─ Fique quieto.
─ Estou quieto.
Jill achou graça e começou a rir. Riu até que as lágrimas lhe rolaram pelo rosto.
─ Que... que pílulas são essas?
─ Contra dor de cabeça, meu bem.
Terraglio espiou para dentro do quarto e perguntou:
─ Como vão as coisas? Todo mundo alegre?
─ Todo... todo mundo alegre ─ balbuciou Jill.
Terraglio acenou com a cabeça para Alan:
─ Cinco minutos ─ e saiu apressadamente.
Alan inclinou-se sobre Jill, afagou-lhe os seios e as coxas, levantou-lhe a saia e começou a acariciá-la entre as pernas. Era uma sensação maravilhosamente excitante e de repente Jill quis tê-lo dentro de si.
─ Olhe, meu bem ─ disse Alan, ─ eu não lhe pediria para fazer nada de mau. Você só tem de fazer amor comigo. É o que fazemos mesmo, só que desta vez seremos pagos. Duzentos dólares. E é tudo seu.
Ela abanou a cabeça, mas pareceu-lhe uma eternidade o tempo que levou para movê-la de um lado para outro.
─ Não posso fazer isso ─ falou indistintamente.
─ Por que não?
Jill teve de se concentrar para lembrar.
─ Porque eu... eu vou ser uma estrela. Não posso fazer filmes pornográficos.
─ Quer trepar comigo?
─ Oh, sim! Quero você, David.
Alan começou a dizer algo e então sorriu.
─ Claro, meu bem. Também quero você. Vamos lá.
Pegou a mão de Jill e ergueu-a da cama. Ela se sentiu como se estivesse voando. Estavam no hall, depois entrando no outro quarto.
─ OK ─ disse Terraglio ao vê-los. ─ Mantenham o mesmo cenário. Vamos injetar um pouco de sangue novo.
─ Quer que eu troque os lençóis? ─ perguntou um membro da equipa.
─ Que merda acha que nós somos, a Metro?
Jill estava agarrada a Alan.
─ David, aqui tem gente.
─ Eles vão sair ─ garantiu Alan. ─ Tome.
Pegou outra pílula e entregou-a a Jill; encostou a garrafa de vodca em seus lábios e ela engoliu-a. Desse momento em diante, tudo aconteceu como num nevoeiro. David a estava despindo dizendo palavras de conforto. Seu corpo nu aproximou-se dela. Surgiu uma luz ofuscante, cegando-a.
─ Ponha isso na boca ─ disse ele, e era David quem falava.
─ Oh, sim.
Ela o afagou carinhosamente e começou a pô-lo na boca, enquanto alguém no quarto dizia alguma coisa que Jill não conseguiu ouvir, e David se afastou, de modo que ela teve de virar o rosto para a luz e apertar os olhos por causa da claridade. Sentiu que a empurravam para que se deitasse de costas e de repente David estava dentro dela, fazendo amor, e ao mesmo tempo Jill sentiu o pênis dele em sua boca. Amava-o tanto. As luzes a incomodavam e também as conversas em segundo plano. Queria dizer a David que os fizesse parar, mas estava num êxtase delirante, com um orgasmo após outro, até sentir como se o corpo fosse se romper. David a amava, não a Cissy; voltara para ela e os dois estavam casados. Estavam vivendo uma lua-de-mel maravilhosa.
─ David... ─ disse ela.
Abriu os olhos e o mexicano estava sobre ela, passando a língua em seu corpo. Tentou perguntar-lhe onde estava David, mas não conseguiu articular as palavras. Fechou os olhos, enquanto o homem fazia coisas deliciosas em seu corpo. Quando tornou a abri-los, o homem havia de algum modo se transformado numa moça de longos cabelos ruivos e seios grandes que se arrastavam sobre o estômago de Jill. Então a mulher começou a fazer algo com a língua e Jill fechou os olhos e perdeu a consciência.
Os dois homens, de pé, olhavam para a figura na cama.
─ Ela vai ficar bem? ─ perguntou Terraglio.
─ Claro ─ disse Alan.
─ Você arranja umas ótimas ─ comentou Terraglio com admiração. ─ Ela é fantástica. A mais bonita de todas.
