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Mary ficou horrorizada.

— Como é possível?

Mike Slade disse, secamente:

— Senhora embaixadora, aqui somos o inimigo... e não eles. A Romênia está brincando com a gente. Somos amigos, trocamos sorrisos, mãos estendidas através do oceano. Deixamos que nos vendam e comprem de nós a preços de barganha, porque queremos atraí-los para longe da Rússia. Mas quando chega no fundo, eles continuam comunistas.

Mary fez outra anotação.

— Muito bem. Verei o que posso fazer. — Ela virou-se para o conselheiro de assuntos públicos, Jerry Davis. — Quais são os seus problemas?

— Meu departamento está encontrando dificuldades em obter aprovação para os reparos nos apartamentos em que moram os funcionários da embaixada. Estão em condições lamentáveis.

— Não é possível fazer os reparos sem consultar ninguém?

— Infelizmente, não. O governo romeno tem de aprovar todos os reparos. Alguns dos nossos estão sem aquecimento, os banheiros não funcionam em diversos apartamentos e não há água corrente.

— Já protestou contra essa situação?

— Já, sim.., todos os dias, nos últimos três meses.

— Então por que...?

— É o que se chama de hostilidade — explicou Mike Slade. — Uma guerra de nervos que travam com a gente.

Mary fez outra anotação.

— Senhora embaixadora, tenho um problema da maior urgência — disse Jack Chancelor, o diretor da biblioteca americana. — Alguns livros de referências muito importantes foram roubados ontem da...

A embaixadora Ashley estava começando a ficar com dor de cabeça.

A tarde foi ocupada a ouvir uma série de queixas. Todos pareciam infelizes. E havia ainda a leitura. Em sua mesa estava uma pilha de papéis. Eram traduções para o inglês de notícias que haviam saído no dia anterior em jornais e revistas romenos. A maioria das notícias do jornal popular Scinteia Tineretului era sobre as atividades diárias do presidente Ionescu, com três ou quatro fotografias suas em cada página. O incrível ego de um homem, pensou Mary.

Havia outras condensações para ler: The Romania Libera, o semanário Flacara Rosie e Magafinul. E isso era apenas o começo. Havia também os telegramas e os resumos do que estava acontecendo nos Estados Unidos. Havia uma pasta com os textos integrais de discursos de importantes autoridades americanas, um volumoso relatório sobre negociações de controle de armamentos e uma síntese atualizada sobre a situação da economia americana.

Em um dia há material de leitura suficiente para me manter ocupada por anos e terei isso todas as manhãs, pensou Mary.

Mas o problema que mais a perturbava era a sensação de antagonismo da equipe. Era preciso encontrar uma solução imediata.

Ela chamou Harriet Kruger, a responsável pelo protocolo.

— Há quanto tempo trabalha aqui na embaixada? — perguntou-lhe Mary.

— Por quatro anos antes do rompimento com a Romênia e agora há três gloriosos meses.

Havia um tom de ironia em sua voz.

— Não gosta daqui?

— Sou uma garota de McDonald's e Coney Island. Como diz a canção, "Mostre-me o caminho de volta para casa".

— Podemos ter uma conversa particular?

— Não, madame. Mary esquecera.

— Por que não vamos para a Sala Bolha? — sugeriu.

Depois que sentou na Sala Bolha com Harriet Kruger, a porta fechada, Mary disse:

— Acaba de me ocorrer uma coisa. Nossa reunião de hoje foi realizada na sala de conferências. Não está grampeada?

— Provavelmente — respondeu Harriet Kruger, em tom jovial. — Mas não tem importância. Mike Slade não deixaria que fosse discutida qualquer coisa que os romenos já não soubessem.

Mike Slade de novo.

— O que acha de Slade?

— Ele é o melhor.

Mary resolveu não manifestar sua opinião.

— Eu queria conversar francamente com você porque tenho a impressão de que o moral aqui não é dos melhores. Todos estão se queixando. Ninguém parece feliz. Eu gostaria de saber se é por minha causa ou se sempre foi assim.

