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Ao final da reunião, Mary estava mais cansada do que o habitual. Mike Slade disse:

— O balé estréia esta noite. Corina Socoli vai dançar. Mary reconheceu o nome. Era uma das bailarinas mais

famosas do mundo.

— Tenho alguns ingressos, se estiver interessada.

— Não estou, não, mas obrigada.

Ela pensou na última vez em que Mike lhe dera ingressos para o teatro e o que acontecera. Além do mais, estaria ocupada. Fora convidada para jantar na embaixada chinesa e depois se encontraria com Louis na residência. Não era conveniente que fossem vistos juntos em público com muita freqüência. Ela sabia que estava violando as regras ao manter uma ligação casual com um membro de outra embaixada. Mas acontece que não se trata de uma ligação casual.

Ao se preparar para o jantar, Mary abriu o closet para pegar um vestido e descobriu que a criada o lavara com água, em vez de uma lavagem a seco. Estava estragado. Vou despedi-la, pensou Mary, furiosa. Só que não posso. As regras deles não permitem.

Sentiu-se subitamente exausta. Arriou na cama. Eu bem que gostaria de não precisar sair esta noite. Seria ótimo me deitar agora e dormir. Mas tem de sair, senhora embaixadora. Seu país conta com você.

Mary ficou deitada, fantasiando. Continuaria na cama, em vez de ir ao jantar. O embaixador chinês receberia os outros convidados, mas aguardaria ansioso a sua chegada. O jantar acabaria sendo anunciado. A embaixadora americana não viera. Era um insulto deliberado. A China fora ofendida. O embaixador chinês enviaria um telegrama preto e seu primeiro-ministro ficaria furioso quando o lesse. Telefonaria para o presidente dos Estados Unidos e apresentaria seu protesto. "Nem você nem qualquer outro pode obrigar minha embaixadora a comparecer a seus jantares," responderia o presidente Ellison. O primeiro-ministro gritaria: "Ninguém pode falar comigo assim. Já temos agora nossas bombas atômicas, senhor presidente." Os dois líderes apertariam os botões nucleares ao mesmo tempo e ambos os países seriam destruídos.

Mary sentou na cama e pensou, angustiada: É melhor eu ir à droga do jantar.

A noite foi uma confusão indistinta dos mesmos rostos familiares do corpo diplomático. Mary teve apenas uma vaga lembrança das outras pessoas à sua mesa. Mal podia esperar o momento de voltar para casa.

Enquanto Florian a conduzia para a residência, ela sorria, sonhadora. Será que o presidente Ellison sabe que evitei uma guerra atômica esta noite?

Na manhã seguinte, ao chegar à embaixada, Mary estava se sentindo pior. A cabeça doía e estava enjoada. A única coisa que a fez sentir-se melhor foi a visita de Eddie Maltz. O agente da CIA informou:

— Tenho as informações que pediu. O doutor Louis Desforges foi casado durante dez anos. O nome da esposa era Renée. Tinha duas filhas, de dez e doze anos, Phillipa e Genevieve. Foram assassinadas na Argélia por terroristas, provavelmente como um ato de vingança contra o doutor, que lutava no movimento clandestino. Precisa de mais alguma informação?

— Não — respondeu Mary, feliz. — Isso é suficiente. Obrigada.

Durante o café da manhã, Mary e Mike Slade discutiram a visita iminente de um grupo universitário.

— Eles gostariam de conhecer o presidente Ionescu.

— Verei o que posso fazer — disse Mary, a voz um pouco engrolada.

— Você está bem?

— Apenas me sinto um pouco cansada.

— O que precisa é de outro café. Vou preparar.

Ao final da tarde Mary estava se sentindo pior. Ligou para Louis e apresentou uma desculpa para cancelar o jantar marcado naquela noite. Estava passando muito mal para se encontrar com qualquer pessoa. Gostaria que o médico americano estivesse em Bucareste. Mas talvez Louis descobrisse o que ela tinha. Se eu não melhorar, vou chamá-lo. Dorothy Stone mandou a enfermeira buscar um analgésico na farmácia. Não adiantou. Ela estava preocupada,

— Está com uma aparência horrível, senhora embaixadora. Deveria ir para a cama.

