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Mary abriu o envelope. O bilhete estava escrito em caligrafia impecável e dizia:

Prezada senhora embaixadora:

Aproveite bem o seu último dia neste mundo.

Estava assinado "Angel".

Outra das táticas de apavoramento de Mike, pensou Mary. Não vai funcionar. Eu me manterei longe dele.

O coronel McKinney estava estudando o bilhete. Sacudiu a cabeça.

— Há muitos malucos por aí. — Ele levantou os olhos para Mary. — Deve comparecer hoje à cerimônia de lançamento da pedra fundamental do novo anexo da biblioteca. Vou cancelar e...

— Não precisa.

— Senhora embaixadora, é muito perigoso para...

— Estarei segura. — Mary sabia agora onde estava o perigo e tinha um plano para evitá-lo. — Onde está Mike Slade?

— Está numa reunião na embaixada australiana.

— Por favor, avise-o de que quero falar com ele imediatamente.

— Queria falar comigo? — perguntou Mike Slade, em tom indiferente.

— Queria, sim. Há uma coisa que desejo que você faça.

— Estou às suas ordens.

O sarcasmo dele era como uma bofetada.

— Recebi um telefonema de uma pessoa que quer desertar.

— Quem é?

Ela não tinha a menor intenção de lhe dizer. Ele trairia a jovem.

— Isso não é importante. Quero que vá buscar essa pessoa.

Mike franziu o rosto.

— É alguém que os romenos querem manter?

— É, sim.

— Isso pode acarretar muita... Mary interrompeu-o bruscamente:

— Quero que vá à Estalagem Roscow, na Moldávia, e a traga para cá.

Ele fez menção de discutir, até ver a expressão no rosto de Mary.

— Se é isso o que você quer, mandarei...

— Não. — A voz de Mary era inflexível. — Quero que você vá pessoalmente. Mandarei dois homens em sua companhia.

Acompanhado por Gunny e outro fuzileiro, Mike não poderia fazer coisa alguma. Ela recomendara a Gunny para não perder Mike Slade de vista. Ele a estudava, perplexo.

— Já tenho uma agenda cheia. Talvez amanhã...

— Quero que parta imediatamente. Gunny está esperando em sua sala. Deve trazer a pessoa para cá.

O tom de Mary não permitia qualquer discussão. Mike acenou com a cabeça, lentamente.

— Está bem.

Mary observou-o partir com uma sensação de alívio tão intensa que se sentiu tonta. Com Mike longe, ela estaria segura. Ligou para o coronel McKinney e comunicou-lhe:

— Vou comparecer à cerimônia esta tarde.

— Aconselho com insistência a não fazer isso, senhora embaixadora. Por que haveria de querer se expor a um perigo desnecessário quando...?

— Não tenho alternativa. Estou representando nosso país. Qual seria a impressão se eu me escondesse cada vez que alguém fizesse uma ameaça contra a minha vida? Se eu fizer isso uma vez, nunca mais poderia erguer a cabeça. Seria melhor voltar para casa. E não tenho a menor intenção de voltar para casa, coronel.

28

A cerimônia de lançamento da pedra fundamental do novo anexo da biblioteca americana estava marcada para as quatro horas da tarde, na praça Alexandru Sahia, no enorme terreno vazio ao lado do prédio principal. Às três horas da tarde, uma vasta multidão já estava reunida ali. O coronel McKinney tivera um encontro com o capitão Aurel Istrase, diretor da Securitate.

— Claro que daremos à sua embaixadora o máximo de proteção — assegurara Istrase.

O diretor da Securitate cumprira sua palavra. Mandara retirar todos os veículos da praça, a fim de não haver qualquer perigo de um carro-bomba. A polícia estava postada em torno de toda a área e havia atiradores de escol no telhado do prédio da biblioteca.

Tudo estava pronto poucos minutos antes das quatro horas. Peritos em eletrônica haviam vasculhado toda a área e não encontraram qualquer sinal de explosivos. Depois que tudo estava verificado, o capitão Aurel Istrase disse ao coronel McKinney:

— Estamos prontos.

