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Quando Toby voltou e entregou-lhe o drinque, Clifton levantou o copo num brinde e disse:

─ A nós dois, meu caro rapaz.

Era a temporada dos sucessos, diversões e festas e Toby estava sempre "na moda". As pessoas esperavam que ele as divertisse. Um ator sempre pode se esconder por trás das palavras de Shakespeare, Shaw ou Moière; um cantor pode contar com a ajuda de Gershwin, Rodgers e Hart ou Cole Porter; mas um comediante está sempre despojado. Sua única arma é o humor.

As tiradas de Toby Temple logo se tornaram famosas em Hollywood. Durante uma festa em homenagem ao idoso fundador de certo estúdio, alguém perguntou a Toby:

─ É verdade que ele tem mesmo noventa e dois anos?

─ No duro ─ respondeu ele. ─ Quando chegar aos cem, vão dividi-lo em dois.

Num jantar, certa noite, um famoso médico que tinha muitas estrelas entre seus clientes contou a um grupo de comediantes uma longa e complicada piada.

─ Doutor ─ implorou Toby, ─ não nos divirta, poupe-nos!

Em certa ocasião o estúdio usou leões num filme e ao vê-los passar num caminhão Toby berrou:

─ Cristãos! Dez minutos!

As brincadeiras de Toby tornaram-se lendárias. Um de seus amigos, católico, internou-se para uma pequena cirurgia. Certo dia, quando estava convalescendo, certa vez uma freira jovem e bonita parou ao lado de sua cama e passou-lhe a mão pela testa.

─ Você parece estar bem, descansando... Sua pele é tão macia.

─ Obrigado, irmã.

Ela se debruçou e começou a ajeitar os travesseiros, os seios roçaram no rosto do homem. Involuntariamente, o pobre coitado começou a ter uma ereção. Quando a freira passou a arrumar os cobertores, a mão dela tocou no seu membro, o homem estava mortificado de agonia.

─ Santo Deus ─ disse a freira. ─ Que é isso aqui?

Ela afastou as cobertas, deixando à mostra o pênis duro como pedra.

─ Eu... sinto... sinto muito, irmã ─ gaguejou o homem. ─ Eu...

─ Não peça desculpas. É um pau formidável ─ respondeu ela, enquanto se inclinava sobre o corpo dele.

Passaram-se seis meses até o amigo ficar sabendo que fora Toby quem lhe mandara a mulher.

Certo dia, quando Toby saía de um elevador, virou-se para um solene executivo de certa rede de televisão e disse:

─ A propósito, Will, como foi que você se saiu daquela acusação de atentado ao pudor?

A porta do elevador se fechou, deixando o homem entre meia dúzia de pessoas a encará-lo com olhares desconfiados.

Por ocasião da negociação de um novo contrato, Toby encomendou uma pantera treinada, a ser-lhe entregue no estúdio. Depois, abriu a porta do escritório de Sam Winters quando este se encontrava no meio de uma reunião e disse:

─ Meu agente quer falar com você. ─ Empurrou a pantera para dentro do escritório e fechou a porta.

Ao contar a história mais tarde, Toby disse:

─ Três dos caras que estavam lá dentro quase tiveram um enfarte. O pessoal levou um mês para livrar a sala do cheiro de mijo da pantera.

Havia uma equipe de dez redatores trabalhando para Toby, sob a direção de O'Hanlon e Rainger. Ele se queixava frequentemente do material produzido por esse pessoal. Certa vez, incluiu uma prostituta na equipe, mas, quando soube que os redatores estavam passando a maior parte do tempo no quarto, teve de despedi-la. Noutra ocasião, levou um tocador de realejo e seu mico para uma reunião. Foi uma situação humilhante e aviltrante, mas os redatores a aguentaram porque Toby transformou o material que haviam preparado em puro ouro. Ele era o melhor em seu gênero.

