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— Absurdo ou não, ninguém de uma embaixada americana jamais vai para um hospital num país da Cortina de Ferro.

— Mas por quê?

— Porque somos vulneráveis. Ficaríamos à mercê do governo romeno e da Securitate. Podem nos fazer dormir com éter ou dar escopolamina... e podem nos arrancar todas as informações. É uma regra do Departamento de Estado... nós o mandamos de avião para tratamento em outro pais.

— Por que a embaixada não tem seu próprio médico?

— Porque somos uma embaixada da categoria C. Nosso orçamento não dá para um médico. Um médico americano nos visita de três em três meses. Nos intervalos, temos um farmacêutico para ajudar nos pequenos problemas. — Mike foi até uma mesa e pegou um pedaço de papel. — Basta assinar isto e ele partirá. Providenciarei um vôo especial.

— Está bem. — Mary assinou a autorização, depois se aproximou do jovem fuzileiro e pegou-lhe a mão, murmurando: — Não se preocupe. Você vai ficar bom.

Duas horas depois o fuzileiro estava num avião, a caminho de Zurique.

Na manhã seguinte, quando Mary lhe perguntou como estava o jovem fuzileiro, ele deu de ombros e disse, indiferente:

— Foi operado e vai ficar bom.

Que homem mais frio!, pensou Mary. Tenho dúvidas se alguma coisa é capaz de comovê-lo.

21

Não importava quão cedo Mary chegasse à embaixada pela manhã, Mike Slade sempre a precedia. Ela quase não o encontrava nas festas diplomáticas e tinha a impressão de que ele preferia suas diversões particulares todas as noites. Mike Slade era uma surpresa constante. Uma tarde Mary concordou em deixar Florian levar Beth e Tim para patinarem no gelo, no Parque Floreasca. Mary saiu mais cedo da embaixada para ir ao encontro deles, e quando chegou ao parque descobriu que Mike Slade estava com as crianças. Os três patinavam juntos, obviamente se divertindo muito. Ele ensinava pacientemente as crianças a fazerem oitos. Devo alertar as crianças contra ele, pensou Mary. Mas ela não sabia exatamente contra o que advertir.

Na manhã seguinte, assim que Mary chegou em sua sala, Mike entrou e anunciou:

— Uma decon vai chegar dentro de duas horas. Achei que...

— Decon?

— É o jargão diplomático para indicar uma delegação de congressistas. Quatro senadores, acompanhados pelas esposas e assessores. Esperam que vocês os receba. Marcarei uma audiência com o presidente Ionescu e pedirei a Harriet que cuide das compras e excursões turísticas.

— Obrigada.

— Quer um pouco do meu café?

— Boa idéia.

Ela observou-o passar pela porta de ligação entre as duas salas. Um homem estranho. Rude, grosseiro. E, no entanto, tinha uma imensa paciência com Beth e Tim. Quando ele voltou com as duas xícaras de café, Mary perguntou:

— Você tem filhos?

A pergunta pegou Mike Slade de surpresa.

— Tenho dois meninos.

— Onde estão?

— Sob a custódia de minha ex-esposa. — Ele mudou de assunto abruptamente. — Vamos ver se consigo a audiência com Ionescu.

O café estava delicioso. Mary se lembraria mais tarde que aquele fora o dia em que compreendera que tomar café com Mike Slade se tornara um ritual matutino.

Angel foi buscá-la à noite, em La Boca, perto do cais, onde ela fazia ponto, junto com as outras prostitutas, vestindo uma blusa bem justa e jeans cortada nas coxas, mostrando o que tinha para vender. Parecia não ter mais que quinze anos. Não era bonita, mas isso não incomodava Angel.

— Vamonos, querida. Vamos nos distrair.

A garota morava num apartamento ordinário, num prédio sem elevador, ali perto. O cômodo imundo tinha uma cama, duas cadeiras, um abajur e uma pia.

— Tire as roupas, Estrelita. Quero ver você nua.

