Ela entrou e olhou ao redor. A sala era uma incrível combinação de metal e vidro, cobrindo o chão, as paredes e o teto. Mike Slade fechou a pesada porta.
— Esta é a Sala Bolha. Cada embaixada num país da Cortina Ferro possui uma sala assim. É o único lugar da embaixada em que pessoas estranhas não podem ouvir o que se fala.
Ele viu a expressão de incredulidade de Mary e acrescentou:
— Senhora embaixadora, não apenas a embaixada está repleta de microfones ocultos, mas pode também apostar até seu último dólar como o mesmo acontece com a residência oficial... e se for a um restaurante para jantar, haverá também um microfone oculto em sua mesa. Está em território inimigo.
Mary arriou numa cadeira.
— Como se pode resolver o problema? — indagou ela. — Quer dizer que nunca podemos falar livremente?
— Efetuamos uma varredura eletrônica todas as manhãs. Descobrimos os microfones que eles plantam e os tiramos. Eles os substituem e tornamos a removê-los.
— Por que se permite que romenos trabalhem na embaixada?
— É o campo deles. Formam o time da casa. Ou jogamos por suas regras ou estragamos a festa. Eles não podem plantar microfones aqui dentro porque há fuzileiros de guarda na porta durante as 24 horas do dia. E agora... quais são suas perguntas?
— Eu apenas gostaria de saber quem era o homem da CIA.
— Eddie Maltz, seu conselheiro político.
Mary tentou recordar como era Eddie Maltz. Cabelos grisalhos e corpulento. Não, esse era o homem dos assuntos agrícolas. Eddie Maltz... ah, sim, o homem de meia-idade, muito magro, um rosto sinistro. Ou será que ela só tinha essa impressão agora, porque fora informada que se tratava de um agente da CIA?
— Ele é o único homem da CIA na equipe? — É.
Havia hesitação em sua voz? Mike Slade consultou o relógio.
— Você deve apresentar suas credenciais dentro de trinta minutos. Florian está à sua espera lá fora. Leve a carta de credencial. Entregue o original ao presidente Ionescu e guarde uma cópia em nosso cofre.
Mary descobriu que estava rangendo os dentes de raiva.
— Já sei de tudo isso, senhor Slade.
— Ele pediu que você levasse as crianças. Mandei um carro buscá-las.
Sem consultá-la.
— Obrigada.
A sede do governo romeno é um prédio de aparência intimidativa, feito com blocos de arenito, no centro de Bucareste. É protegido por um muro de aço, com guardas armados na frente. Havia mais guardas na entrada do prédio. Um assessor escoltou Mary e as crianças ao segundo andar.
O presidente Alexandros Ionescu cumprimentou Mary e as crianças numa sala comprida e retangular. O presidente da Romênia era uma presença poderosa. Um homem moreno, de feições aquilinas e cabelos pretos crespos. Tinha um dos narizes mais imperiosos que Mary já vira. Os olhos eram brilhantes, hipnotizadores. O assessor disse:
— Excelência, posso apresentar a senhora embaixadora dos Estados Unidos?
O presidente pegou a mão de Mary e deu-lhe um beijo prolongado.
— É ainda mais bonita do que nas fotografias.
— Obrigada, Excelência. Estes são minha filha Beth e meu filho Tim.
— Crianças bonitas. — Ionescu fitou-a, expectante.
— Tem alguma coisa para mim?
Mary quase esquecera. Abriu apressada a bolsa e tirou a carta de credencial do presidente Ellison. Alexandros Ionescu deu uma olhada indiferente.
— Obrigado. Aceito em nome do governo romeno. É agora oficialmente a embaixadora americana em meu país.
— Ele parecia radiante. — Vou lhe oferecer uma recepção esta noite. Conhecerá algumas das pessoas com quem irá trabalhar.
