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— É incrível...

— Aquele avião é um símbolo para eles. Não é apenas a carga... representa um país livre que cuida de seus cidadãos.

Mary virou-se para fitá-lo.

— Por que me trouxe aqui?

— Porque não quero que se deixe impressionar pela conversa macia do presidente Ionescu. Esta é a verdadeira Romênia.

Todas as manhãs, ao chegar para o trabalho, Mary notava uma fila de pessoas à espera no portão, querendo entrar na seção consular da embaixada. Presumira que eram pessoas com pequenos problemas que o cônsul podia resolver. Mas naquela manhã em particular ela foi até a janela para um exame mais atento, e as expressões das pessoas levaram-na a ir à sala de Mike.

— Quem são aquelas pessoas que estão esperando na fila lá fora?

Mike foi com ela até a janela.

— Quase todos são judeus romenos. Estão esperando para apresentar pedidos de visto.

— Mas não existe uma embaixada israelense em Bucareste? Por que não vão para lá?

— Por dois motivos. Em primeiro lugar, acham que o governo dos Estados Unidos tem mais possibilidade de ajudá-los a chegar a Israel do que o governo israelense. Em segundo, eles acham que é menor o risco de a polícia de segurança descobrir suas intenções se vierem nos procurar. Estão enganados, é claro. — Mike apontou pela janela. — Há um prédio no outro lado da embaixada em que diversos apartamentos são ocupados por agentes que usam teleobjetivas para fotografar todo mundo que entra e sai daqui.

— Mas isso é terrível!

— É assim que eles agem. Quando os judeus de uma família solicitam um visto para emigrar, perdem os cartões verdes de trabalho e são expulsos de seus apartamentos. Os vizinhos recebem ordens para lhes dar as costas. O governo leva três ou quatro anos para dizer se os deixa ou não partirem, e a resposta quase sempre é não.

— Não podemos fazer nada a respeito?

— Estamos sempre tentando. Ionescu gosta de fazer um jogo de gato e rato com os judeus. Bem poucos recebem permissão para deixar o país.

Mary contemplou os rostos desesperados e murmurou:

— Tem de haver uma maneira.

— Não parta seu coração — recomendou Mike.

O problema de fuso horário era extenuante. Quando era dia em Washington, era o meio da noite em Bucareste. Mary era constantemente despertada por telegramas e telefonemas às três ou quatro horas da madrugada. Cada vez que chegava um telegrama noturno, o fuzileiro de plantão na embaixada ligava para o oficial de serviço, que mandava um assistente à residência oficial acordar Mary. Depois disso, ela ficava excitada demais para voltar a dormir.

É emocionante, Edward. Estou convencida de que posso me distinguir aqui. De qualquer forma, estou tentando. Não suportaria fracassar. Todos estão contando comigo. Eu gostaria que você estivesse aqui para dizer: "Você pode conseguir, menina. "Sinto muita saudade. Pode me ouvir, Edward? Está por aqui, em algum lugar, onde não posso vê-lo? Há ocasiões em que não saber a resposta para isso me deixa louca...

Estavam tomando o café da manhã.

— Temos um problema — anunciou Mike Slade.

— Qual é?

— Uma delegação de uma dúzia de dirigentes da igreja romena quer falar com você. Uma igreja de Utah convidou-os para uma visita. O governo romeno não quer conceder o visto de saída.

— Por que não?

— São bem poucos os romenos que recebem permissão para deixar o país. Há uma piada sobre o dia em que Ionescu assumiu o poder. Ele foi para a ala leste do palácio e observou o sol nascer. "Bom dia, camarada sol," disse Ionescu. "Bom dia," respondeu o sol. "Todos estão felizes porque você é o novo presidente da Romênia." Ao final do dia Ionescu foi para a ala oeste do palácio, a fim de observar o sol se pôr. E disse: "Boa noite, camarada sol." O sol não respondeu. "Como é possível que tenha me falado tão gentilmente esta manhã e agora não quer me dizer nada?" Ao que o sol declarou: "Estou no Ocidente agora. E quero que você se dane." Ionescu tem medo de que os dirigentes da igreja lhe digam para se danar depois que estiverem no Ocidente.

