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Quanto mais o avião se aproximava de Bucareste, mais sua excitação aumentava.

Serei a melhor embaixadora que eles já conheceram, pensou. Antes de eu morrer, os Estados Unidos e a Romênia serão grandes aliados.

O aviso de proibido fumar acendeu, e os eufóricos sonhos de estadista de Mary se dissiparam.

Não é possível que já estejamos prestes a pousar, pensou ela, em pânico. Acabamos de decolar. Por que o vôo é tão curto?

Ela sentiu a pressão em seus ouvidos enquanto o avião começava a descer. Poucos momentos depois as rodas tocaram na pista. Está realmente acontecendo, pensou Mary, incrédula. Não sou uma embaixadora. Sou uma impostora. Vou nos meter numa guerra. Deus nos ajude. Eu nunca deveria ter deixado o Kansas.

LIVRO TRÊS

18

O Aeroporto Otopeni, a quarenta quilômetros do centro de Bucareste, é moderno, construído para facilitar o fluxo dos viajantes dos países próximos da Cortina de Ferro, além de absorver os turistas ocidentais, menos numerosos, que visitam a Romênia todos os anos.

No interior do terminal havia soldados em uniformes marrons, armados com rifles e pistolas; havia também uma impressão de frieza que nada tinha a ver com a temperatura. Inconscientemente, Tim e Beth chegaram-se para mais perto de Mary. Então eles também sentem, pensou ela.

Dois homens se aproximaram. Um deles era esguio e atlético, parecia um americano, o outro era mais velho e vestia um terno amarfanhado de aparência estrangeira. O americano apresentou-se:

— Seja bem-vindo à Romênia, senhora embaixadora. Sou Jerry Davis, seu representante consular para assuntos públicos. Este é Tudor Costache, o chefe do protocolo romeno.

— É um prazer ter a senhora e seus filhos conosco — disse Costache. — Sejam bem-vindos a nosso país.

De certa forma, pensou Mary, vai ser meu país também.

— Multumesc, domnule — respondeu Mary.

— Você fala romeno! — exclamou Costache. — Cu plãcere!

Mary torceu para que o homem não se deixasse arrebatar. E apressou-se em ressaltar:

— Apenas umas poucas palavras. Tim disse:

— Bunãdimineata.

E Mary ficou tão orgulhosa que teve a sensação de que ia estourar.

Ela apresentou as crianças.

— A limusine está à sua espera, senhora embaixadora — disse Jerry Davis. — O coronel McKinney está lá fora.

O coronel McKinney. O coronel McKinney e Mike Slade. Perguntou-se se Slade também estaria ali, mas não falou nada.

Havia uma fila comprida esperando para passar pela alfândega, mas Mary e as crianças deixaram o prédio em poucos minutos. Havia repórteres e fotógrafos à sua espera, só que não eram turbulentos como os que Mary sempre encontrara antes, mas sim ordeiros e controlados. Quando acabaram, agradeceram a Mary e partiram em bloco.

O coronel McKinney, de uniforme, estava à espera na calçada. Estendeu a mão.

— Bom dia, senhora embaixadora. Fez boa viagem?

— Foi ótima, obrigada.

— Mike Slade queria estar aqui, mas precisou resolver um problema urgente.

Mary se perguntou se seria uma ruiva ou uma loura.

Uma limusine preta comprida, com uma bandeira americana no pára-lama dianteiro direito, parou junto ao meio-fio. Um homem de aparência jovial, num uniforme de motorista, abriu a porta.

— Este é Florian.

O motorista sorriu, exibindo lindos dentes brancos.

— Seja bem-vinda, senhora embaixadora, mister Tim, miss Beth. Terei o maior prazer em servir a todos.

— Obrigada — disse Mary.

— Florian estará à sua disposição 24 horas por dia. Pensei em seguirmos direto para a residência, a fim de que possa desfazer as malas e descansar. Talvez mais tarde queira dar uma volta pela cidade. E amanhã de manhã Florian a levará à embaixada americana.

— Está ótimo para mim.