─ O prazer é meu ─ Alan estendeu a mão.
Terraglio tirou um maço de notas do bolso e separou duas.
─ Aqui está. Quer aparecer para um jantarzinho de Natal? Stella adoraria ver você.
─ Não posso ─ disse Alan. ─ Vou passar o Natal com a mulher e os garotos. Pego o próximo avião para a Flórida.
─ Isso aqui vai dar um filmaço ─ Terraglio balançou a cabeça em direção à moça inconsciente. ─ Como é que devemos apresentá-la?
Alan sorriu.
─ Por que não usam o verdadeiro nome dela? É Josephine Czinski. Quando o filme passar em Odessa, os amigos dela vão se divertir um bocado.
23
Eles haviam mentido. O tempo não era um amigo que curava todas as feridas, era o inimigo que devastava e mutilava a juventude. As temporadas se sucediam e cada uma trazia nova safra do "produto" para Hollywood. A competição pedia carona, chegava de moto, trem e avião. Todos com dezoito anos, tal como Jill tivera um dia. Tinham pernas longas, eram ágeis, com os rostos jovens, frescos e ávidos, sorrisos brilhantes que não precisavam de jaquetas. E à chegada de cada nova safra, Jill ficava um ano mais velha. Um dia ela olhou no espelho e era 1964. Já tinha vinte e cinco anos.
No começo, a experiência do filme pornográfico deixara-a apavorada. Vivera com o pavor de que algum diretor de elenco ficasse sabendo e lhe desse bilhete azul. Mas à medida que se passaram as semanas e os meses, Jill foi esquecendo seus terrores. Contudo, ela mudara. Cada ano que passara deixara-lhe uma marca, uma pátina de dureza, como os anéis que nas árvores marcam a passagem do tempo. Começou a odiar as pessoas que não lhe davam oportunidade de representar, que faziam promessas jamais compridas.
Havia embarcado numa interminável série de empregos monótonos e nada gratificantes. Foi secretária, recepcionista, cozinheira, baby-sitter, modelo, garçonete, telefonista, vendedora. Só enquanto esperava "a chamada".
Mas “a chamada” não veio nunca. E a amargura de Jill aumentou. De vez em quando fazia pontas e dizia uma frase, mas isso jamais levava a nada. Olhou no espelho e recebeu a mensagem do tempo: "Depressa". Ver sua própria imagem era como examinar camadas do passado: ainda havia sinais da jovem que chegara a Hollywood sete intermináveis anos atrás. Mas a jovem tinha pequenas rugas nos cantos dos olhos e linhas mais fundas das asas do nariz até o queixo, sinais de alerta do tempo que se escoava e do sucesso jamais alcançado, lembranças das incontáveis, terríveis, pequenas derrotas. "Depressa, Jill, depressa!"
E foi assim quando Fred Kapper, um dos diretores-assistente da Fox, de dezoito anos, disse a ela que lhe daria um bom papel se fosse para a cama com ele, Jill chegou à conclusão de que era hora de aceitar.
Encontrou Fred Kapper no estúdio, na hora do seu almoço.
─ Só tenho meia hora ─ disse ele. ─ Deixe-me pensar onde podemos ficar à vontade.
Parou um momento, concentrado, e então se animou:
─ A sala de som. Vamos.
A sala de som era uma cabine de projeção, à prova de som, onde as trilhas sonoras eram reunidas num único carretel.
Fred Kapper examinou a sala vazia e disse:
─ Merda! Costumava haver um sofazinho aqui ─ deu uma olhada no relógio. ─ Temos de nos arranjar assim mesmo. Tire a roupa, meu anjo. O pessoal do som estará de volta em vinte minutos.
Jill encarou-o por um momento, sentindo-se como uma prostituta. Mas não o demonstrou. Tentara à sua maneira e não deu certo. Agora, agiria à maneira deles. Tirou o vestido e a calcinha. Kapper não se deu ao trabalho de se despir; simplesmente abriu o zíper e expôs o pênis tumescente. Olhou para Jill e sorriu:
─ Que beleza de traseiro. Vire de costas.
Jill procurou algo em que se apoiar. Diante dela estava a máquina de gargalhadas, uma mesa sobre rodas com gravações de riso em fita, controlada por botões externos.