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— Avise a Lucas Janklow, David Wallace e Eddie Maltz que quero falar com eles.

Dorothy Stone hesitou.

— Eles estão numa reunião, senhora.

Havia alguma coisa evasiva no tom da mulher.

— Numa reunião com quem? Dorothy Stone respirou fundo.

— Com todos os outros conselheiros. Mary levou um momento para compreender.

— Está querendo dizer que há uma reunião da equipe sem que eu tenha sido avisada?

— Isso mesmo, senhora embaixadora. Mas aquilo era uma afronta!

— E não é a primeira vez?

— Não, senhora, não é.

— O que mais está acontecendo por aqui que eu deveria saber e ignoro?

Dorothy Stone tornou a respirar fundo.

— Todos estão enviando telegramas sem sua autorização.

Esqueça a revolução fermentando na Romênia, pensou Mary. Há uma revolução aqui mesmo, na embaixada.

— Dorothy, convoque uma reunião de todos os chefes de departamentos para três horas da tarde... e todos mesmo.

— Pois não, senhora.

Mary estava sentada à cabeceira da mesa, observando os conselheiros entrarem na sala de conferências. Os mais categorizados sentaram à mesa, enquanto os outros ocupavam cadeiras encostadas nas paredes.

— Boa tarde — disse Mary, em tom firme. — Não vou levar muito tempo. Sei como todos andam muito ocupados. Chegou ao meu conhecimento que os membros mais categorizados da equipe têm se reunido sem o meu conhecimento e aprovação. Deste momento em diante, qualquer pessoa que comparecer a essas reuniões será imediatamente dispensada de suas funções.

Pelo canto dos olhos, ela podia ver Dorothy tomando anotações. E continuou:

— Também chegou ao meu conhecimento que alguns de vocês estão enviando telegramas sem me informarem. De acordo com o protocolo do Departamento de Estado, cada embaixador tem o direito de contratar e dispensar qualquer pessoa da equipe da embaixada, a seu critério. — Virou-se para Ted Thompson, o conselheiro para assuntos agrícolas. — Você enviou ontem um telegrama não-autorizado ao Departamento de Estado. Fiz reserva para você num avião que parte para Washington ao meio-dia de amanhã. Não pertence mais a esta embaixada.

Ela fez uma pausa, correndo os olhos pela mesa.

— Na próxima vez em que alguém nesta sala enviar um telegrama sem meu conhecimento ou deixar de me proporcionar seu apoio total, essa pessoa embarcará no primeiro avião para os Estados Unidos. Isso é tudo, senhoras e senhores.

Houve um silêncio atordoado. Depois, lentamente, as pessoas começaram a levantar e sair da sala. Mike Slade saiu com uma expressão intrigada.

Mary e Dorothy Stone ficaram a sós na sala. Mary perguntou:

— O que você achou? Dorothy sorriu.

— Perfeita, sem qualquer exagero. Foi a reunião da equipe mais curta e mais eficaz a que já assisti.

— Ótimo. E agora está na hora de esclarecer a situação na sala de telegramas.

Todas as mensagens enviadas de embaixadas na Europa Oriental são primeiro codificadas. São datilografadas numa máquina de escrever especial, lidas por um aparelho eletrônico na sala de códigos e automaticamente codificadas. Os códigos são mudados todos os dias e há cinco classificações: Ultra-Secreto, Secreto, Confidencial, Limitado ao Uso Oficial e Aberta. A sala de telegramas, nos fundos, gradeada, sem janelas, com os mais modernos equipamentos eletrônicos, era guardada com todo cuidado.

Sandy Palance, o funcionário encarregado, estava sentado por trás de um guichê na sala de telegramas. Levantou-se quando Mary se aproximou.

— Boa tarde, senhora embaixadora. Em que posso ajudá-la?

— Em nada. Eu é que vou ajudar você. Palance ficou aturdido.

— Como?

— Andou enviando telegramas sem a minha assinatura. Isso significa que eram telegramas não-autorizados.

