─ Velhos soldados não morrem... eles apenas desaparecem gradualmente.
Toby disse:
─ Jesus... acho que nós usamos a mesma lavanderia.
Em 1952, quando a bomba de hidrogénio foi lançada, o comentário de Toby foi:
─ Isso não foi nada. Vocês precisavam ter visto a minha estreia em Atlanta.
Quando Nixon fez o seu famoso "discurso Checkers", Toby disse:
─ Votaria nele sem pensar duas vezes. Não no Nixon... no Checkers.
Ike foi eleito presidente, Stálin morreu, a América jovem usava chapéu estilo David Crockett e houve um boicote aos ónibus em Montgomery.
E tudo era material para as piadas de Toby.
Quando lançava seus dardos com aquela expressão infantil de inocência perplexa, a plateia gritava.
Mas havia uma inquietação profunda e violenta mo íntimo de Toby. Estava sempre buscando alguma coisa mais. Não conseguia se divertir nunca, porque temia sempre estar perdendo uma festa melhor em algum outro lugar, ou se apresentando para uma plateia melhor, ou beijando uma garota mais bonita. Trocava de namorada como trocava de camisas. Depois da experiência com Millie, tinha medo de se envolver mais seriamente com quem quer que fosse. Lembrava-se da época em que se apresentava no circuito dos banheiros e invejava os cômicos que tinham grandes limusines e mulheres bonitas. Tinha conseguido tudo aquilo, e estava tão sozinho quanto antes. Quem era mesmo que havia dito: "Quando a gente chega lá, o lá não existe"...
Estava decidido a se tornar o NÚMERO UM e sabia que conseguiria. A única coisa que lamentava era que sua mãe não estaria lá para ver sua previsão se tornar realidade.
A única recordação que lhe restava dela era seu pai.
A clínica em Detroit era um prédio feio de tijolos, pertencente a um outro século. Suas paredes abrigavam um fedor adocicado de velhice, de doença e de morte.
O pai de Toby havia sofrido um derrame, e agora era quase um vegetal, um homem de olhos apáticos e sem brilho, com uma mente que não se preocupava com nada, exceto as visitas do filho. Toby ficou parado no vestíbulo sujo, atapetado de verde, da clínica onde agora estava seu pai. As enfermeiras e os internos o rodeavam cheios de admiração.
─ Vi o senhor no show de Harold Hobson, na semana passada, Sr. Toby. Achei que estava maravilhoso. Como é que consegue inventar todas essas coisas incríveis para dizer?
─ Os meus escritores as inventam ─ disse Toby, e eles riram da sua modéstia.
Um enfermeiro vinha descendo pelo corredor, empurrando a cadeira de rodas do Sr. Temple. Ele estava recém-barbeado e o cabelo fora penteado. Tinha deixado que lhe vestissem um terno em honra à visita do filho.
─ Ei, é o Belo Brummel!* ─ exclamou Toby, e todo mundo se virou para olhar para o Sr. Temple com inveja, desejando ter um filho maravilhoso e famoso como Toby que viesse visitá-los.
Toby foi para junto do pai, inclinou-se e o abraçou.
─ Quem é que está querendo enganar? ─ perguntou Toby, apontando para o enfermeiro. ─ Você é quem devia estar empurrando esse cara, papai.
Todo mundo riu, guardando a anedota na memória para poder contar aos amigos o que tinha ouvido Toby Temple dizer. Eu estava com Toby Temple no outro dia, e ele disse... Eu estava de pé junto dele, assim como estou de você, e o ouvi dizer...
E ele ficou por ali, divertindo, insultando com gentilezas, e eles o adoravam. Fazia brincadeiras a respeito da vida sexual deles, da saúde deles, de seus filhos, e por um curto espaço
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Famoso dândi inglês, amigo de Jorged IV quando príncipe. (N. da T.)
de tempo conseguiram rir dos próprios problemas. Finalmente, Toby disse, pesaroso:
─ Detesto ter que deixá-los, são a plateia mais bonita que já tive em muitos anos ─ Eles também iam se lembrar daquilo, ─ mas preciso passar algum tempo a sós com meu pai. Ele prometeu que me daria umas piadas novas.