Harriet Kruger estudou-a em silêncio por um momento.

— Quer uma resposta sincera?

— Por favor.

— É uma combinação das duas coisas. Os americanos que trabalham aqui estão sob pressão permanente. Se violamos as regras, estamos perdidos. Temos receio de fazer amizade com romenos porque provavelmente acabaremos descobrindo que são da Securitate. Por isso, ficamos restritos aos americanos. O grupo é pequeno, e logo se torna aborrecido e incestuoso. — Ela deu de ombros. — O pagamento é péssimo, a comida ruim e o tempo horrível. Nada disso é culpa sua, senhora embaixadora. Seus problemas são dois. O primeiro é que se trata de uma nomeação política e está no comando de uma embaixada guarnecida por diplomatas de carreira. — Fez uma pausa. — Estou sendo muito forte?

— Não. Continue, por favor.

— A maioria era contra você antes mesmo de chegar aqui. O pessoal de carreira numa embaixada tende a não balançar o barco. Os designados políticos gostam de mudar as coisas. Você é uma amadora dizendo a profissionais como devem agir. O segundo problema é o fato de ser uma mulher. A Romênia devia ter um grande símbolo em sua bandeira: um porco chauvinista macho. Os americanos na embaixada não gostam de receber ordens de uma mulher, e os romenos são muito piores.

— Entendo. Harriet Kruger sorriu.

— Mas com toda certeza você tem um grande agente de publicidade. Nunca vi tantas reportagens de capa em revistas em toda a minha vida. Como conseguiu?

Mary não tinha resposta para isso. Harriet Kruger olhou para o relógio.

— Ei, você vai se atrasar! Florian está esperando para levá-la em casa, a fim de que possa trocar de roupa.

— Trocar de roupa para quê? — perguntou Mary.

— Não verificou a programação que pus em sua mesa?

— Infelizmente, não tive tempo. Tenho alguma festa para ir hoje?

— Festas. Três esta noite. No total, são 21 festas nesta semana.

Mary estava aturdida.

— É impossível. Tenho muita coisa para...

— É inerente ao cargo. Há 75 embaixadas em Bucareste, e numa determinada noite algumas sempre estão celebrando qualquer coisa.

— Não posso recusar os convites?

— Seria uma recusa dos Estados Unidos. Eles ficariam ofendidos.

Mary suspirou.

— Acho melhor eu ir logo para casa e trocar de roupa.

O coquetel naquela tarde foi realizado no Palácio do Governo da Romênia, em homenagem a uma autoridade visitante da Alemanha Oriental.

Assim que Mary chegou, o presidente Ionescu adiantou-se em sua direção. Beijou-lhe a mão e disse:

— Eu estava ansioso em tornar a vê-la.

— Obrigada, Excelência. Eu também.

Mary teve a impressão de que ele andara bebendo muito. Recordou o dossiê a seu respeito: Casado. Um filho de quatorze anos, o herdeiro presuntivo, e três filhas. É um conquistador. Bebe muito. Uma astuta mente de camponês. Encantador quando lhe é conveniente. Generoso com os amigos. Perigoso e implacável com os inimigos. Mary pensou: Um homem com quem se deve tomar cuidado.

Ionescu pegou o braço de Mary e conduziu-a para um canto deserto.

— Vai descobrir que nós, os romenos, somos muito interessantes. — Ele apertou o braço de Mary. — Um povo ardente.

Ele fez uma pausa, aguardando uma reação. Como nào houvesse nenhuma, acrescentou:

— Somos descendentes dos antigos dácios e seus conquistadores, os romanos, desde o ano 106 da era cristã. Durante séculos fomos o capacho da Europa. O país com fronteiras de borracha. Os hunos, godos, ávaros, eslavos e mongóis limparam seus pés em nós, mas a Romênia sobreviveu. E quer saber como?