Ele caiu na defensiva no mesmo instante.

— Os conselheiros disseram que...

— Daqui por diante, deve me levar imediatamente qualquer telegrama que alguém lhe peça para enviar sem a minha assinatura. Entendido?

A voz de Mary era fria e implacável. Palance pensou: Eles se enganaram com essa mulher.

— Claro, senhora. Entendido.

— Ótimo.

Mary virou-se e foi embora. Sabia que a sala de telegramas era usada pela CIA para enviar mensagens através de um "canal preto". Não havia meio de impedir isso. Ela se perguntou quantas pessoas na embaixada seriam da CIA e especulou se Mike Slade lhe contara toda a verdade a respeito. Tinha a impressão de que não.

Naquela noite, Mary escreveu anotações sobre os acontecimentos do dia e os problemas que precisava resolver. Deixou os papéis na mesinha-de-cabeceira. Pela manhã, foi tomar um banho de chuveiro. Depois que se vestiu, pegou as anotações. Estavam numa ordem diferente. Pode estar certa de que a embaixada e a residência são espionadas. Mary ficou imóvel por um instante, pensando.

Ao café da manhã, quando ela, Beth e Tim estavam sozinhos, Mary disse, em voz alta:

— Os romenos são maravilhosos. Mas tenho a impressão de que eles estão muito atrasados em relação aos Estados Unidos em algumas coisas. Sabiam que muitos dos apartamentos em que mora o pessoal da embaixada não têm aquecimento e água corrente e os banheiros não funcionam direito? — Beth e Tim fitavam-na com expressões estranhas. — Creio que teremos de ensinar aos romenos como consertar as coisas.

Na manhã seguinte, Jerry Davis disse:

— Não sei como conseguiu, mas os operários surgiram de repente para consertar nossos apartamentos.

Mary sorriu.

— Basta saber falar com eles.

Ao final de uma reunião da equipe, Mike Slade disse:

— Você tem muitas embaixadas que precisa visitar formalmente. É melhor começar hoje logo de uma vez.

Mary ficou ressentida com seu tom. Além do mais, não era da conta dele; Harriet Kruger era a responsável pelo protocolo e não estava na embaixada naquele dia. Mike acrescentou:

— É importante que você visite as embaixadas de acordo com a prioridade. A mais importante...

— ...é a embaixada russa. Sei disso.

— Eu aconselharia...

— Se eu precisar de algum conselho seu a respeito de minhas funções aqui, senhor Slade, pode deixar que lhe direi.

Mike deixou escapar um suspiro profundo.

— Está bem. — Ele se levantou. — Como achar melhor, senhora embaixadora.

Depois da visita à embaixada russa, Mary passou o resto do dia ocupada com entrevistas, com um senador de Nova York que queria informações confidenciais sobre os dissidentes romenos e numa reunião com o novo conselheiro para assuntos agrícolas.

Quando Mary já se preparava para ir embora, Dorothy Stone tocou o interfone e avisou:

— Há uma ligação urgente, senhora embaixadora. James Stickley, de Washington.

Mary pegou o telefone.

— Olá, senhor Stickley.

A voz de Stickley soou furiosa pela linha:

— Quer me explicar o que pensa que está fazendo?

— Eu... eu não sei do que está falando.

— Obviamente, O secretário de Estado acaba de receber um protesto formal do embaixador do Gabão sobre o seu comportamento.

— Ei, espere um pouco! — disse Mary. — Deve haver algum engano. Nem mesmo falei com o embaixador do Gabão.

— Exatamente — cortou Stickley, o tom ríspido. — Mas falou com o embaixador da União Soviética.

— É verdade. Fiz uma visita de cortesia esta manhã.

— Não sabia que as embaixadas estrangeiras têm prioridade de acordo com as datas em que apresentaram suas credenciais?

— Sabia, sim, mas...

— Para sua informação, na Romênia a embaixada do Gabão é a primeira, e a da Estônia a última, havendo entre as duas cerca de setenta outras embaixadas. Alguma pergunta?