Eles sorriam e riam e o adoravam.
Toby estava sozinho na salinha de visitantes com seu pai. Até aquela sala tinha cheiro de morte, mas, entretanto, era daquilo que aquele lugar tratava, não era, pensou Toby. "Morte?" Estava cheio de pais e mães gastos, que haviam se tornado empecilhos no caminho dos filhos. Tinham sido tirados dos quartinhos dos fundos das casas, postos para fora de salas de jantar e salas de visitas, onde estavam se tornando fontes de embaraço sempre que havia convidados, e tinham sido mandados para aquela clínica geriátrica por seus filhos, sobrinhas e sobrinhos. "Acredite, é para o seu próprio bem, papai, mamãe, tio George, tia Bess. Vai estar com uma porção de gente adorável, da sua idade. Entendeu o que estou querendo dizer? Vai ter companhia o tempo todo." O que eles realmente queriam dizer era: "Estou mandando você para lá para morrer junto com todos os outros velhos inúteis. Estou cheio de ver você babando na mesa, contando as mesmas histórias seguidamente, infernizando a vida das crianças e molhando a cama". Os esquimós eram mais honestos a respeito daquilo. Mandavam os velhos para o gelo, e os abandonavam ali para morrer.
─ Estou realmente satisfeito por você ter vindo hoje ─ disse o pai de Toby, com sua dicção lenta. ─ Queria falar com você. Tenho boas notícias. O velho Art Riley aqui do lado morreu ontem.
Toby ficou olhando para ele espantado.
─ Chama isso de boa notícia?
─ Significa que eu posso me mudar para o quarto dele ─ explicou o velho. ─ É um quarto de solteiro particular.
E era aquilo que significava a velhice: sobrevivência, o apego às poucas coisas materiais que restavam. Toby tinha visto gente ali que estaria melhor se estivesse morta, mas que se agarrava à vida com ferocidade. "Feliz aniversário, Sr. Dorset. Como é que se sente completamente os seus noventa e cinco anos hoje?" "Quando penso na alternativa, sinto-me ótimo."
Finalmente, estava na hora de ir embora.
─ Volto para ver você assim que eu puder ─ prometeu Toby.
Deu algum dinheiro ao pai e distribuiu gorjetas generosas entre as enfermeiras e funcionários.
─ Cuidem bem dele, hein? Preciso do velho para o meu número.
E Toby foi embora. No momento em que passou pela porta, esqueceu-se de todos eles. Estava pensando no seu desempenho naquela noite.
Durante a semana não falariam de nada além da sua visita.
17
Aos dezessete anos, Josephine Czinski era a moça mais bonita de Odessa, Texas. Tinha a tez dourada, queimada do sol; os longos cabelos negros tinham um tom de cobre ao sol e os olhos castanhos profundos, minúsculas partículas douradas. O corpo era estonteante, com o busto cheio e arredondado, a cintura fina que se abria nas curvas dos quadris com suavidade, afilando-se nas longas pernas bem-feitas.
Josephine não se dava mais com a gente do petróleo. Agora ela saía com outros. Depois das aulas, trabalhava como garçonete no Golden Derrick, um drive-in muito popular. Mary Lou, Cissy Topping e seus amigos costumavam ir lá com seus acompanhantes. Ela sempre os cumprimentava com polidez; mas tudo havia mudado.
Josephine estava tomada de uma inquietação, uma ânsia pelo que nunca conhecera. Era indefinida, mas estava ali. Queria deixar aquela cidade feia e triste, mas não sabia para onde queria ir ou o que fazer. Ficar pensando durante muito tempo a respeito daquilo fazia as dores de cabeça começarem.
Saía com uma dúzia de rapazes e jovens diferentes. O predileto de sua mãe era Warren Hoffman.
─ Hoffman seria um bom marido para você. Frequenta a igreja regularmente, ganha muito bem como bombeiro e está maluco por você.
─ Ele tem vinte e cinco anos e é gordo.
A Sra. Czinski lançou um olhar crítico para Josephine.
─ Polonesas pobres não encontram cavaleiros de armadura brilhantes. Nem no Texas nem em nenhum outro lugar do mundo. Pare de se enganar a si mesma.