— Falarei com o ministro do Exterior e verei o que posso fazer.

Mike levantou-se.

— Gosta de dança folclórica?

— Por quê?

— Há uma companhia de dança romena estreando esta noite. Dizem que é excelente. Gostaria de ir?

Mary foi tomada de surpresa. A última coisa que podia esperar era um convite de Mike para saírem.

E um momento depois, o que era ainda mais inacreditável, ela se descobriu a dizer que sim.

— Ótimo. — Mike estendeu um pequeno envelope. — Aqui estão três ingressos. Pode levar Beth e Tim. Cortesia do governo romeno. Recebemos ingressos para a maioria das estréias.

Mary continuou sentada, o rosto afogueado, sentindo-se uma tola.

— Obrigada — murmurou ela, muito tensa.

— Mandarei Florian ir buscá-la às oito horas.

Beth e Tim não estavam interessados em ir ao teatro. Beth convidara uma colega de escola para jantar.

— É minha amiga italiana — explicou ela. — Não tem problema?

— Para ser franco, nunca gostei muito de dança folclórica — acrescentou Tim.

Mary soltou uma risada.

— Está bem. Vou deixar os dois escaparem desta vez. Imaginou se os filhos se sentiam igualmente solitários.

Pensou em quem poderia convidar para acompanhá-la. Repassou a lista mentalmente: coronel McKinney, Jerry Davis, Harriet Kruger? Não havia ninguém cuja companhia realmente desejasse. Irei sozinha, decidiu.

Florian estava à espera quando Mary passou pela porta da frente.

— Boa noite, senhora embaixadora.

Ele fez uma mesura e abriu a porta do carro.

— Parece muito alegre esta noite, Florian.

Ele sorriu.

— Estou sempre alegre, senhora. — Florian fechou a porta depois que ela embarcou e foi sentar ao volante. — Os romenos têm um ditado: "Beije a mão que não pode morder."

Mary resolveu correr um risco.

— Sente-se feliz em viver aqui, Florian?

— Devo lhe dar a resposta oficial, senhora embaixadora, ou quer a verdade?

— A verdade, por favor.

— Eu poderia ser fuzilado por dizer isso, mas nenhum romeno se sente feliz por viver aqui. Só os estrangeiros. Vocês têm liberdade para ir e vir, como quiserem. Nós somos prisioneiros. E não há quantidade suficiente de nada no país.

Eles estavam passando por uma fila comprida na frente de um açougue e Florian acrescentou:

— Está vendo aquilo? Eles vão esperar três ou quatro horas na fila para conseguir uma ou duas costeletas de carneiro, e metade ficará desapontada. O mesmo acontece com todas as outras mercadorias. Mas quer saber quantas casas Ionescu tem? Doze! Já conduzi muitas autoridades romenas a essas casas. Cada uma é um verdadeiro palácio. Enquanto isso, três ou quatro famílias são obrigadas a morar juntas num pequeno apartamento, sem aquecimento.

Florian parou de falar bruscamente, como se estivesse com medo de já ter dito demais.

— Não vai mencionar esta conversa a ninguém, não é?

— Claro que não.

— Obrigado. Eu não gostaria que minha esposa ficasse viúva. Ela é jovem. E judia. Temos aqui o problema do anti-semitismo.

Mary já sabia disso.

— Há uma história de uma loja que prometeu ovos frescos. Às cinco horas da manhã havia uma fila comprida à espera, sob um frio enregelante. Por volta das oito horas os ovos ainda não haviam aparecido e a fila aumentara. O dono da loja disse: "Não haverá ovos suficientes para todos. Os judeus podem sair da fila." Às duas horas da tarde os ovos ainda não haviam chegado e a fila era ainda mais comprida. O dono disse: "Os que não são do partido podem se retirar." À meia-noite a fila ainda esperava, no frio intenso. O dono trancou a loja e disse: "Nada mudou. Os judeus sempre levam a melhor em tudo."