─ Vamos, incline-se.
Jill hesitou por um momento e então se inclinou, apoiada nas mãos. Kapper se aproximou por trás e ela percebeu seus dedos abrindo-lhe as nádegas. Um instante depois sentiu a pressão da cabeça do pênis contra seu ânus.
─ Espere ─ disse ela. ─ Assim não! Eu... eu não posso...
─ Grite para mim, querida!
E ele mergulhou o membro dentro dela, dilacerando-a com uma dor terrível. A cada grito, ele enfiava mais fundo e com mais força. Ela tentou desesperadamente escapar mas Fred segurava-lhe os quadris, entrando e saindo sucessivamente, apertando-a com firmeza. Jill perdeu o equilíbrio e, quando procurou se apoiar, seus dedos tocaram os botões da máquina de gargalhadas e imediatamente na sala ressoou um riso louco. Enquanto Jill se debatia numa agonia de dor, suas mãos socavam a máquina: uma mulher riu baixinho, um grupo de pessoas gargalhou, uma menina deu um riso idiota, uma centena de vozes grasnaram, cacarejaram e gargalharam, rindo de alguma piada secreta e obscena. O eco ressoou histericamente pelas paredes enquanto Jill gritava de dor.
De repente sentiu uma série de rápidos estremecimentos e um segundo depois a estranha carne foi retirada de dentro dela. Lentamente, os risos cessaram na sala. Jill ficou imóvel, os olhos cerrados, lutando contra a dor. Quando finalmente conseguiu se aprumar e virar-se, deu com Fred Kapper fechando o zíper.
─ Você foi sensacional, querida. Aqueles gritos realmente me excitaram.
E Jill imaginou que espécie de monstro seria ele quando tivesse dezenove anos.
Ao notar que ela sangrava, Fred disse:
─ Vá se limpar e venha ao palco 12. Você começa a trabalhar esta tarde.
Depois daquela primeira experiência, o resto foi fácil. Jill passou a trabalhar regularmente em todos os estúdios: Warner Brothers, Paramout, MGM, Universal, Columbia, Fox. Em toda a parte, de fato, menos no estúdio de Disney, onde não havia sexo.
A papel que Jill criou na cama era uma fantasia e ela representava com talento, como se estivesse desempenhando um papel. Leu livros sobre erotismo oriental, comprou afrodisíacos e estimulantes numa sex shop do Santa Monica Boulevard. Tinha uma loção trazida do Oriente por uma aeromoça, com um levíssimo toque de ervas. Aprendeu a massagear seus amantes, lenta e sensualmente. "Deite-se e pense no que estou fazendo em seu corpo", murmurava. Passava a loção no peito do homem, descendo pelo estômago até a virilha, em suaves movimentos circulares. "Feche os olhos e aproveite."
Seu dedo era leve como uma asa de borboleta, movendo-se pelo corpo do homem, acariciando-o. Quando a ereção começava, Jill segurava o pênis e afagava-o delicadamente, passando a língua entre as pernas do homem até fazê-lo torcer-se de prazer; depois continuava lentamente até os dedos dos pés. Em seguida fazia-o virar-se e começava tudo de novo. Quando o membro de um homem estava flácido, Ela o colocava entre os lábios da vagina e fazia-o penetrar lentamente, sentindo-o crescer e endurecer. Ensinou aos homens a técnica da cachoeira, como se excitar ao máximo e então parar imediatamente antes do orgasmo, para tornar a se excitar, repetidas vezes, e quando o orgasmo finalmente era atingido, vinha como uma explosão de êxtase. Os homens tinham seu prazer, vestiam-se e iam embora. Ninguém jamais ficava tempo suficiente para proporcionar a ela aqueles adoráveis cinco minutos do sexo, o calmo abraço de depois, o pacífico oásis nos braços de um amante.
Dar a Jill pequenos papéis nos filmes era um preço baixo a pagar pelo prazer que ela proporcionava aos diretores de elenco, aos assistentes de direção, diretores e produtores. Ela passou a ser conhecida na cidade como um "quente pedaço de traseiro" e todo mundo queria abocanhar sua parte. E Jill deixava. A cada vez que o fazia, havia nela menos amor e dignidade, mais ódio e amargura.
Não sabia como nem quando, mas tinha certeza de que um dia essa cidade lhe pagaria por tudo que lhe fizera.
