Agora na festa, Josephine ficava olhando em volta, na esperança de ver David, mas ele não estava ali. No passado, ele havia parado para falar com ela várias vezes, mas em todas elas Josephine tinha corado e ficado imóvel, sem conseguir falar.
A festa foi um grande sucesso. Havia catorze rapazes e garotas. Tinham feito um grande almoço de churrasco de carne, galinha, salada de batata e limonada, servido no terraço por mordomos e copeiras uniformizados. Depois Mary Lou e Josephine abriram os presentes, enquanto os outros as rodeavam e faziam comentários sobre o que haviam ganho.
Mary Lou disse:
─ Vamos nadar um pouco.
Todos saíram correndo para as cabines próximas à piscina. Enquanto vestia o maiô, Josephine pensava que nunca havia se sentido tão feliz. Havia sido um dia perfeito, passado em companhia de seus amigos. Fazia parte do grupo, partilhando a beleza que os rodeava. Não havia nada maligno naquilo. Gostaria de poder fazer o tempo parar e imobilizar aquele dia de forma que nunca acabasse.
Josephine saiu para a luz ofuscante do sol. Enquanto caminhava para a piscina, percebeu que os outros a observavam, as meninas com franca inveja, os rapazes com olhares de cobiça mal disfarçada. Naqueles últimos meses, o corpo de Josephine havia amadurecido de maneira impressionante. Os seios firmes e cheios se delineando contra a malha do maiô, e os quadris insinuando as curvas generosas e sedutoras de uma mulher. Josephine mergulhou na piscina, juntando-se aos outros.
─ Vamos brincar de Marco Pólo ─ gritou alguém.
Josephine adorava aquela brincadeira. Adorava mover-se na água cálida, com os olhos bem fechados. Então gritava "Marco!" e os outros tinham que responder "Pólo!" Josephine mergulhava na direção do som das vozes antes que fugissem, até pegar alguém, que então tentaria pegar os outros.
Começaram a brincadeira com Cissy Topping. Ela saiu atrás do menino de quem gostava, Bob Jackson, mas não conseguiu apanhá-lo, e sim Josephine. Ela fechou os olhos e ficou tentando ouvir os outros se moverem na água.
─ Marco! ─ gritou.
Houve um coro de "Pólo!" Mergulhou em direção à voz mais próxima. Tacteou na água, não havia ninguém.
─ Marco! ─ gritou.
De novo, um coro de "Pólo!" Agarrou às cegas mas só apanhou ar. Josephine não se importava que eles fossem mais rápidos do que ela; queria que aquela brincadeira continuasse para sempre, da mesma forma que queria que aquele dia durasse uma eternidade.
Ficou imóvel, tentando ouvir alguém espadanar na água, uma risadinha, um murmúrio. Foi se movendo pela piscina, os olhos fechados, os braços estendidos, e alcançou os degraus. Subiu um degrau para silenciar seus movimentos.
─ Marco! ─ gritou.
E não houve resposta. Ficou parada ali, imóvel.
─ Marco!
Silêncio. Era como se estivesse num mundo cálido, molhado, deserto, sozinha. Estavam lhe pregando uma peça. Tinham resolvido que ninguém responderia. Josephine sorriu e abriu os olhos.
Estava sozinha na piscina. Alguma coisa fez com que olhasse para baixo. Seu maiô branco estava manchado de vermelho e havia sangue escorrendo entre suas coxas. As crianças estavam todas de pé em volta da piscina, olhando para ela. Josephine ergueu o olhar naquela direção, confusa.
─ Eu...
Parou sem saber o que dizer. Desceu os degraus depressa, entrando na água para esconder sua vergonha.
─ Nós não costumamos fazer isso na piscina ─ disse Mary Lou.
─ Mas polacas fazem ─ alguém deu uma risada zombeteira.
─ Ei, vamos tomar um banho de chuveiro.
─ Vamos! Estou com frio.
─ Quem vai nadar naquilo?