A generosidade de Toby era pródiga. Presenteava seus empregados e amigos com relógios e isqueiros de ouro, guarda-roupas completos e viagens à Europa. Andava sempre com enorme quantidade de dinheiro e pagava tudo em espécie, inclusive dois Rolls-Royce. Era um mão-aberta. Todas as sexta-feiras uma dúzia de parasitas de indústria cinematográfica fazia fila para uma distribuição de ajuda. Certa vez, Toby disse a um dos habituais frequentadores:

─ Ei, que é que você está fazendo aqui hoje? Acabei de ler no Variety que você arranjou trabalho num filme.

O homem olhou para Toby e disse:

─ Droga, então não tenho direito a aviso prévio de duas semanas?

Havia milhares de histórias sobre Toby e quase todas eram verdadeiras. Certo dia, durante uma reunião, um dos redatores chegou atrasado, pecado imperdoável.

─ Perdão pelo atraso ─ desculpou-se. ─ Meu filho foi atropelado por um carro esta manhã.

Toby olhou para o homem e perguntou:

─ Você trouxe as piadas?

Todos os presentes ficaram chocados. Após a reunião, um dos redatores disse a O'Hanlon:

─ Ele é o maior filho da puta deste mundo. Se você estivesse pegando fogo, ele lhe venderia água.

Toby mandou buscar um grande especialista em cirurgia cerebral para operar o menino e pagou todas as despesas do hospital. Ao pai do garoto, ele disse:

─ Se você contar isso a alguém, está no olho da rua.

O trabalho era a única coisa que fazia Toby esquecer sua solidão, a única coisa que lhe proporcionava alegria genuína. Se um espetáculo fazia sucesso, Toby era a companhia mais divertida do mundo; mas, se a coisa corria mal, transformava-se num demónio, atacando todo o alvo a seu alcance com o selvagem humor de que era dotado.

Era um possessivo. Certa vez, durante uma reunião, segurou a cabeça de Rainger com as duas mãos e proclamou para os presentes:

─ Isto aqui é meu. Isto me pertence.

Ao mesmo tempo, passou a odiar os redatores, porque precisava deles e não queria precisar de ninguém. Por isso, tratava-os com desprezo. No dia de pagamento, Toby fazia aviõezinhos com os cheques deles e lançava-os ao ar. Despedia-os pelas faltas mais insignificantes. Certo dia um deles apareceu queimado de sol e Toby mandou que fosse imediatamente dispensado.

─ Por que fez isso? ─ perguntou O'Hanlon. ─ Ele é um dos nossos melhores redatores.

─ Se estivesse trabalhando ─ respondeu Toby, ─ não teria tido tempo de pegar aquela cor.

Um novo redator apresentou uma piada sobre mães e foi despedido.

Se um dos convidados de seu show provocasse grandes gargalhadas, Toby exclamava:

─ Você é genial! Quero você no show toda a semana.

Olhava para o produtor e dizia:

─ Está me ouvindo? ─ e o produtor sabia que aquele ator jamais deveria participar do show outra vez.

Toby era um conjunto de contradições. Tinha ciúmes do sucesso de outros cômicos, mas certa vez teve uma atitude notável. Um dia, quando Toby saía de um ensaio, passou pelo camarim do antigo astro da comédia Vinnie Turkel, cuja carreira há muito entrara em declínio. Vinnie fora contratado para seu primeiro papel dramático numa peça ao vivo na televisão e tinha esperança de que isso viesse a marcar seu retorno. Nessa ocasião, espiando para dentro do camarim, Toby viu Vinnie no sofá, bêbado. O diretor do show aproximou-se e disse:

─ Deixe-o, Toby. Ele está acabado.

─ Que aconteceu?

─ Bom, você sabe que a marca registada de Vinnie sempre foi a voz aguda e trémula. Ele começou os ensaios e cada vez que abriu a boca e tentava parecer sério, todo mundo caía na gargalhada. Isso destruiu o velho.

─ Ele estava contando com esse papel, não estava? ─ perguntou Toby.

─ Todo ator sempre conta com todo papel ─ disse o diretor, dando de ombros.

Toby levou Vinnie Turkel para sua casa e fez-lhe companhia, obrigando-o a ficar sóbrio.