preservando o filamento e a base. Levou menos de um minuto para soldar o filamento a um detonador ativado eletricamente. A providência final foi inserir o filamento numa gelatina, a fim de mantê-lo instável, e inserir na granada pintada. Quando Angel acabou, o artefato parecia uma lâmpada comum.
Angel pôs-se então a trabalhar nas outras lâmpadas.
Depois, não tinha mais nada a fazer a não ser esperar pelo telefonema.
O telefone tocou às oito horas daquela noite. Angel atendeu e escutou, sem falar. Depois de um momento, uma voz disse:
— Ele saiu.
Angel desligou. Com cuidado, com muito cuidado, as lâmpadas foram acondicionadas numa caixa cheia de aparas de madeira, que foi metida numa valise, junto com os restos dos materiais descartados.
A viagem de táxi para o prédio de apartamentos levou dezessete minutos.
Não havia porteiro no saguão; se houvesse, no entanto, Angel estava preparado para lidar com o homem. O apartamento ficava no quinto andar, ao final do corredor. A fechadura era uma Schlage modelo antigo, uma brincadeira de criança. Em poucos segundos Angel estava no interior do apartamento escuro, imóvel, escutando. Não havia ninguém ali.