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─ Esse é o melhor papel que você já teve na vida. Será que vai estragar tudo?

Vinnie abanou a cabeça, deprimido.

─ Já estraguei, Toby. Não posso fazê-lo.

─ Quem falou que não? ─ pressionou Toby. ─ Você pode fazer aquele papel melhor do que ninguém.

O velho sacudiu a cabeça:

─ Eles riram de mim.

─ Claro que riram. E sabe por quê? Porque você passou a vida fazendo-os rir. Eles esperam que você fosse engraçado. Mas, se continuar tentando, acabará convencendo-os. Você os liquidará.

Toby passou o resto da tarde restaurando a confiança de Vinnie. Nessa noite, telefonou para a casa do diretor.

─ Turkel está bem agora ─ disse Toby. ─ Você não precisa se preocupar.

─ Sei disso ─ retrucou o diretor. ─ Já o substituí.

─ Cancele a substituição ─ falou Toby. ─ Você tem de dar um estímulo a ele.

─ Não posso correr o risco, Toby. Ele vai se embriagar de novo e...

─ Sabe, vou fazer o seguinte ─ propôs Toby. ─ Ficarei com ele aqui. Se após o ensaio geral você ainda não quiser conservá-lo, assumirei o papel dele e trabalharei sem cobrar nada.

Houve uma pausa e o diretor disse:

─ Ei! Você está falando sério?

─ Pode apostar.

─ Negócio fechado ─ replicou o diretor apressadamente. ─ Diga a Vinnie que o ensaio é amanhã, às nove.

Quando o show foi ao ar, tornou-se o sucesso da temporada. E o trabalho que os críticos destacaram foi o de Vinnie Turkel. Ele ganhou todos os prêmios da televisão e se lançou numa nova carreira como ator dramático. Quando enviou um presente caro a Toby, para demonstrar sua gratidão, este o devolveu com um bilhete: "Não sou eu o responsável, é você". Assim era Toby Temple.

Poucos meses mais tarde, contratou Vinnie Turkel para um número em seu show. Vinnie invadiu uma de suas piadas e desse momento em diante Toby passou a lhe dar deixas erradas, destruiu suas piadas e humilhou-o diante de quarenta milhões de pessoas.

Isso também era Toby Temple.

Alguém perguntou a O'Hanlon como era realmente e a resposta foi:

─ Você se lembra do filme em que Charles Chaplim, encontrou o milionário? Quando o milionário fica bêbado, é amigão de Chaplim; quando está sóbrio, joga-o na rua. Assim é Toby Temple, só que sem a bebida.

Certa vez, numa reunião com os diretores de uma rede de televisão, um dos executivos pouco falou. Mais tarde, Toby disse a Clifton Lawrence:

─ Acho que ele não gostou de mim.

─ Quem?

─ Aquele garoto na reunião.

─ Que importância tem isso? Não passa de um assistentezinho qualquer.

─ Não me disse uma palavra ─ comentou Toby, deprimido. ─ Não gosta mesmo de mim.

Toby ficou tão impressionado que Clifton Lawrence teve de procurar o jovem executivo. Telefonou no meio da noite para o homem, que ficou estupefato, e perguntou:

─ Você tem alguma coisa contra Toby Temple?

─ Eu? Eu acho que ele é o cara mais engraçado do mundo!

─ Então, meu caro rapaz, será que você me faria um favor? Telefone para ele e diga isso.

Quê?

─ Telefone para Toby e diga que gosta dele.

─ Bom, claro. Telefonarei logo de manhã cedo.

─ Telefone agora.

─ São três horas da manhã!

─ Não tem importância. Ele está esperando.

Quando o executivo ligou para Toby, este atendeu imediatamente. O rapaz ouviu a voz de Toby dizendo: "Oi". Engoliu em seco e falou:

─ Eu... eu queria lhe dizer que acho você genial.

─ Obrigado, meu chapa ─ respondeu Toby e desligou.

O séquito de Toby aumentou. Às vezes ele telefonava para amigos no meio da noite, convidando-os para jogar cartas, ou acordava O'Hanlon e Rainger para discutir temas. Muitas vezes passava a noite em claro projetando filmes em casa, na companhia dos três Macs, Clifton Lawrence e meia dúzia de starlets e parasitas.

