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Uma escada de serviço nos fundos desembocava numa viela. Cinco minutos depois de se registrar no Churchill, Angel estava num táxi, voltando para Heathrow.

O passaporte dizia H.R. de Mendoza. A passagem estava no balcão da Tarom Airlines, para Bucareste. Angel mandou um telegrama do aeroporto.

CHEGANDO QUARTA-FEIRA

H.R. DE MENDOZA

Estava endereçado a Eddie Maltz.

No início da manhã seguinte, Dorothy Stone avisou:

— Há uma ligação do gabinete de Stanton Rogers.

— Vou atender. — Mary pegou o fone, ansiosa. — Stan?

Ela ouviu a voz da secretária e teve vontade de chorar de frustração.

— O senhor Rogers pediu para lhe telefonar, senhora embaixadora. Ele está com o presidente e não tem condições de fazer uma ligação no momento. Mas pediu-me que providenciasse qualquer coisa que precise. Se quiser me dizer qual é o problema...

— Não — respondeu Mary, fazendo um esforço para impedir que o desapontamento transparecesse em sua voz. — Eu... eu tenho de falar com ele pessoalmente.

— Creio que ele não estará disponível antes de amanhã. Pediu para avisá-la que ligará assim que puder.

— Obrigada. Ficarei esperando.

Ela desligou. Não havia mais nada a fazer, a não ser

esperar.

Mary continuou tentando falar com Louis em casa. Ninguém atendia. Ligou para a embaixada francesa. Não sabiam onde ele estava.

— Por favor, peçam a ele, quando aparecer, para me telefonar imediatamente.

Dorothy Stone informou:

— Há uma mulher na linha querendo lhe falar, mas se recusa em dizer seu nome.

— Vou atender. — Mary pegou o fone. — Aqui é a embaixadora Ashley.

Uma voz de mulher, suave, com sotaque romeno, disse:

— Aqui é Corina Socoli.

Mary reconheceu o nome no mesmo instante. Era uma linda jovem, de vinte e poucos anos, prima ballerina da Romênia.

— Preciso de sua ajuda — acrescentou a moça. — Decidi desertar.

Não posso cuidar disso hoje, pensou Mary. Não agora.

— Eu... eu não sei se posso ajudá-la.

Sua mente estava em disparada. Tentou se lembrar do que lhe haviam dito a respeito dos desertores.

"Muitos são infiltrações soviéticas. Nós os trazemos, eles nos transmitem algumas informações inócuas ou desinformações. Alguns se tornam toupeiras. Os grandes prêmios são os agentes secretos de alto nível e cientistas. Sempre podemos usá-los. Afora isso, porém, não concedemos asilo político, a menos que haja um motivo muito bom."

Corina Socoli estava chorando agora:

— Por favor, não estou segura continuando onde estou. Precisa mandar alguém me buscar.

"Os governos comunistas preparam armadilhas insidiosas. Alguém se apresenta como desertor, pedindo ajuda. Você leva a pessoa para a embaixada e ela declara que foi seqüestrada. Isso lhes dá uma desculpa para agirem contra alvos nos Estados Unidos."

— Onde você está? — perguntou Mary. Houve uma pausa.

— Acho que posso confiar em você. Estou na Estalagem Roscow, na Moldávia. Virá me buscar?

— Não posso — respondeu Mary. — Mas mandarei alguém procurá-la. Não torne a telefonar. E fique esperando onde está. Eu...

A porta se abriu e Mike Slade entrou. Mary fitou-o em choque. Ele avançava em sua direção. A voz no outro lado da linha estava dizendo:

— Alô? Alô?

— Com quem você está falando? — perguntou Mike.

— Com... com o doutor Desforges.

Foi o primeiro nome que lhe ocorreu. Ela desligou, aterrorizada.

Não seja ridícula, disse a si mesma. Você está na embaixada. Ele não se atreveria a fazer qualquer coisa aqui.