Mary especulou outra vez onde estaria Mike Slade.

A viagem do aeroporto à cidade foi fascinante. Seguiram por uma estrada de duas faixas com tráfego intenso de caminhões e automóveis, mas a intervalos de poucos quilômetros os veículos praticamente tinham de parar por causa de carroças de ciganos que se arrastavam com lentidão. Nos dois lados da estrada havia fábricas modernas, entre cabanas antigas. O carro passou por uma fazenda depois de outra, com mulheres trabalhando nos campos, lenços coloridos na cabeça.

Passaram pelo Báneasa, o aeroporto de vôos domésticos de Bucareste. Mais além, a alguma distância da estrada, havia um prédio de dois andares, cinzento e azul, de aparência sinistra.

— O que é aquilo? — perguntou Mary. Florian fez uma careta.

— A prisão Ivan Stelian. É o lugar em que são encarceradas as pessoas que discordam do governo romeno.

Durante a viagem, o coronel McKinney apontou para um botão vermelho ao lado da porta.

— Este é um controle de emergência — explicou ele. — Se estiver numa situação crítica... for atacada por terroristas ou qualquer coisa parecida... basta apertar este botão. Ativa um transmissor de rádio no carro que é controlado na embaixada e acende uma luz vermelha na capota. Poderemos determinar sua posição em poucos minutos.

Mary comentou, em tom fervoroso:

— Espero nunca ter de usá-lo.

— É o que também espero, senhora embaixadora.

O centro de Bucareste era uma beleza. Havia parques, monumentos e chafarizes por toda parte. Mary se lembrou do comentário do avô:

— Bucareste é uma Paris em miniatura, Mary. Temos até uma réplica da Torre Eiffel.

E lá estava tudo. Ela se encontrava na pátria de seus antepassados.

As ruas enxameavam de pessoas, ônibus e bondes. Florian buzinava a todo instante, os pedestres saíam da frente apressados. O carro entrou numa rua pequena, arborizada.

— A residência fica logo à frente — informou o coronel. — A rua tem o nome de um general russo. Não é irônico?

Era uma casa antiga de três andares, grande e bonita, cercada por um lindo jardim.

Os empregados estavam formados na frente da casa, aguardando a nova embaixadora. Quando Mary saltou do carro, Jerry Davis fez as apresentações.

- Senhora embaixadora, aqui está o pessoal que vai servi-la. Mihai, o mordomo, Sabina, a secretária social, Rosica, a governanta, Cosma, a cozinheira, e Delia e Carmen, as criadas.

Mary foi avançando pela fila, recebendo as mesuras, enquanto pensava: O que vou fazer com toda essa gente? Em casa eu tinha apenas Lucinda, que aparecia três vezes por semana para cozinhar e fazer a faxina.

— Estamos muito honrados em conhecê-la, senhora embaixadora — cumprimentou Sabina, a secretária social.

Todos a fitavam atentamente; parecia que esperavam que ela dissesse alguma coisa. Mary respirou fundo.

— Bună ziua. Multumesc. Nu vorbesc...

O pouco de romeno que ela aprendera sumiu de sua cabeça. Ficou olhando para o pessoal, desamparada. Minai, o mordomo, adiantou-se e fez uma mesura.

— Todos nós falamos inglês, senhora. Nós lhe damos as boas-vindas e teremos a maior satisfação em atender a todas as suas necessidades.

Mary deixou escapar um suspiro de alívio.

— Obrigada.

Havia champanha gelado à sua espera na casa, assim como uma mesa repleta de comidas de aparência tentadora.

— Tudo parece delicioso! — exclamou Mary.

Todos a observavam, com expressões. Ela se perguntou se deveria lhes oferecer alguma coisa. Será que se fazia isso com a criadagem? Não queria começar a estada na Romênia cometendo gafes. "Já soube o que a nova embaixadora americana fez? Convidou os criados a comerem com ela. Eles ficaram tão chocados que foram embora."

"Já soube o que a nova embaixadora americana fez? Empanturrou-se na presença dos criados famintos e não lhes ofereceu coisa alguma."