Josephine fechou os olhos de novo e os ouviu indo em direção aos vestiários, abandonando-a. Ficou parada ali, mantendo os olhos bem fechados, apertando as pernas para tentar deter aquele fluxo vergonhoso. Era a primeira vez que ficava menstruada. Fora completamente inesperado. Eles voltariam, em seguida, e lhe diriam que estavam apenas implicando com ela, que ainda eram seus amigos, que aquela felicidade não acabaria nunca. Voltariam e explicariam que era tudo brincadeira. Talvez já tivessem voltado, prontos para brincar. Com os olhos bem fechados, ela murmurou: "Marco!" ─ e o eco morreu no ar da tarde. Não tinha idéia de quanto tempo ficou parada ali, na água, com os olhos fechados.
─ Nós não costumamos fazer isso na piscina.
─ Mas polacas fazem.
Sua cabeça começou a latejar violentamente. Estava nauseada, e de repente começou a ter cólicas. Mas Josephine sabia que tinha que ficar ali de pé, com os olhos fechados. Só até que eles voltassem e lhe dissessem que era brincadeira.
Ouviu passos e um farfalhar de tecido, e de repente soube que estava tudo bem. Eles tinham voltado. Abriu os olhos e olhou para cima.
David, o irmão mais velho de Mary Lou, estava de pé na borda da piscina, com um robe de tecido aveludado na mão.
─ Peço desculpas por todos eles ─ disse ele, a voz séria, estendendo-lhe o robe. ─ Tome. Saia daí e vista isso.
Mas Josephine fechou os olhos e ficou ali, rígida. Queria morrer o mais rapidamente possível.
15
Era um dos bons dias para Sam Winters. As primeiras cópias do filme de Tessie Brand tinham ficado maravilhosas. Em parte, é claro, porque Tessie tinha se matado de trabalhar para compensar seu comportamento. Mas, de qualquer modo, Barbara Carter surgiria como a melhor nova produtora do ano. Ia ser um ano e tanto para figurinistas.
Os programas de televisão produzidos pela Pan-Pacific estavam indo bem, e My Man Friday era o grande sucesso. A companhia estava cogitando fazer um novo contrato de cinco anos para o seriado.
Sam já se preparava para ir almoçar quando Lucille entrou correndo e disse:
─ Acabaram de apanhar alguém tentando iniciar um incêndio no guarda-roupa. Estão trazendo o homem para cá agora.
O homem estava sentado numa cadeira diante de Sam, em absoluto silêncio, com dois guardas da segurança do estúdio de pé atrás dele. Sam ainda não havia se recuperado do choque.
─ Por quê? ─ perguntou. ─ Pelo amor de Deus... Por quê?
─ Porque não quero a porra da caridade de vocês ─ disse Dallas Burke. ─ Odeio você, este estúdio e todo esse negócio podre. Eu construi este negócio, seu filho da puta. Eu sustentei metade dos estúdios desta cidade nojenta. Todo mundo ficou rico às minhas custas. Por que é que você não me deu um filme para dirigir, em vez de tentar me subornar fingindo que estava comprando uma porra de um monte de contos de fadas roubados? Você teria comprado até um catálogo telefónico de mim, Sam. Eu não queria favores... eu queria um emprego. Você está fazendo com que eu morra como um fracasso, seu escroto, e nunca lhe perdoarei isso.
Muito tempo depois de terem levado Dallas Burke, Sam ainda estava sentado ali, pensando nele, lembrando as coisas fantásticas que ele fizera, dos filmes maravilhosos que tinha feito. Em qualquer outro ramo de negócios, ele seria um herói, o presidente do conselho, ou estaria aposentado com uma pensão generosa e coberto de glória.
Mas aquele era o maravilhoso mundo dos espetáculos.
16
No princípio da década de 50, o sucesso de Toby crescia. Apresentou-se nas casas noturnas de maior sucesso ─ Chez Paree, em Chicago; Latin Casino, em Filadélfia; Copacabana, em Nova York. Dava espetáculos beneficentes, apresentou-se em hospitais infantis e em chás de caridade ─ se apresentava para qualquer pessoa, em qualquer lugar, a qualquer hora. O público era o sangue que o mantinha vivo. Estava totalmente absorvido pelo mundo dos espetáculos. Acontecimentos importantes ocorriam no mundo inteiro, mas para Toby eram apenas assunto para as suas piadas.
Em 1951, quando o General MacArthur se aposentou e declarou: