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Uma idéia assediava Mary e era difícil descartá-la. Só conhecia uma pessoa que queria se livrar dela: Mike Slade. E se ele tivesse tramado o ataque, a fim de assustá-la e forçá-la a ir embora? Afinal, Mike lhe dera os ingressos para o teatro. Sabia onde ela estaria. Era uma possibilidade que se recusava a sair de seus pensamentos.

Mary debatera consigo mesma se deveria falar às crianças sobre a tentativa de seqüestro, e acabou decidindo que era melhor não contar nada. Não queria assustá-las. Mas daria um jeito para que nunca ficassem sozinhas.

Havia um coquetel na embaixada francesa naquela noite, em homenagem a uma pianista francesa que visitava o país. Mary estava cansada e nervosa, daria qualquer coisa para evitar o compromisso, mas sabia que tinha a obrigação de comparecer.

Tomou banho e escolheu um vestido. Ao pegar os sapatos, notou que um deles estava com o salto quebrado. Tocou a campainha, chamando Carmen.

— Pois não, senhora embaixadora?

— Carmen, quer fazer o favor de levar este sapato a um sapateiro e mandar consertá-lo?

— Claro, senhora. Mais alguma coisa?

— Não, obrigada. É só.

Quando Mary chegou, já havia muitos convidados na embaixada francesa. Ela foi recebida na porta pelo assessor do embaixador francês, a quem já conhecera numa visita anterior à embaixada. Ele pegou sua mão e beijou-a.

— Boa noite, senhora embaixadora. Foi muita gentileza sua ter vindo.

— Foi muita gentileza de vocês terem me convidado — respondeu Mary.

Os dois sorriram das frases vazias de cortesia.

— Permita que a acompanhe até o embaixador. Ele escoltou Mary pelo salão de baile apinhado, onde

ela avistou os rostos familiares com que vinha se encontrando há semanas. Ela cumprimentou o embaixador francês e trocaram algumas cortesias.

— Vai gostar de madame Dauphin. É uma pianista extraordinária.

— Estou ansiosa por conhecê-la — mentiu Mary. Um criado passou com uma bandeja de copos com

champanha. Mary já aprendera a beber apenas pequenos goles nas diversas embaixadas. Ao virar-se para cumprimentar o embaixador australiano, avistou o estranho que a salvara dos seqüestradores. Ele estava num canto, conversando com o embaixador italiano e seu assessor.

— Com licença, por favor — disse Mary. Atravessou o salão na direção do francês. Ele estava

dizendo:

— Claro que sinto saudade de Paris, mas espero que no próximo ano...

Parou de falar ao ver Mary se aproximar, e depois de um instante acrescentou:

— Ah, a dama em perigo...

— Já se conhecem? — perguntou o embaixador italiano.

— Ainda não fomos oficialmente apresentados — disse Mary.

— Senhora embaixadora, permita que lhe apresente o doutor Louis Desforges.

A expressão no rosto do francês mudou.

— Senhora embaixadora? Peço perdão! Eu não tinha a menor idéia! — A voz era embaraçada. — Deveria tê-la reconhecido, é claro.

— Fez melhor do que isso — comentou Mary, sorrindo. — Você me salvou.

O embaixador italiano olhou para o médico e disse:

— Ah, então foi você! — Ele virou-se para Mary. — Já soube de sua lamentável experiência.

— Seria ainda mais lamentável se o doutor Desforges não tivesse aparecido. Obrigada.

Louis Desforges sorriu.

— Estou feliz por eu ter estado no lugar certo no momento certo.

O embaixador e seu assessor viram a chegada de um contingente inglês. O embaixador disse:

— Se nos derem licença, tem uma pessoa que preciso cumprimentar.

Os dois homens se afastaram apressadamente. Mary ficou a sós com o médico.

— Por que foi embora quando a polícia chegou?

Ele estudou-a por um momento.