— Já vou melhorar — murmurou Mary.

O dia tinha mil horas. Mary reuniu-se com os estudantes, algumas autoridades romenas, um banqueiro americano, um diretor da US1S — Serviço de Informações dos Estados Unidos — e participou de um jantar interminável na embaixada holandesa. Quando finalmente chegou em casa, caiu na cama, esgotada.

Não conseguiu dormir direito. Sentia-se quente, febril, e foi dominada por sucessivos pesadelos. Estava correndo por um labirinto de corredores, e cada vez que virava uma esquina deparava com alguém escrevendo na parede coisas horríveis, com sangue. Só podia ver a parte posterior da cabeça do homem. E depois Louis aparecia, uma dúzia de homens tentava arrastá-lo para um carro. Mike Slade vinha correndo pela rua, gritando: "Matem-no! Ele não tem família!"

Mary acordou suando frio. O quarto estava insuportavelmente quente. Ela jogou as cobertas para o lado e no mesmo instante sentiu-se enregelada. Os dentes começaram a bater. Oh, Deus, pensou ela, o que será que eu tenho?

Passou o resto da noite acordada, com medo de voltar a dormir, com medo dos sonhos.

Teve de recorrer a toda a sua força de vontade para se levantar e ir à embaixada na manhã seguinte. Mike Slade estava à sua espera. Ele fitou-a com uma expressão crítica e disse:

— Você não parece estar bem. Por que não voa para Frankfurt e consulta o médico que temos lá?

— Estou bem.

Seus lábios estavam ressequidos e rachados, ela sentia-se completamente desidratada. Mike entregou-lhe uma xícara de café.

— As novas cifras comerciais estão aqui. Os romenos vão precisar de mais cereais do que calculamos. Aqui está como podemos capitalizar...

Mary fez o maior esforço para prestar atenção, mas a todo instante a voz de Mike sumia e voltava.

De alguma forma, ela conseguiu se agüentar ao longo do dia. Louis telefonou duas vezes. Mary mandou a secretária dizer que ela estava em reunião. Tentava conservar todas as forças que lhe restavam para continuar a trabalhar.

Ao se deitar, naquela noite, Mary podia sentir que sua temperatura aumentara. O corpo todo doía. Estou realmente doente, pensou ela. Tenho a sensação de que vou morrer. Com um enorme esforço, ela se esticou e puxou o cordão da campainha. Carmen apareceu e olhou alarmada para Mary. -

— Senhora embaixadora! Mas o quê...? Mary balbuciou, a voz rouca:

— Peça a Sabina para ligar para a embaixada francesa. Preciso do doutor Desforges...

Mary abriu os olhos e piscou. Havia dois Louis indistintos parados à sua frente. Ele deslocou-se para o lado da cama, inclinou-se e examinou atentamente seu rosto afogueado.

— Santo Deus, o que está acontecendo com você? — Encostou a mão na testa de Mary. Estava muito quente. — Já tirou a temperatura?

— Não quero saber.

Até falar doía. Louis sentou na beira da cama.

— Há quanto tempo está assim, querida?

— Há poucos dias. Provavelmente é um vírus. Louis verificou a pulsação. Estava fraca e irregular. Ele

se inclinou para a frente e sentiu o bafo de Mary.

— Comeu alguma coisa com alho hoje? Ela sacudiu a cabeça.

— Não como nada há dois dias.

Sua voz era um mero sussurro. Ele tornou a se inclinar para a frente e levantou-lhe as pálpebras gentilmente.

— Sente muita sede? Ela balançou a cabeça.

— Dores, cãibras, náusea, vômito?

Tudo isso, pensou Mary, exausta. Em voz alta, ela disse:

— O que há comigo, Louis?

— Sente-se em condições de responder a algumas perguntas?