E quanto mais gente houvesse à sua volta, mais solitário se sentia.

22

Era novembro de 1963 e o sol do outono cedera lugar a uma luminosidade ténue e fria. As primeiras horas da manhã já eram nevoentas e geladas agora; haviam começado as primeiras chuvas de inverno.

Jill Castle ainda aparecia no Schwab's todas as manhãs, mas parecia-lhe que as conversas eram sempre as mesmas. Os sobreviventes falavam de quem perdera papéis e por quê; eles se deliciavam com as más notícias que apareciam e depreciavam as boas novas. Era a trenodia dos perdedores e Jill começou a imaginar se não estaria se tornando um deles. Ainda tinha certeza de que seria Alguém, mas ao examinar os rostos familiares à sua volta compreendeu que eles sentiam o mesmo a respeito de si próprios. Seria possível que todos tivessem perdido contato com a realidade, que todos apostassem num sonho que jamais se concretizaria? Ela não podia suportar tal idéia.

Jill se tornara confidente e conselheira do grupo. Os outros lhe traziam seus problemas, ela ouvia e tentava ajudar, com conselhos, uns poucos de dólares ou um lugar para dormir por uma ou duas semanas. Raramente saía com rapazes porque estava absorvida em sua carreira e não encontrara ninguém que a atraísse.

Sempre que conseguia economizar algum dinheiro, Jill o enviava à mãe juntamente com longas e animadas cartas contando seus sucessos. No começo a mãe respondera incitando Jill a se arrepender e tornar-se esposa do Senhor. Mas à medida que Jill começou a fazer um ou outro filme e mandar mais dinheiro para casa, sua mãe passou a mostrar um relutante orgulho pela carreira da filha. Já não rejeitava a idéia de vê-la atriz, mas insistia com ela para arranjar papéis em filmes religiosos. "Estou certa de que o Sr. DeMille lhe daria um papel se você lhe explicasse sua formação religiosa" ─ escreveu ela.

Odessa era uma cidade pequena. Sua mãe ainda trabalhava para a gente de petróleo e Jill sabia que ela falava a seu respeito, e que mais cedo ou mais tarde David Kenyon ficaria sabendo de seu sucesso. E por isso, nas cartas, Jill inventava histórias sobre as estrelas com quem trabalhava, cuidando sempre de usar seus primeiros nomes. Aprendeu o truque típico dos que fazem pontas: conseguir que o fotógrafo do set a fotografasse ao lado da estrela. O fotógrafo lhe dava duas cópias: Jill mandava uma para a mãe e guardava a outra. Nas cartas, dava a entender que estava a um passo do estrelato.

Como de costume, no sul da Califórnia, onde nunca neva, três semanas antes do Natal há uma parada pelo Hollywood Boulevard e todas as noites um carro alegórico de Papai Noel faz o mesmo percurso. Os habitantes de Hollywood levam tão a sério a comemoração do nascimento de Cristo quanto seus vizinhos do norte. Não é culpa deles se Noite feliz e outras canções natalinas se derramam pelos rádios em lares e carros onde a população está se derretendo numa temperatura de quarenta graus. Eles anseiam pelo tradicional Natal branco tão ardentemente quanto quaisquer outros norte-americanos patriotas de sangue quente, mas, como sabem que Deus não lhes proporcionará isso, aprenderam a criar seu próprio Natal. Engalanam as ruas com luzes coloridas e árvores de Natal plásticas, imagens de Papai Noel feitas de papier mâché, com trenó e renas. Estrelas e atores disputam o privilégio de participar da Parada Natalina; não porque estejam interessados em alegrar o clima da festa para os milhares de crianças e adultos que assistem ao desfile, mas porque este é sempre televisionado, de modo que seus rostos podem ser vistos de costa a costa.

Jill Castle estava numa esquina, sozinha, assistindo ao longo desfile de carros alegóricos levando as estrelas, que acenavam para os fãs admirando-as lá de baixo. Nesse ano, o mestre-de-cerimônias do desfile era Toby Temple. A multidão de adoradores aplaudia freneticamente a passagem de seu carro alegórico. Jill viu de relance o rosto exultante e inocente de Toby, que seguiu adiante.