— Não é boa política o envolvimento com a polícia romena. Eles têm o hábito de deter testemunhas e depois lhes arrancar todas as informações possíveis. Sou médico, adido à embaixada francesa aqui, não tenho imunidade diplomática. Mas sei de muita coisa que ocorre em nossa embaixada, e as informações poderiam ser valiosas para os romenos. — Ele sorriu. — Por isso, peço que me perdoe se dei a impressão de que a abandonei.

Ele tinha uma franqueza fascinante. De alguma forma que Mary não podia definir, fazia com que se lembrasse de Edward. Talvez porque Louis Desforges era médico. Não, era mais do que isso. Ele tinha a mesma sinceridade de Edward, quase o mesmo sorriso.

— Se me dá licença — disse o doutor Desforges —, tenho de ir para desempenhar meu papel de animal social.

— Não gosta de festas? Ele estremeceu.

— Detesto.

— E sua esposa gosta?

Ele fez menção de dizer alguma coisa e depois hesitou.

— Ela gostava. Muito.

— Não está aqui esta noite?

— Ela e nossos dois filhos morreram. Mary empalideceu.

— Oh, Deus, sinto muito! Como...? O rosto de Desforges estava rígido.

— A culpa foi minha. Vivíamos na Argélia. Eu pertencia ao movimento clandestino, lutando contra os terroristas. — As palavras saíam lentas e hesitantes. — Descobriram minha identidade e explodiram a casa. Eu estava ausente na ocasião.

— Sinto muito — repetiu Mary, sabendo que eram palavras inadequadas e inúteis.

— Obrigado. Há um clichê de que o tempo cura tudo. Não acredito mais nisso.

Sua voz era amargurada. Mary pensou em Edward e no quanto ainda sentia saudade. Mas aquele homem vivia com sua dor há mais tempo.

— Se me dá licença agora, senhora embaixadora... Ele afastou-se para cumprimentar um grupo de convidados que chegavam.

Ele me lembra um pouco você, Edward. Gostaria dele. É um homem corajoso. Sofre muito e acho que é isso o que me atrai nele. Também sofro muito, querido. Será que algum dia conseguirei superar a saudade que sinto de você? Eu me sinto muito solitária aqui. Não há ninguém com quem eu possa conversar. Quero desesperadamente ser bem-sucedida. Mike Slade está tentando fazer com que eu volte para casa. Não voltarei. Mas como preciso de você! Boa noite, meu querido.

Na manhã seguinte Mary falou pelo telefone com Stanton Rogers. Foi maravilhoso ouvir sua voz. É como um elo vital com o lar, pensou ela.

— Estou recebendo os melhores relatórios sobre você — disse Stanton Rogers. — A história de Hannah Murphy deu manchete aqui. Fez um excelente trabalho.

— Obrigada, Stan.

— Fale-me sobre a tentativa de seqüestro, Mary.

— Já conversei com o primeiro-ministro e o diretor da Securitate, e eles não têm qualquer pista.

— Mike Slade não lhe avisou para não sair sozinha? Mike Slade.

— Avisou, Stan.

Devo contar a ele que Mike Slade também me disse que era melhor eu voltar para casa? Não, decidiu Mary. Cuidarei sozinha do senhor Slade.

— Não se esqueça de que sempre estarei à sua disposição. A qualquer momento.

— Sei disso — respondeu Mary, agradecida. — E não tenho palavras para expressar o quanto isso significa para mim.

O telefonema fez com que ela se sentisse muito melhor.

— Temos um problema. Há um vazamento em algum lugar da embaixada.

Mary e Mike Slade estavam tomando um café, antes da reunião diária da equipe.

— E é sério?

— Muito sério. O adido comercial, David Victor, teve algumas reuniões com o ministro do Comércio romeno.

— Sei disso. Discutimos o assunto na semana passada.

— É verdade. Quando David voltou para a segunda reunião, eles já haviam antecipado todas as contrapropostas que apresentamos. Sabiam até que ponto exatamente estávamos dispostos a ir.

— Não é possível que eles apenas tenham calculado o que poderíamos propor?

— Claro que é possível. Só que discutimos algumas novas propostas e outra vez eles se anteciparam.