Durante os cinco anos que se seguiram, Jill apareceu em dúzias de filmes, programas de televisão e comerciais. Era ela a secretária que dizia: "Bom dia, Sr. Stevens'; a baby-siter que assegurava "Não se preocupe, divirtam-se que eu porei as crianças para dormir"; a ascensorista que anunciava "Sexto andar" e a moça com roupas de esquiadora que afirmava "Todas as minhas amigas usam Daintie". Mas jamais aconteceu coisa alguma. Ela era um rosto sem nome na multidão. Fazia parte do Negócio mas ao mesmo tempo estava de fora, e não podia suportar a idéia de passar o resto da vida dessa maneira.
Em 1969 a mãe de Jill morreu e ela foi a Odessa para o funeral. Era fim de tarde e havia menos de uma dúzia de pessoas presentes ao serviço fúnebre, dentre os quais não se contava nenhuma das mulheres para quem a mãe de Jill trabalhava durante todos aqueles anos. Havia alguns beatos da igreja, aqueles agourentos. Mas fora entre eles que a mãe de Jill encontrara alguma espécie de consolo, o exorcismo dos demónios, fossem lá quais fossem, que haviam atormentado.
Uma voz conhecida falou suavemente:
─ Alô, Josephine.
Ela se virou e deu com ele a seu lado. Olhou em seus olhos e foi como se nunca se tivessem separado, como se ainda pertencessem um ao outro. Os anos haviam deixado a marca da maturidade em seu rosto, acrescentando um toque cinza a suas têmporas. Mas ele não mudara, ainda era David, seu David. Entretanto, eram estranhos.
─ Sinto muito sobre sua mãe ─ dizia ele.
Jill ouviu-se responder:
─ Obrigada, David.
Era como se estivessem recitando as falas de uma peça teatral.
─ Quero falar com você. Pode se encontrar comigo esta noite?
Havia uma urgência de súplica na voz dele. Jill pensou na última vez em que haviam estado juntos, no desejo dele, na promessa e nos sonhos e respondeu:
─ Está bem, David.
─ No lago? Você tem carro?
Ela assentiu.
─ Encontrarei você lá, dentro de uma hora.
Cissy estava de pé diante do espelho, nua, prestes a se vestir para um jantar, quando David chegou em casa. Ele entrou no quarto e ficou olhando para ela. Podia avaliar a esposa com total frieza, pois não sentia qualquer emoção com relação a ela. Cissy era bonita; havia cuidado de seu corpo, mantendo-se em forma com dieta e exercícios. O corpo era seu principal triunfo e David tinha razões para crer que era liberal em partilhá-lo com outros, o treinador de golfe, o professor de esqui, o instrutor de pilotagem. Mas não podia culpá-la. Fazia muito tempo que não ia para a cama com ela.
No começo, realmente acreditara que lhe daria o divórcio quando Mamãe Kenyon morresse. Mas a mãe de David estava viva e saudável, e ele não tinha meios de saber se fora vítima de um truque ou se havia ocorrido um milagre. Um ano após o casamento, David dissera a Cissy:
─ Acho que está na hora de conversarmos sobre o divórcio.
─ Que divórcio? ─ respondera ela.
E ao ver a expressão de espanto no rosto dele, começara a rir.
─ Eu gosto de ser a Sra. David Kenyon, querido. Você acreditou mesmo que eu iria desistir de você por aquela prostitutazinha polonesa?
David dera-lhe um tapa.
No dia seguinte, fora conversar com seu advogado. Ao terminar o que tinha a dizer, o advogado falou:
─ Posso conseguir-lhe o divórcio. Mas se Cissy está disposta a segurar você, David, vai custar tremendamente caro.
─ Providencie-o.
Quando lhe entregaram os documentos do divórcio, Cissy trancou-se no banheiro e tomou uma dose excessiva de comprimidos para dormir. Foi preciso que David e dois empregados arrombassem a pesada porta. Durante dois dias, ela esteve entre a vida e a morte. David visitara-a na clínica particular para onde fora levada.
─ Sinto muito, David ─ dissera ela. ─ Não quero viver sem você. É simplesmente isso.
Na manhã seguinte, ele suspendeu o processo de divórcio.
Isso fora há quase dez anos e o casamento de David se transformara numa trégua inquietante. Ele assumira por completo o império Kenyon, devotando todas as suas energias à direção dos negócios. Encontrava alívio físico na série de garotas que tinha nas várias cidades do mundo às quais seus negócios o levavam, mas jamais esquecera Josephine.