— Muito bem. — O coronel McKinney virou-se para um assessor. — Avise à embaixadora que pode vir.

Mary foi escoltada até a limusine por quatro fuzileiros, que a flanquearam quando ela embarcou. Florian estava radiante.

— Boa tarde, senhora embaixadora. A biblioteca nova vai ser grande e bonita, não?

— Claro.

Enquanto guiava, Florian não parava de falar, mas Mary não estava prestando atenção. Pensava no riso nos olhos de Louis, na ternura com que fizera amor. Cravou as unhas nos pulsos, tentando fazer com que a dor física predominasse sobre a angústia interior. Não devo chorar, disse a si mesma. O que quer que eu faça, não devo chorar. Não há mais amor, apenas ódio. O que está acontecendo com o mundo?

Quando a limusine chegou ao local, dois fuzileiros se adiantaram até a porta, olharam ao redor atentamente e um deles abriu a porta para Mary.

— Boa tarde, senhora embaixadora.

Enquanto Mary se encaminhava para o terreno em que a cerimônia seria realizada, dois agentes armados da Securitate seguiam à sua frente e outros dois iam atrás, protegendo-a com seus corpos. Do telhado, os atiradores de elite esquadrinhavam tudo lá embaixo.

Os espectadores aplaudiram quando a embaixadora foi para o centro do pequeno círculo aberto para a cerimônia. A multidão era formada por romenos, americanos e adidos de outras embaixadas em Bucareste. Havia uns poucos rostos familiares, mas a maioria era de estranhos.

Mary correu os olhos pela multidão e pensou: Como posso fazer um discurso? O coronel McKinney estava certo. Eu não deveria ter vindo. Estou angustiada e apavorada.

O coronel McKinney estava dizendo:

— Senhoras e senhores, é com o maior prazer que apresento a embaixadora dos Estados Unidos.

A multidão aplaudiu. Mary respirou fundo e começou:

— Obrigada...

Ela estivera tão absorta no turbilhão de acontecimentos da última semana que não preparara um discurso. Mas alguma fonte profunda de seu íntimo lhe ditou as palavras. Descobriu-se a dizendo:

— O que estamos fazendo hoje aqui pode parecer uma coisa pequena, mas é importante, porque se trata de mais uma ponte entre nosso país e todos os países da Europa Oriental. O novo prédio que será construído aqui estará repleto de informações sobre os Estados Unidos da América. Aqui, vocês poderão saber tudo sobre a história de nosso país, as coisas boas e as coisas ruins. Poderão ver imagens de nossas cidades, fábricas e fazendas.

O coronel McKinney e seus homens circulavam lentamente pela multidão. O bilhete dissera: "Aproveite seu último dia neste mundo." Quando terminaria o dia do assassino? Seis horas da tarde? Nove horas? Meia-noite?

— ... mas há uma coisa mais importante para vocês do que descobrir como parecem os Estados Unidos da América. Quando este novo prédio estiver pronto, poderão finalmente saber como sente a América. Vamos lhes mostrar o espírito do país.

No outro lado da praça, um carro passou em disparada pela barreira policial e parou no meio-fio com um ranger de pneus. Enquanto um surpreso guarda se adiantava, o motorista saltou do carro e começou a correr. Enquanto corria, tirou do bolso um artefato e apertou-o. O carro explodiu, enviando uma chuva de metal para cima da multidão. Nenhum fragmento chegou ao lugar em que Mary estava, mas os espectadores desataram a correr em pânico, tentando escapar do ataque. Um atirador no telhado apontou seu rifle e acertou uma bala no coração do homem em fuga antes que ele pudesse escapar. A seguir, disparou mais dois tiros, por medida de precaução.

A polícia romena levou uma hora para retirar a multidão da praça Alexandru Sahia e remover o corpo do assassino em potencial. Os bombeiros apagaram as chamas do carro. Mary foi levada de volta à embaixada, abalada.