— Doutor Desforges? — repetiu Mike, lentamente.

— Isso mesmo. Ele... ele está vindo para cá.

Como ela gostaria que isso fosse verdade!

Havia uma expressão estranha nos olhos de Mike Slade. A lâmpada na mesa de Mary estava acesa, projetando a sombra de Mike contra a parede, tornando-o grotescamente grande e ameaçador.

— Tem certeza que se sente bastante bem para voltar a trabalhar?

A desfaçatez do homem!

— Estou muito bem.

Mary queria desesperadamente que ele se retirasse, a fim de poder escapar. Não devo deixar que ele perceba que estou apavorada. Mike se adiantou mais um pouco.

— Você parece tensa. Talvez devesse pegar as crianças e passar alguns dias no lago.

Onde serei um alvo mais fácil. Apenas fitá-lo deixava Mary com tanto medo que ela mal conseguia respirar. O interfone tocou. Era a salvação.

— Se me dá licença...

— Claro.

Mike Slade permaneceu imóvel por mais um instante, fitando-a atentamente, e depois saiu, levando sua sombra. Quase soluçando de alívio, Mary pegou o telefone.

— Alô?

Era Jerry Davis, o adido para assuntos públicos.

— Lamento incomodá-la, senhora embaixadora, mas tenho uma notícia terrível para lhe dar. Acabamos de receber um comunicado da polícia. O doutor Louis Desforges foi assassinado.

A sala começou a girar.

— Tem... tem certeza?

Memórias sensoriais a inundaram e uma voz pelo telefone estava dizendo: "Aqui é o xerife Munster. Seu marido acaba de morrer num acidente de automóvel." E todas as angústias passadas retornaram, dilacerando-a.

— Como... como aconteceu?

A voz de Mary estava estrangulada.

— Ele foi morto a tiros.

— Sabem quem foi?

— Não, senhora. A Securitate e a embaixada francesa estão investigando.

Mary largou o fone, a mente e o corpo entorpecidos. Recostou-se na cadeira, olhando para o teto. Havia uma rachadura. Devo mandar consertar, pensou Mary. Não podemos ter rachaduras em nossa embaixada. Lá está outra rachadura. Rachaduras por toda parte. Rachaduras em nossas vidas. E quando há uma rachadura, o mal penetra por ela. Edward está morto. Louis está morto. Ela não suportava pensar nisso. Procurou por mais rachaduras. Não posso passar outra vez pela mesma angústia, pensou Mary. Quem poderia querer matar Louis?

A resposta se sucedeu imediatamente à pergunta. Mike Slade. Louis descobrira que Slade estava dando arsênico a Mary. Slade provavelmente pensara que ninguém poderia provar coisa alguma contra ele com a morte de Louis.

Lembrou-se de repente de uma coisa e um novo terror a dominou. Com quem você está falando? Doutor Desforges. E Mike devia saber que o doutor Desforges estava morto.

Ela permaneceu em sua sala durante o dia inteiro, planejando o que faria agora. Não vou deixar que ele me amedronte. Não vou deixar que ele me mate. Tenho de detê-lo. Ela estava dominada por uma raiva que jamais conhecera antes. Ia se proteger e a seus filhos. E ia destruir Mike Slade.

Mary fez outra ligação para Stanton Rogers.

— Transmiti seu recado, senhora embaixadora. Ele ligará assim que puder.

Mary não podia aceitar a morte de Louis. Ele se mostrara tão afetuoso, tão gentil, agora estava estendido em algum necrotério frio, sem vida. Se eu tivesse voltado para o Kansas, pensou Mary, Louis estaria vivo hoje.

— Senhora embaixadora...

Mary levantou os olhos. Dorothy Stone estava estendendo um envelope em sua direção.

— O guarda no portão pediu-me que lhe entregasse isto. Disse que foi entregue por um garoto.

Estava escrito no envelope: pessoal — para os OLHOS DA EMBAIXADORA APENAS.