— É muita gentileza sua — disse Mary. Ele tornou a pegar sua mão e disse:
— Temos um ditado a ;. "Um embaixador chega em lágrimas porque sabe que vai passar anos numa terra estranha, longe de seus amigos, mas quando parte está em lágrimas também, porque deve deixar seus novos amigos, num país que passou a amar." Espero que passe a amar nosso país, senhora embaixadora.
Ele apertou a mão de Mary.
— Tenho certeza de que isso acontecerá.
Ele pensou que sou apenas outro rostinho bonito, pensou Mary, desolada. Terei de fazer alguma coisa a esse respeito.
Mary mandou as crianças para casa e passou o resto do dia na embaixada, na grande sala de conferências, começando por uma reunião com os chefes de seções, os conselheiros político, econômico, agrícola, administrativo e comercial. O coronel McKinney estava presente como o adido militar.
Sentaram à mesa comprida e retangular. Contra as paredes escuras havia uma dúzia de funcionários subalternos dos diversos departamentos.
O conselheiro comercial, um homem pequeno e pomposo, apresentou uma fieira de fatos e dados. Mary olhava pela sala, pensando: Terei de me lembrar de todos os seus nomes.
Chegou a vez de Ted Thompson, o conselheiro para assuntos agrícolas.
— O ministro da Agricultura romeno sabe que a situação é mais crítica do que está disposto a admitir. Terão uma colheita desastrosa este ano, e não podemos deixar que afundem.
A conselheira econômica, Patrícia Hatfield, protestou:
— Já lhes demos bastante espaço, Ted. A Romênia está operando nos termos de um tratado de nação privilegiada. É um país SGP.
Ela olhou para Mary, discretamente. Essa mulher está fazendo isso de propósito, para me embaraçar, pensou Mary. Patrícia Hatfield acrescentou, condescendente:
— Um país SGP é...
— ...o que conta com um sistema geral de preferências — arrematou Mary. — Tratamos a Romênia como um país menos desenvolvido, a fim de que possa desfrutar de vantagens de exportação e importação. A expressão de Hatfield mudou.
— Isso mesmo. Já estamos dando as nossas reservas e...
David Victor, o conselheiro comercial, interveio:
— Não estamos dando nada... apenas tentando manter os canais abertos, a fim de podermos fazer negócios aqui. Eles precisam de mais crédito para comprarem milho de nós. Se não vendermos, eles comprarão da Argentina. — Victor virou-se para Mary. — Parece que vamos perder na soja. Os brasileiros estão tentando vender a preço inferior ao nosso. Eu agradeceria se conversasse com o primeiro-ministro o mais depressa possível e tentasse fechar um pacote, antes de sermos excluídos.
Mary olhou para Mike Slade, que estava sentado no outro lado da mesa, arriado na cadeira, rabiscando num bloco, aparentemente sem prestar a menor atenção à conversa.
— Verei o que posso fazer — prometeu Mary.
Ela fez uma anotação: enviar um telegrama ao chefe do Departamento do Comércio em Washington, pedindo permissão para oferecer mais crédito ao governo romeno. O dinheiro viria de bancos americanos, mas os empréstimos só se consumariam com a aprovação do governo.
Eddie Maltz, o conselheiro político, além de agente da CIA, disse:
— Tenho um problema um tanto urgente, senhora embaixadora. Uma estudante americana de dezenove anos foi presa ontem à noite por posse de drogas. É um crime muito sério aqui.
— Que tipo de drogas ela tinha?
— Marijuana. Apenas uns poucos gramas.
— Como é a moça?
— Inteligente, universitária, bonita.
— O que acha que farão com ela?
— A pena habitual é de cinco anos de prisão. Mike Slade disse, em voz indolente:
— Pode tentar envolver o chefe da segurança com seu charme. Ele se chama Istrase. Tem muito poder.
Eddie Maltz acrescentou:
— As outras garotas dizem que ela caiu numa armadilha. É bem possível. Ela foi bastante estúpida para ter uma ligação com um policial romeno. Depois que a fo... que a levou para a cama, o homem entregou-a.