A garota hesitou. Havia alguma coisa em Angel que a assustava. Mas fora um dia fraco e precisava levar dinheiro para Pepe ou levaria uma surra. Lentamente, ela começou a se despir.

Angel ficou observando. Primeiro foi a blusa e depois a jeans. A garota não usava nada por baixo. O corpo era pálido e magro.

— Fique com os sapatos. Venha até aqui e se ajoelhe. A garota obedeceu.

— O que eu quero que você faça é o seguinte,

A garota escutou e levantou os olhos, apavorada.

— Nunca fiz...

Angel chutou-a na cabeça. Ela caiu no chão, gemendo. Angel levantou-a pelos cabelos e jogou-a em cima da cama. Quando ela começou a gritar, ele lhe desferiu um violento murro no rosto. Ela gemeu.

— Assim está melhor — disse Angel. — Quero ouvir você gemer.

Um punho enorme acertou no nariz da garota e quebrou-o. Quando Angel acabou, meia hora depois, a garota estava inconsciente. Ele sorriu para o corpo todo arrebentado e jogou alguns pesos na cama, murmurando:

— Gracias.

Mary passava todos os momentos que podia com os filhos. Faziam muitos passeios turísticos. Havia dezenas de museus e igrejas antigas para visitar, mas o ponto alto para as crianças foi o castelo de Drácula, em Brasov, no coração da Transilvânia, a 150 quilômetros de Bucareste.

— O conde era na verdade um príncipe — explicou Florian, durante a viagem. — Príncipe Vlad Tepes. Foi um grande herói que conteve a invasão turca.

— Pensei que ele só gostava de chupar sangue e matar as pessoas — comentou Tim.

Florian balançou a cabeça.

— Infelizmente, depois da guerra o poder subiu à cabeça de Vlad. Ele se tornou um ditador e empalava os inimigos. E surgiu a lenda de que ele era um vampiro. Um dos seus conterrâneos, chamado Bram Stoker, escreveu um livro baseado nessa lenda. Um livro tolo, mas que fez maravilhas pelo turismo.

O castelo era um enorme monumento de pedra, no alto das montanhas. Todos estavam exaustos ao subirem os íngremes degraus de pedra que levavam ao castelo. Entraram numa sala de teto baixo, que continha armas e artefatos antigos.

— Era aqui que o conde Drácula assassinava suas vítimas e lhes bebia o sangue — disse o guia, em tom sepulcral.

A sala era úmida e assustadora. Tim roçou o rosto numa teia de aranha e disse à mãe:

— Não tenho medo de nada, mas podemos sair daqui?

A cada seis semanas um avião C-130 da Força Aérea Americana pousava num pequeno aeroporto, nos arredores de Bucareste. O avião vinha carregado de alimentos e muitos artigos que não se podia encontrar em Bucareste, encomendados pelo pessoal da embaixada americana, através do reembolsável militar em Frankfurt.

Uma manhã, quando tomava café com Mary, Mike Slade disse:

— Nosso avião de carga vai chegar hoje. Por que não vai ao aeroporto comigo?

Mary já se dispunha a dizer que não. Tinha muito trabalho e parecia um convite inútil. Só que Mike Slade não era um homem de desperdiçar tempo. A curiosidade acabou por prevalecer e ela respondeu:

— Está certo.

No caminho para o aeroporto eles discutiram diversos problemas da embaixada. A conversa foi mantida num nível frio e impessoal.

Ao chegarem ao aeroporto, um sargento dos fuzileiros, armado, abriu o portão para a limusine passar. Dez minutos depois eles observaram a aterrissagem do C-130. Por trás da cerca no perímetro da pista estavam reunidos centenas de romenos. Ficaram olhando, ansiosos, enquanto o avião era descarregado.

— O que aquela multidão está fazendo aqui?

— Sonhando. Contemplam algumas das coisas que nunca poderão ter. Sabem que estamos recebendo bife, sabonete e perfume. Há sempre uma multidão quando o avião chega. Parece que há uma espécie de telégrafo subterrâneo misterioso.

Mary estudou os rostos ávidos no outro lado da cerca.